Laura - Davi e Sushi - Censura? Não! - Setembro Amarelo - The Killer - IA e o futuro - ELIB - A Ilha da Páscoa - Autoritários.
Zacharias de Góis e Vasconcelos, José Bonifácio de Andrada, Tavares Bastos e Renato Gaúcho entram em um bar.
Este é o v(4), n(41) desta newsletter, que não censura humoristas e nem se esforça para lhes tirar o ganha-pão, mesmo que suas piadas sejam grosseiras aos meus ouvidos. Fazer o quê, né? Ah sim, sobre os últimos acontecimentos, sugiro renomear o grupo terrorista para Hez-bum!-llah.
Laura - Naquela primavera as flores pareciam-lhe mais belas. Caules mais firmes e cores mais brilhantes. Laura ainda comemorava o novo emprego do pai, que finalmente iria poder trazer um pouco mais de dinheiro para a família. Foi naquele tempo que ela e seus pais puderam dividir um bife na janta, pelo menos duas vezes por semana. Ela sempre se perguntou se, após a nova vida, sua visão teria melhorado com a proteína da carne e, por este motivo, as flores lhe parecessem mais belas? Assim eram suas lembranças daquele tempo.
Do alto de seus 8 anos de idade, a alegre Laura acordava cedo, tomava café, brincava com o cachorro Bolinha e com Atum, o gato da família. O dever de casa era feito, um pouco a contragosto, ainda antes do almoço pois, a tarde era o período do dia dedicado à escola e, um pouco antes do pôr-do-sol, Laura retornava para sua casa caminhando com as amigas. Passavam pela igreja, pelo mercado e subiam a rua principal da cidade onde, aos poucos, as crianças se separavam nas ruas laterais.
Laura era recebida pela mãe, por Bolinha e Atum. Até a hora do jantar, brincava com os dois animais o que só lhe aumentava a fome. O pai chegava do trabalho na serraria uns vinte minutos depois e todos jantavam, conversando sobre o que havia ocorrido no dia de cada um. Às vezes, quando conseguiam economizar, a mãe surpreendia a todos com uma sobremesa e, depois, dormiam.
Esta era a vida de Laura. Nada parecida com as das Lauras de hoje…
Davi e Sushi - Davi nasceu em uma noite chuvosa, fruto do amor de José e Mariana. No mesmo dia em que nasceu, a mãe de Mariana encontrou uma caixa de papelão com um filhote felino branco com manchas cinzentas e pretas que chamou de Sushi que era exatamente o que havia encomendado para celebrar a vinda de seu neto ao mundo.
Pouco depois de sair do hospital, os três foram para a casa em que moravam, nos fundos da casa da avó materna. Davi e Sushi se encontraram após mais ou menos um mês de vida, em uma manhã de segunda-feira. Sushi, muito carinhoso, observava curiosamente o bebê que, igualmente curioso, sorriu o sorriso doce dos bebês que todos - garanto - já vimos ao menos uma vez na vida. Sushi se aproximou da cadeirinha onde Davi estava sentado e miou baixinho, tentando alcançar Davi que, por sua vez, sorriu para aquele ser até então desconhecido.
Os meses se passaram e a relação de amizade entre Davi e Sushi se desenvolveu. Era como se ambos falassem uma linguagem própria. Não que se entendessem o tempo todo, mas, sem dúvida, tinham uma comunicação melhor do que a da avó ou da mãe com o gatinho. Davi e Sushi eram sempre vistos caminhando pela casa. Certa vez, o pai chegou correndo, louco para usar o banheiro, e encontrou, para seu desespero, Davi e Sushi destruindo o papel higiênico.
A infância logo ficou para trás e Davi chegou à adolescência. O menino bonzinho não se transformou em um adolescente muito problemático. A educação de José, Mariana e da avó havia sido muito bem absorvida pelo rapazote e, desconfio, a presença de Sushi foi um fator positivo. Nas noites de angústia - e adolescentes têm muitas destas - Davi conversava com Sushi, que já era um ‘jovem senhor idoso’, de 14 anos. Sushi brincava menos nesta idade, mas jamais deixava de acompanhar Davi quando este estava em casa.
O que tantos colegas e amigos enfrentavam sozinhos - ou com a ajuda de psicólogos - Davi enfrentava conversando com Sushi, ora acariciando-o, ora observando-o limpar-se com a língua. Davi estudava na escrivaninha do quarto acompanhado por Sushi que, ou dormia ao lado dos cadernos, ou andava para lá e para cá na janela telada, miando de quando em vez.
Sushi deixou a vida da família tal e qual quando chegou: em outro dia chuvoso. Davi, mais do que os pais e a avó, sentiu bastante a partida de seu amigo. Enterraram-no no quintal, sob o pé de laranja que Davi plantara quando criança. Mesmo após sua morte, Davi continuou conversando com Sushi. Em especial, nos aniversários de sua morte, sentava-se em frente à árvore e passava alguns minutos olhando para o chão, pensativo.
Os anos se passaram, a avó se foi. Depois foram José e, finalmente, a mãe, Mariana. Ainda solteiro, Davi encontrou em sua porta, após voltar da casa da namorada, uma caixa de papelão com um pequeno gato laranja. Mesmo sabendo que Sushi não poderia ser substituído, encontrou lugar em seu coração para o pequeno Nori, nome que lhe deu, pensando-o como um parente de Sushi.
Nori acompanhou Davi em sua curta existência. Aos 28 anos, noivo, foi diagnosticado com uma doença terminal e faleceu com Nori em seus braços e a namorada ao pé da cama.
Nori morreria dois dias após seu falecimento, após recusar toda a alimentação oferecida pela namorada de Davi. Enterraram-no ao lado de Sushi. Dizem que, daquele pé de laranja, fez-se, por muito tempo, o melhor suco de laranja da região.
Censura? Não! - Uma carta contra a censura. Assinada, aliás, também por Bryan Caplan.
Setembro Amarelo - Acabou. Já tá liberado se suicidar, ficar deprimido e tudo o mais. Só não pode é ter um certo tipo de câncer.
Brincadeiras à parte, as campanhas não seriam um problema quando se vê gente querendo te obrigar a fazer parte delas. Entrar na vida pessoal dos outros e tentar forçar sua ‘contribuição’ é parte da cultura de parcela dos brasileiros que acham bonito arrancar dos outros impostos chamando-os de contribuintes. Gente, que, na verdade, não só despreza o significado das palavras como, pior ainda, acha-se no direito de dizer aos outros o que eles podem ou não fazer.
A mentalidade intervencionista tinha diminuído, no país, ao longo dos anos 90. De algum modo, voltou e tem sido alimentada pela extrema-esquerda (veja o que dizem seus candidatos a qualquer cargo eletivo, inclusive, conselhos tutelares ou concursos para juízes). A extrema-direita, curiosamente, não é tão forte neste quesito porque há, por lá, uma tradição de se preservar os direitos individuais que ainda é mais forte do que os que acreditam no vandalismo como um instrumento legítimo de ação.
De todo modo, termino setembro sem me suicidar nem uma única vez.
The Killer - Sim, com alguns spoilers (mínimos, mas…). Baseado no original, John Woo nos entrega um filme que mescla vários de seus trabalhos anteriores em um só. Há Paris com seus quadros em exibições, cenário de Once a Thief (que Woo refilmaria, já no ocidente, ainda nos anos 90 ou no início dos 2000 e transformaria em série). Há um tiroteio no hospital e assassinos em motos com roupas e capacete pretos, como em Hard Boiled. O policial francês, Sey, usa um sobretudo preto como o de Mark (e, depois, seu irmão gêmeo, Ken) em A Better Tomorrow I e II. Não é preciso dizer que o resto do filme se inspira em The Killer, o que é óbvio.
Para mim, Woo reúne elementos de seus melhores trabalhos que são, para mim, aqueles de início de carreira, na Hong Kong dos anos 80. Fui assistir sem expectativas (não havia gostado muito do trabalho dele no Natal passado, o Silent Night), mas acabei gostando. Não é como o original, para mim, ainda insuperável, mas é boa diversão.
IA e o futuro - Há motivos para otimismo.
ELIB - Novo grupo de estudos que merece ser acompanhado se você gosta do tema “Estado e Liberdade”. Aliás, ainda sobre liberdades, veja esta ótima tradução do Xibolete de um texto sobre o Princípio do Dano.
A Ilha da Páscoa - Ao contrário do que pensa o indivíduo da Geração Z que se deseducou por dois anos na pandemia, a ciência não é uma construção monolítica que se faz sem mudanças de rota. Este artigo, por exemplo, mostra que o que se acreditava - até o momento - sobre o colapso ecológico da ilha de Rapanui, foi contestado com novas pesquisas. É, a ciência avança com as pesquisas que nos dão novos dados.
Autoritários - O progressista médio é autoritário? Descubra aqui.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Oi, Shikida. Parabéns pela sua participação no programa Trocando as Bolas, com o Luigi e o Carlão!
Nem lembrava que era setembro amarelo, acho que as campanhas de sinalização de virtude sem nenhum impacto significativo estão mais brandas (amém). Também não me suicidei uma única vez