J-Dramas e K-Dramas. Inteligência Artificial. Sexo na Indonésia. Terrorismo. Não critique políticos! Outros.
Às vezes um salpicão é apenas um salpicão.
Eis o v(2), n(98). Com (não) muita diversão para toda a família, claro.
J-Dramas e K-Dramas - A turma jovem adora estas novelas japonesas e coreanas. Eu mesmo já assisti a vários J-Dramas e, olha, há uns ótimos. Por exemplo, Fumou Chitai, baseada em fatos verídicos, é a história de um soldado japonês que, voltando da Sibéria, passa a trabalhar em uma empresa japonesa, mostrando um pouco do mundo (e do submundo) dos negócios.
A versão a que assisti foi a de 2009 e o personagem principal é inspirado por Ryuuzou Sejima, ex-militar japonês, prisioneiro dos soviéticos por 11 anos e, que, em algum momento, nos anos 70, foi acusado de ser espião da KGB. No J-dorama (J-drama), contudo, este polêmico aspecto não é abordado, senão, salvo engano, superficialmente. Destaca-se mesmo sua importância como estrategista da empresa.
Quanto aos K-dramas, bem, nunca assisti, mas na última segunda-feira vi um drama coreano no duelo contra o Brasil, pela Copa do Mundo. O J-drama foi um pouco antes, com a melhor seleção japonesa até o momento, que teve chances reais de ir às quartas de final, mas parou na incapacidade de se bater pênaltis decentemente.
Inteligência Artificial - O Leo Monasterio resolveu aterrorizar todo mundo com um textinho sobre o tema. Dê uma conferida aqui. Ele acha que a inteligência artificial terá efeitos mistos sobre o emprego. É possível. Afinal, toda mudança tecnológica tem este impacto. A solução, claro, não é impedir a inovação, nem desencorajá-la.
Aliás, há outra mudança tecnológica que tem mitigado efeitos negativos da automação. Trata-se do ensino online. As plataformas estão repletas de cursos que vão de linguagens de programação a aulas sobre como escrever bem. Como já disse Julian Simon - e eu reverbero - há um fator de produção último que nos ajuda na adaptação a mudanças do ambiente. Trata-se da criatividade humana (a mesma que desenvolveu a inteligência artificial).
O que não pode é cercear a criatividade, claro.
Sexo na Indonésia - O governo da Indonésia, que também não se preocupa apenas com a ‘eficiência’ das políticas públicas, acreditando que ‘há muito mais do que eficiência em jogo’, não deixou por menos e, pensando em valores locais, tradicionais e históricos, ignorou estas ideologias estranhas ao país (aquelas ‘estadunidenses’, por exemplo) e mudou a lei: sexo, agora, só depois do casamento. Inclusive para turistas.
Sensacional! Quase aplaudi este exemplo de ‘autodeterminação dos povos’ dado pelo governo da Indonésia! A compreensão de que a lei se impõe ao ‘eficientismo economicista’ ou ao ‘ordoliberalismo’ (ou mesmo ao ‘desordoliberalismo’) eurocêntrico foi perfeita.
Só há um detalhe: como é que o cumprimento da lei será monitorado? Teremos agora os ‘burocratas do nível de motel’? Estará no plano de trabalho dos mesmos a vigilância de casais fora da lei? Haverá metas (e, portanto, indicadores)? Como será a abordagem? Imagino um corredor de hotel no qual um casal de turistas, agora sob a nova lei, está em quartos separados. O burocrata indonésio ficará no corredor? Pobre burocrata…quem poderá ajudá-lo?
Talvez a ‘digitalização’ dos serviços governamentais seja uma saída: cada um terá seu status matrimonial no seu celular e poderá ser aleatoriamente parado na rua para uma blitz de tolerância zero de sexo. Não, não vou descrever como seria o equivalente de bafômetros, no caso, para homens…ou mesmo mulheres, mas poderia ser uma ‘inovação’ financiada pelo governo às custas de impostos (dane-se o teto!). Afinal, a tal Moderna Teoria Monetária (MMT) preconiza que gasto é vida! Política industrial já!
Ainda bem que é lá, bem longe de mim. Claro, é nosso dever apoiar esta heroica iniciativa do povo soberano da Indonésia contra estes ‘direitos universais’ importados e impostos por governos mundiais de corte euro-américo-cêntrico. Afinal, minha Indonésia, minhas regras e críticos não-nativos não têm lugar de fala para criticar (ou mesmo fazer sexo, exceto se com seus cônjuges).
p.s. eu me lembrei de Hegel e de como o Espírito (escreva em minúsculas e ganhe haters na filoso..digo, Filosofia) avança, ao longo da história, não sem se aproveitar de imperfeições das etapas anteriores, restolhos que, às vezes sobrevivem ao movimento dialético. Achar que leis não têm consequências (eis aí o mantra do pessoal da Análise Econômica do Direito que tanto incomoda os ‘não-eficientistas’) é uma destas ruínas da história. Ok, não sou filósofo e nem conheço Hegel a fundo, mas não resisti…
Bases de Dados: terror com armas químicas, biológicas, radiológica e nucleares - Eis uma nova e interessante: The Violent Non-State Actor Chemical, Biological, Radiological, and Nuclear (CBRN) Data Portal. Desta base obtive o seguinte gráfico.
São poucas observações (ainda bem) e, pelo visto, há uma discreta queda no agregado dos eventos após o pico de 1998. Melhor dizendo, há uma média mais ou menos (não calculei, ok?) em terno de 25 eventos em 1992-2006 seguida de uma queda para algo em torno de 14 eventos no período 2007-2020.
Por que isto acontece? Não sei. Quão sérios são os erros de medida desta variável? Não sei. Ainda assim, vale a pena dar uma olhada na base.
Outro exemplo: não sabemos muito sobre o nível educacional dos terroristas nesta base de dados (e estamos falando de armas que exigem algum grau de instrução para seu correto manuseio).
Confira mais lá no site deles.
Não critique políticos! - Tenho sentido uma certa complacência com o avanço dos ataques à liberdade de expressão no país. Onde estão aqueles que - com razão, aliás - diziam que não é porque ela estava de minissaia que podia ser estuprada? A pergunta procede? Procede. O mesmo critério se aplica à liberdade de expressão: não é porque ela te ofende que ela merece ser calada.
Aliás, ouvi dizer que alguns políticos andam excitadíssimos com um certo projeto de lei que, supostamente, cercearia a liberdade de expressão. Dei uma olhada e, de cara, eu me lembrei de alguns críticos do Escola Sem Partido reclamando de que seria impossível um ensino de ‘todas as visões de mundo’. No entanto, os mesmos críticos, agora, estão em silêncio quando, no projeto mencionado, lemos que não se pode…
[Art. 10.] Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer grau, por conta de sua orientação política (…).
Ou será que haverá um catálogo de ‘orientações políticas’ plural o suficiente que possa incluir socialistas, liberais, conservadores, nazistas, fascistas, comunistas, social-democratas, democratas cristãos, pessoas que se identificam como cachorro, etc.?
Talvez o projeto não seja tão radical como pensam, mas está longe de ser um ‘pacotão da democracia’, como alardeiam seus entusiastas.
As leituras - Falei que estava num apagão, né? Nesta semana eu retomo. Pode deixar. Vou seguir como Monsenhor Quixote, do Graham Greene. Também estou lendo uma biografia de Yukio Mishima (no Kindle) e começarei o A Crise da Política Identitária, organizado por Antonio Risério.
Cinema - Eis aí o Lady Snowblood (há em DVD, por aqui…recomendo) com a belíssima Meiko Kaji (se você viu Kill Bill, reconhecerá isto aqui).
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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