Humphrey, Ingrid e Eu - Parte 2 (Gran Finale). Juó Bananére (programação da semana). Planeta dos Macacos. Ludovico, o neurônio peralta. Outros.
O sete Settembre é una robba che fiz a independenza do Brasile e inscunhambô co Portogallo (Juó Bananére, O Pirralho, 1912)
Bem-vindo de volta, amigo leitor. Espero que esteja bem. Em suas mãos (ou em sua tela) o v(2), n(68) da newsletter deste velho que insiste em manter jovem, ao menos, o que resta de espírito nesta carcaça.
Humphrey, Ingrid e Eu - Parte 2 (Gran Finale) - Previously, in Humphrey, Ingrid e Eu, eu (ou seja, o cuidador) cuidei dos felinos por três dias. Muitas aventuras e diversão. Confrontos intergalácticos e batalhas épicas. Amores e separações. Tudo isso, supostamente, ocorreu no período (veja o número anterior desta news para detalhes).
Fique agora com a conclusão desta história.
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No quarto dia inverteu o horário. Afinal, era sábado. A bem da verdade, poderia ter ido à noite, mas não resistiu a visitar Ingrid e Humphrey no horário do almoço (ou pouco antes do almoço porque ninguém resiste a estes felinos, o que torna a definição de ‘horário do almoço’ muito mais elástica do que o exigido por definições…).’’
Ingrid e Humphrey já estavam mais acostumados a ele e ao arranhador. À sua frente, divertiam-se, tentando tirar de dentro do mesmo as duas bolinhas de plástico. Aliás, uma delas estava no chão do banheiro quando chegou naquela ensolarada manhã.
Após esvaziar as tigelas de ração úmida, lavá-las e secá-las, preparou a nova mistura, aos olhares ansiosos de Ingrid. Humphrey, por sua vez, parecia mais disposto a brincar de esconde-esconde. Uma variante, o pega-pega, ocupou boa parte da manhã dos três. Sentia-se bem na companhia de ambos que, ao seu modo, também pareciam apreciar sua companhia.
Foi-se embora feliz com a amizade do casal, cada vez mais sincera.
…
Como havia deixado todas as luzes apagadas, foi na manhã de domingo mais cedo, para ver como estava o simpático casal. Deu uma varrida no apartamento (sim, porque o aspirador não era suficiente para tudo aquilo que parecia, majoritariamente, sair do corpo de Humphrey).
Havia levado um pão de queijo para o café da manhã (já se entupira com duas xícaras de café e uma de chá verde mais cedo). À mesa notou que os dois estavam sobre a mesa (não confundir com sobremesa, não se come pudim de gatos, ora!). Ingrid pareceu curiosa quanto à iguaria mineira e Humphrey não pareceu ter se importado muito e aproxiomou-se apenas para cheirar sua outra mão.
Fez uma bolinha de papel com o pacote da padaria que se transformou, primeiramente, na brincadeira de Ingrid. Aos poucos, com certo ciúme, Humphrey tentou se impor mas, maior e mais gordo, não era lá um grande competidor. De todo modo, foi necessário dividir a atenção entre ambos para mostrar que a amizade sincera que cultivava pelo casal não é como o amor (o amor, correspondido ou não, é ciumento e não é preciso ser um especialista em literatura para saber disto).
Ingrid, aliás, passou toda a manhã trazendo a bolinha para que a brincadeira se reiniciasse. Com muito custo, conseguiu terminar um capítulo e iniciar outro de Sem dramas, Jeeves, de P.G. Wodehouse que levara para auxiliá-lo na tarefa de cat sitting daquela manhã dominical (a leitura seria encerrada após um tempo na lavanderia seguido de breve leitura no sofá, no final de noite, no sexto dia desta saga).
Lá pelas tantas, pegou o notebook e colocou algumas trilhas sonoras que, imaginava, combinariam com o clima de cumplicidade que imaginava compartilhar com o casal (claro que pesou a vontade de cantar em um karaokê, mas conteve-se em respeito aos vizinhos).
Brincaram a três ou aos pares por um bom tempo. Pensou até em testar o Paradoxo de Arrow (tecnicalidades…) da impossibilidade de se construir uma função de bem-estar social (o exemplo requer três indivíduos com preferências distintas sobre três itens em votação), mas desistiu porque os felinos pareciam ter a mesma ordenação de preferências que a dele.
(o parágrafo anterior não terá despertado o bom humor do leitor. Talvez apenas o ódio. É esperado que assinantes cancelem a assinatura ou iniciem uma campanha pela decapitação do autor. A conferir.)
Após um breve almoço fora de casa voltou para ver como estavam. Notou uma certa decepção dos eminentes felinos com sua iminente partida, a despeito dos agradecimentos e sorrisos.
No sexto dia, deparou-se com um vômito de uma bola de pelos. Dados os modos refinados de Ingrid deduziu, sem muitas evidências, que talvez Humphrey fosse o responsável. Limpou e aproveitou para passar um pano molhado pela residência não sem antes dar uma varrida e uma aspirada embora, claro, a quantidade de pelos, como já dito na parte 1 deste relato, fosse sempre o equivalente a um Humphrey Jr.
Brincou mais um pouco. Explicou-lhes que sua missão se aproximava do fim e que a hora da despedida tornava-se mais e mais presente do que futuro (e o passado, bem, não se muda o passado, meu amigo). Com um aperto no coração, lembrou-lhes que deveriam ser bons com sua dona, que estivera ali apenas por alguns dias e que, portanto, o ‘adeus’ era a palavra que usaria ao se dirigir a eles pela última vez.
Ingrid e Humphrey escutaram-no atentamente (ou ao menos assim lhe pareceu). Ao longe, o som do motor do avião se fazia mais forte. Ingrid e Humphrey ficaram juntos, olhando enquanto ele girava a chave, abrindo a porta do apartamento. Do lado de fora, uma névoa espessa o esperava.
Saiu caminhando pensando em quão bom seria que houvesse ali o início de uma grande amizade, mas sabia que, na verdade, estaria sozinho no caminho. Notou que a lua estava bonita e que os ipês amarelos já estavam quase todos sem flores. Sorriu para si e pensou que, talvez, algum dia, viesse a rever o belo casal. Afinal, a florada dos ipês é anual. Sumiu pela névoa.
No sétimo dia, descansou.
O Planeta dos Macacos - Sempre gostei muito dos cinco filmes iniciais (principalmente os três primeiros), da série e da série animada. Vi todos quando criança e revi alguns na adolescência. Após a invenção da ‘reprodução a qualquer hora do que você quiser assistir’ (começa no videocassete e segue nos dias atuais), ficou mais fácil revê-los.
Contudo, eu não revi nenhum deles por estes dias. Não, não. Eu li o livro do Pierre Boulle, o original que deu origem ao primeiro filme. É verdade que a versão cinematográfica seguiu o roteiro alterado de Rod Serling (outro monstro da ficção na TV), mas não fiquei com aquela sensação de mal-estar que costumo ter ao ver diferenças tão grandes entre a história original e o filme.
Eu diria que elementos do livro aparecem/inspiram alguns episódios que fazem parte do primeiro e do terceiro filme da franquia original, e também da série animada… e não vou dar mais spoilers. Recomendo, sim, a leitura. Por aqui, a tradução - esta que li - saiu em 2020, pela Aleph, com prefácio à edição brasileira e uns anexos (inclusive uma entrevista de 1972 com o autor). Não é um livro que demande muito tempo. E é divertido.
Juó Bananére em campanha (agora, oficialmente!) - É, pessoal, a campanha começou. Programação da campanha para os próximos dias.
Manhã - Una brutta farra c’os inletôre nu comíssio.
Dispôs di manhã - fijó co arôso na padaria du Pipoca c’os apoiadôre master.
Dispôs di dispôs di manhã - almoço c’os compagneres no Cambussi.
Aóra as gandidatura presidenziale du Bananére p’ro Pranalto ‘stá nu camigno certo!
#juobananerepresidente
Galileu - Tudo o que aprendi no colégio (e em livros antigos), sobre Galileu, aparentemente, não estava correto. É o que se conclui deste ótimo texto do Novaes.
Cérebro na quinta-feira (e Ludovico, o neurônio peralta) - Todo mundo passa por isto. Pelo menos eu acho que passa. Talvez só eu passe, mas, por gentileza, permita-me generalizar. Ao menos para fins humorísticos, ok?
Voltando ao tema, bem, é que você começa uma semana naquele ritmo, cheio de problemas, o trabalho pesado, a sua vida pessoal em chamas e isso tudo cabe na segunda-feira, na terça e na quarta. Digo, cabe assim, daquele jeito. Há quartas nas quais quase tenho que sentar na tampa para a caixa de problemas do cérebro acomodar tudo.
Contudo, na quinta-feira, sim, na maldita quinta-feira, o corpo começa a entregar os pontos e o cérebro precisa agir rapidamente. Da última semana, do fundo dos arquivos empoeirados (sim, meu cérebro é analógico, não usa nem pendrives), encontra-se um ofício enviado para todos os neurônios, com mensagem que, se me lembro bem (digamos que, como é quinta, a lembrança pode estar um pouco deturpada), era mais ou menos assim:
Aí, pessoal. Hoje é quinta. Foi uma semana pesada. Vamos desacelerar um pouco porque só vamos ter dois dias para o descanso e a mulher já disse que precisa trocar a resistência do chuveiro e tem futebol do filho na escola. Então vai ser um final de semana com pouco tempo para descansar.
Considerando tudo isto, peço que todos comecem a desacelerar os trabalhos. Um pouco de calma porque ainda podem chegar novas demandas, ok?
A gerência.
Claro, esta mensagem foi seguida de um aviso, pelo alto-falante, com o seguinte teor:
Ludovico, seu neurônio gordo! Larga aí do pastel! Vai sujar a papelada!
É que Ludovico é um neurônio errado. Sempre faz as sinapses ao contrário. E tudo porque é guloso e está sempre comendo quando deveria estar regulando as descargas elétricas. Ludovico já causou problemas de comunicação com namoradas, chefes e até mesmo o seu Joaquim, o português da padaria.
O problema fica mais agudo nas quintas, claro. Se Ludovico já é atrapalhado por si, imagine-o cansado. Pois foi numa destas quintas-feiras que ele quase gerou um ataque cardíaco porque não resistiu a uma goiabada que Pierre, seu vizinho, deixara sobre a mesa.
Ah, Ludovico… Como dizem os livros infantis, Ludovico é um neurônio peralta.
Ótimos conselhos para superar sua ansiedade - A psicologia evolucionária tem ótimos pontos para se pensar e o Hanania menciona um deles em meio à sua argumentação acerca de como superar a ansiedade pode não ser tarefa fácil mas, por outro lado, está longe de ser impossível.
Despedidas - Eu nunca consigo dizer o que planejo em despedidas. O dia seguinte é sempre um momento em que eu penso: devia ter dito isto, devia ter dito aquilo. É o caso. A espontaneidade é boa, mas seria bom ser um pouco mais sistemático. Como no Aikidô, aprende-se que a espontaneidade vem depois de muito treino. Talvez eu deva praticar um pouco. A conferir.
Música - Encerramos com uma curiosidade: a performance de Kawai Naoko (ops, Naoko Kawai, já que o sobrenome é Kawai, não Naoko e fui redundante só para chateá-lo) e Jackie Chan (sim, ele mesmo). A qualidade da gravação não é lá estas coisas, mas…
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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