Ler ou não ler...(ainda dá tempo, foge!!)
Escolha, meu bem, escolha / a confiança está em algum lugar / Escolha, meu bem, escolha / há um preço para tudo a se pagar...
Neste segundo número do primeiro volume (é, eu defini assim) vamos começar com uma poesia cheia de trade-offs. Depois, outra sugestão de livro que deveria ser traduzido e, finalmente, uma dica de cinema, digo, filmes.
Ah sim, não custa deixar o convite para assinatura aqui no alto da newsletter. É como o “clique no like, ative o sininho” lá no início dos vídeos do YouTube.
Sem mais delongas, eis o poema da imortal Cecília Meireles, datado de 1964. O título? Ou isto ou aquilo.
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Sim, eu sei. Você provavelmente pensou que teria sido sensacional se sua aula de Introdução à Economia tivesse começado com ele. Talvez, em algum lugar do Brasil, algum professor mais experiente, tenha começado sua aula de Economia com este poema (mas este iluminado não sou eu). Eu nunca tive esta ideia porque este belíssimo poema esteve, por muito tempo, trancado no porão empoeirado das minhas memórias de infância.
A propósito, que tal experimentar as escolhas deste poema? Clique aqui e divirta-se (?).
Dando sequência ao um livro que eu gostaria de ver traduzido por estas bandas, a minha recomendação é o The Trust Revolution: How the Digitization of Trust Will Revolutionize Business and Government de M.Todd Henderson e Salen Churi, de 2019.
Escolhi dois insights que me vieram da leitura: (a) a competição do Uber (Buser) não é com os taxistas (empresas de ônibus), mas sim com as autoridades reguladoras e; (b) governos “grandes” (obesos?) são mais complexos e menos transparentes do que governos pequenos.
O motivo da minha escolha: o ponto central do livro é que a revolução dos aplicativos é uma revolução na oferta de uma celebrada característica das sociedades: a confiança (trust). Não se vai, pelo menos não no médio prazo, como bem lembram os autores, substituir o Estado-Nação por um amontoado de aplicativos.
Estados obesos pagam um preço mais alto para se adaptarem à revolução tecnológica de terem que competir com aplicativos na oferta de confiança nas relações econômicas da sociedade. Aliás, como você é quem paga impostos, você é que, no fundo, paga um preço mais alto quando seu Estado é mais complexo e menos transparente…
Mas isto não é algo assim tão novo, não é? Antes dos aplicativos nós tínhamos, já na era da internet, o ReclameAqui (cujo fundador faleceu por estes dias) e várias das disputas entre consumidores e vendedores são resolvidas muito mais rapidamente nesta plataforma do que numa corte de pequenas causas (sem falar no custo muito menor…). Não é à toa que você veja tantas matérias nos portais (inclusive os dos governos) sobre inovação.
Filmes legais para se ver: Aquiles e a Tartaruga e os últimos filmes de mafiosos de Takeshi Kitano, a trilogia formada por Outrage, Beyond Outrage e Outrage Coda.
Livro bom para se ter ao lado: O Guia Brasileiro de Análise de Dados, editado pelo Pedro Nery, Leo Monasterio e eu (um pouco de auto-propaganda…).
p.s. experimentalmente, para testar algumas configurações, esta newsletter está indo para você mais cedo do que eu esperava. Não se aflija, a frequência não será diária.
Muito Legal! Parabéns!
Excelente, Shikida! Vou ler constantemente! Um grande abraço!