Livros de 2023 - Dark Kitchens - Os gatos - Outros.
Múmmu, Tiámat, um papagaio e Apsu entram em uma taberna (taverna, locanda, tasco ou tasca) de Uruk...
O v(3), n(67) da newsletter chegou. O Natal está próximo mas, sabe, ainda não estou vendo o pessoal com aquele espírito de solidariedade. Paradoxalmente, dizem que o ‘amor venceu’, só que o amor não vence se alguém associa o sentimento a um político. O político venceu. O amor? Não sei. Acho que respira, mas anda combalido, cansado e um pouco desanimado.
Livros de 2023 - Este foi um ano atribulado. Boa parte dos livros que eu queria ler ou terminar de ler ficaram no meio do caminho. Alguns, literalmente, estão no meio do caminho, empilhados no chão, já que ainda não tenho uma nova biblioteca em casa. Ainda assim, vamos tentar nos lembrar de alguns livros lidos em parte ou totalmente.
A inocência do padre Brown - Chesterton não é Wodehouse, mas também é bom de se ler. Pelo menos no que diz respeito ao detetive-padre. Nunca li mais nada de Chesterton, mas já comecei o segundo livro, A sabedoria do padre Brown. Recomendo? Claro.
Sol e Aço - Mishima em um livro que li aos 20 anos e já dele não me lembrava. Ali está sua teoria sobre a beleza física e a morte. Foi uma personalidade excêntrica, polêmica e sua morte (suicídio) é mais complexa de se entender do que o que transparece em umas interpretações rasas, ‘youtubescas’.
The life and death of Yukio Mishima - De Henry S. Stokes, é um estudo sobre o autor de Sol e Aço mencionado aí no alto. Aliás, o Orlando me presenteou com outro livro do famoso autor que entrou na fila de leitura.
O salmão da dúvida - Douglas N. Adams morreu antes de compilar os textos deste livro. Ainda assim, o editor conseguiu reunir pequenos ensaios divertidos do maravilhoso Adams. Li alguns, mas não tudo. Também comecei outro livro de Adams, mas li muito pouco ainda.
Epopeia da Criação (Enuma elis) - Pelo mesmo tradutor de Gilgamesh, Jacyntho Lins Brandão, a epopeia, em si, é pequena e o legal do livro são os comentários do tradutor que - confesso - li seletivamente. Teogonia e cosmologia dos babilônios em uma bela edição.
Contos tradicionais do Brasil para jovens - Do grande folclorista, Luís da Câmara Cascudo, é mais um daqueles livros que você pode ler entre um livro e outro porque, afinal, são contos. Há uns divertidos por lá.
História da Riqueza no Brasil - Reli este - para mim um - clássico de Jorge Caldeira. O livro serve para um curso de história econômica do Brasil por dois motivos: modernizar a literatura com os achados recentes de pesquisas e por combinar com a teoria econômica das instituições (Douglass North, Lee Alston etc.) que é a base mais útil para a compreensão dos fenômenos econômicos quando o foco é na história e no desenvolvimento das sociedades.
O ano de 2023 não foi muito pródigo em leituras, muito por conta do trabalho intensificado e da vida coada. Quem sabe, se houver um amanhã, né?
Dark Kitchens - Foi publicado o relatório da pesquisa do prof. Cristiano Oliveira. O tema são as dark kitchens. A cidade de São Paulo, por meio de seus vereadores, resolveu criar uma regulamentação específica para as mesmas. Há um bom motivo para isto, já que existem, de fato, externalidades negativas neste processo produtivo como o barulho dos entregadores (estas cozinhas se localizam em zonas comerciais ou residenciais) e o cheiro nem sempre desejado dos produtos.
Ocorre que regulações, quase sempre, podem ter consequências não-intencionais que podem piorar a situação. No caso em questão, os políticos resolveram que novas dark kitchens (um recado aos novos empreendedores: os mais antigos já têm uma proteção…) com mais de dez cozinhas devem se localizar em zonas industriais, ou seja, estão - eu aposto que quase certamente - fadadas ao fracasso.
Mais ainda: caso não fracassem, seus entregadores percorrerão um caminho muito mais longo, o que significa mais poluição (e lembre-se que a administração federal do presidente da Silva quer dificultar a importação de veículos elétricos, seguindo uma visão desenvolvimentista idêntica à dos governos militares. Nestas horas, os tais ôdêésse vão pro brejo, brou!).
Não é fácil criar regulamentações, mas sabemos o básico. Digo, nós sabemos. Quem faz, nem sempre. Ou às vezes até sabe, mas a pensa para favorecer algum grupo que não seja o dos consumidores (porque depois pode jogar a culpa no ‘empresário brasileiro que não inova e maltrata seus empregados que, vejam só, não foi capaz de se adaptar à regulamentação…’).
Os gatos - Viviam no jardim da praça, todos os quatro. A vizinhança cuidava deles dividindo os custos da ração e fornecendo-lhes água. Eram um laranjinha, um tricolor, uma frajola e um branco com nuvens….digo…manchas cinzentas.
Passeavam pelo jardim à noite e dormiam durante quase todo o dia, exceto quando encontravam algum passarinho infeliz que se transformava em caça para os quatro.
Miavam para aqueles que os conheciam e deles cuidavam e também para os que eles não conheciam, mas que por eles se afeiçoavam. Formavam uma pequena família e não era possível levar um deles ao veterinário sem levar os outros e, claro, não era fácil levá-los ao veterinário. Era mais fácil pagar ao profissional para que viesse checar a saúde e as vacinas dos bichanos.
Um dia ele chegou, novato no bairro, e conheceu a turma. Sendo simpático à causa felina, prontificou-se a ajudar nos cuidados com os quatro novos amigos que preencheram seu coração cansado de forma que a eles fez alguns versos sem rima aparente transformados em música cantada no caminho de casa até a praça, evocando as aventuras de deuses felinos na Mesopotâmia e a criação do universo. De tanto cantar e, às vezes, assobiar a melodia, os gatos passaram a identificá-lo facilmente.
A cada um, pois, deu um nome. Laranjinha virou Gilgámesh. Marduk, o tricolor. Ishtar, a frajola e, bem, o último, branquinho com manchas cinzas - manchas que a ele pareciam nuvens - ganhou o nome de Lugaldurmah pois a ele parecia-lhe ser majestoso este último bichano.
Nunca se soube se os quatro atendiam pelos complicados nomes que lhes foram atribuídos pelo amável (mas nem sempre amado, por vezes odiado) senhor de coração cansado, embora algo de cumplicidade tenha se desenvolvido entre eles após algum tempo.
Esta história babilônica poderá ter continuação…
Sandbox regulatório - A Almedina está (ou estava) com uma real promoção de black friday: todos os livros pela metade do preço. Comprei um do pessoal da Universidade Católica de Brasília sobre sandboxes regulatórios que, não surpreendentemente, são analisados sob uma perspectiva teórica novoinstitucional. Que beleza, hein?
p.s. a editora cancelou minha compra sem maiores explicações. O consumidor não é mais importante na era do progressismo brasileiro. Vai entender…
Liberdade de expressão - O Diogo falou por uma hora - e você não consegue parar de ouvir, acredite! - com a Madeleine sobre um tema que nossos progressistas-fascistas adoram criticar porque, sabe como é, só pode ser estiver do lado certo (uau, viva a siênçia!) da história. Nem Karl Marx admitiria isto…
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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