Leitura - Escolha Pública - Um conto futuro - Karaokê - Outros = 34.8
"Não sou eu que ando fora de época: é a época" (Campos de Carvalho)
Eis o v(2), n(89). Estou ficando velho. Acho que é mesmo o octogésimo-nono do segundo volume (os volumes são anuais, não sei se já expliquei). Bem, sem mais delongas…
Já ia apertar o botãozinho de envio da newsletter para todos quando me lembrei que ainda não havia calçado as meias. Que tipo de pessoa faz isto, meu Deus!?
Leitura - Ontem, em uma animada conversa com Huguinho, Zezinho e Luizinho (vou omitir os nomes verdadeiros, mas eles sabem quem são), o assunto da tecnologia que não gerou um aumento na quantidade e, mais importante, na qualidade da leitura, emergiu. Eu os três amigos concordamos que há um problema que não é, já adianto, uma percepção errônea dos mais velhos quanto a um suposto dinamismo da juventude (esta que até cancelar as pessoas deseja).
Não, não. Todos nós, aposto, usamos o Kindle, por exemplo. E o leitor digital é ótimo, claro. Mas os alunos não querem ou não sabem mais usar livros. Não usufruem do benefício de se estudar fazendo anotações e a elas voltando com facilidade. Eu sei que você pode anotar nos leitores digitais, mas a, para usar um termo da moda, experiência do usuário não é a mesma.
Professores têm buscado usar a tecnologia para estimular a leitura dos alunos? Claro. Basta passar cinco minutos pesquisando em alguma plataforma digital. Eles têm obtido resultados? Aí a resposta me parece mais pessimista. Eu me lembro de, já em 2015, estar muito preocupado porque havia uma pressão de alunos para que tivessem acesso a slides de aulas, pois não queriam ler os livros-textos ou as apostilas.
O argumento de que olha, isso é a modernidade, o mundo mudou é parcialmente verdadeiro. Porque, no fim e ao cabo, a velocidade de processamento do cérebro de um indivíduo não aumentou (se aumentou, não foi no mesmo ritmo que aquela provida pela tecnologia). Leva tempo para se apre(e)nder algo.
Como esperar que alguém leia textos que exigem muita atenção? Como disse Huguinho, não é possível entender Kant vendo vídeos. Não foi bem isso que ele disse, mas foi esta a mensagem. Zezinho, no seu bom humor, ainda complementou: e nem lendo a gente aprende…
Eu e Luizinho não discordamos dos amigos. Ambos gostaríamos de viver em uma sociedade em que pessoas leem mais do que um tuíte por semestre. Há alguns anos, tivemos uma experiência interessante com um grupo de estudos em uma faculdade na qual lecionamos. Tínhamos alunos de dois ou três cursos diferentes empenhados em ler e debater conosco. Foi um momento de muita felicidade para mim e, creio, para todos nós (incluindo Luizinho, idealizador do projeto, claro).
Não sou o tio Donald, mas me junto a Huguinho, Zezinho e Luizinho no apelo para que todos entendam que leitores digitais e livros físicos são complementos, não substitutos e que, saber como usá-los de modo a maximizar o aprendizado é uma arte. Cabe a cada um esforçar-se para ser um hábil artista.
Escolha Pública - A cada dia que passa percebo que a ‘Public Choice’ (Escolha Pública) merece mesmo ser mais estudada em cursos de Economia. Não falo da econometria (pesquisas sobre ciclos político-econômicos, por exemplo). Esta já está bem sedimentada. A tecnologia barateou o custo de processamento computacional e nós respondemos ensinando mais da técnica e da teoria econométrica para os alunos.
Entretanto, a percepção de que o homo economicus não se restringe aos problemas de mercado, servindo também para explicar as motivações de burocratas, juízes e políticos ainda me parece pouco apreciada. Veja, eu sei que as notícias nos jornais (e o próprio comportamento dos jornalistas) gritam por isto. Contudo, a tecnologia que barateou o uso da econometria aplicada não nos trouxe mais questionamentos teóricos por parte dos alunos.
Sinto que muita da confusão mental dos alunos sobre o comportamento das pessoas em problemas de decisões coletivas (aquelas que, em geral, envolvem grupos de interesse, regras de votação, etc.) desapareceria se estudassem um pouco mais do tema.
A agenda de pesquisa não é nova e, em minha opinião, consolidou-se apenas em parte. Quero dizer com isto que temos ótimos trabalhos empíricos (quem me conhece sabe o quanto gosto e valorizo trabalhos empíricos com métodos quantitativos). Não sou destes que, por nunca ter estimado um modelo econométrico mais complexo, sai por aí criticando os fundamentos da pesquisa (tentando, claro, dizer que suas pesquisas é que são o ó do borogodó).
Apenas acho que há espaço para uma reflexão conceitual mais rica do que a troca de memes e que alcança um público mais amplo do que apenas o que curte a econometria aplicada. Sempre me lembro de McCloskey comentar, elogiosamente, que James Buchanan era o único economista que lia cadernos de cultura de jornais. Bem, você não precisa ler cadernos de cultura, mas acho que a mensagem é clara.
Um conto futuro - Um conto futuro incluiria a chefe da gangue, a loiraça de curvas insinuantes (aquelas em que concavidades e convexidades estão nos lugares certos), Leopoldina Três-Oitão, com sua pistola de ouro. Teria Matt Hardley, especialista em assassinatos, residente em Copacabana há uns 8 anos e também Tonhão Chá Preto, braço direito de Leopoldina e seu principal assecla.
Todos eles viveriam em uma boate decadente, fachada de um cassino clandestino, em um obscuro ponto do Rio de Janeiro. Matt mataria suas vítimas com tiros certeiros ou marshmallows envenenados. Tonhão Chá Preto dissuadiria a concorrência com visitas violentas, em que usaria um chicote como arma.
Quem sabe, no futuro?
<Pula pro futuro>
Bem, ainda não escrevi o conto. Se eu pudesse falar comigo mesmo no passado e ver no que pensei…
<Pula pro passado>
Puxa, acho que uma boa história com estes personagens poderia se dar em torno de um novo nicho para o crime carioca. Sei lá, o contrabando de kiwis? Não, não sei. Ah, no futuro eu penso nisso.
E assim é que surgem as falsas memórias ou a frustração de não se saber onde foi que você guardou aquela idéia (com acento, com acento, revolte-se!) que, na verdade, nunca existiu.
Karaokê - Um lugar onde trocamos parte da tristeza por música. Eventualmente, até se conhece pessoas que se tornam conhecidos. É também o local onde se deixa um pouco do dinheiro em troca de momentos de diversão, seja cantando ou ouvindo os outros cantarem.
Não é, de modo algum, um palco para competição de quem canta melhor embora, no fundo, todos nós não queiramos fazer muito feio diante de uma platéia. É um local para obter algum relaxamento. Renovar as energias.
O karaokê nem sempre é o melhor programa da noite, eu sei. Para mim, contudo, é um dos melhores. Acho que, na outra vida, deve existir um karaokê. No céu e no inferno. A diferença é que, no inferno, você nunca acerta o tom.
Incenso - A fumaça do incenso, com ajuda de um vento, por mais fraco que seja, realmente evoca imagens de espíritos voando, como nos filmes. Certamente, isto já foi escrito em livros de grandes autores ou em diários de nós, da plebe. Mas que é bonito de se ver, é.
Houve renovação no Congresso? - Acho que já mencionei aqui. Agora, com o vídeo.
Tudo o que eu não gosto é nazismo (ou Hitler) - É moda acusar qualquer pessoa de nazismo. Barbara mostra o problema principal disto: a pressa de quem, supostamente, deveria ter como pressuposto para um bom trabalho, a cautela. Nem vou comentar sobre a ideologia porque sabemos que há uma desigualdade de ideologia nas redações de jornais.
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Dragon Ball Z - Você já pode ter seu momento de Frieza.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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