Humphrey, Ingrid e Eu - Parte 1. Escola de Shamisen. Música Folclórica Japonesa em Brasília. Web 3.0. Outros.
Os gatos tomaram conta da newsletter e estou sendo mantido como refém. Ajudem-me!
Após uma semana cheia de emoções, chega v(2), n(67) desta newsletter para a alegria (ou decepção) de todos. Neste número, uma certa overdose de gatos porque, bem, porque é a vida.
Diário de um Cat Sitter ou “Humphrey, Ingrid e Eu - Parte 1”) - Chegou o primeiro dia. Quando? Ainda bem que perguntou. Foi numa quarta. Nem terça, nem quinta, mas quarta. Já de posse da chave do apartamento e com as principais instruções em mãos, foi lá cuidar do casal de felinos cujos nomes verdadeiros vamos preservar em prol do anonimato. Alternativamente, podemos chamá-los de Ingrid (eu pensei em Audrey, mas vamos deixar assim) e Humphrey.
Pois bem. Aberta a porta, notou que Humphrey e Ingrid caminhavam pela sala e, obviamente, fugiram ao vê-lo, escondendo-se no quarto. Encheu os potes de rações secas, mas eles não lhe deram muita atenção. A situação mudaria um pouco, ao menos para Ingrid, quando preparou a ração úmida conforme as detalhadas instruções que lhe haviam dado.
Tendo limpado o ‘banheiro’ (ou, como gosto de chamar, ‘privada’) dos distintos felinos, aproveitou para tentar brincar um pouco com eles, com sucesso parcial. Também pensou em conversar com eles (costuma ser educado, em uma primeira visita, buscar conversar com seus interlocutores, não?).
Assim, tentou alternativas como: (a) conversar com eles sobre sua vida; (b) falar-lhes da vida de gatos em geral (destacando o quão eram privilegiados); (c) explicar a diferença do efeito-substituição de Hicks e o de Slutsky (e o quanto isso não é tão importante para mudanças marginais de preço relativo) usando um exemplo tradicional de dois bens com renda e preços exógenos.
Dada sua experiência não muito bem-sucedida de vida e não sendo, aliás, um gato, o que lhe dificultava dissertar sobre o segundo ponto, optou pelo último item. Descobriu, com poucos minutos, que sua coleção de insucessos aumentara pois, aos gatos, só interessava mesmo a cobrinha de pano que tinha em mãos.
Aos poucos Humphrey foi se acostumando. Quando parava de sacudir a cobrinha de pano, quase podia ouvi-lo dizer play it again, Sam. Ingrid, por sua vez, comportava-se com um misto de amistosidade e precaução. A parte de baixo da cama era seu refúgio.
Ao final do primeiro dia, havia, já, uma amizade cautelosa entre os três.
No segundo dia, presenteou o casal com uma ‘rampa-arranhador’. De início, não houve muito impacto. Sequer agradeceram o gracejo. O papel higiênico estava no chão do banheiro, algo destruído. Como previamente informado, era um sinal de que Ingrid teria tido seus momentos de mau humor. Cuidadosamente ajeitou tudo e disse a Ingrid que não se preocupasse. Esta, aliás, ainda desconfiada, como antes, só veio lhe agradar (roçar-se em suas pernas discretamente) quando notou a ração úmida em preparação.
Humphrey, por sua vez, já se deixava ser acariciado e retornava o carinho, com seu jeito bonachão (jeito bonachão, para fins de visualização, caro leitor, é um Humphrey só de calção Adidas, deitado no sofá, com uma lata de cerveja em uma pata e o controle remoto na outra, assistindo TV).
Foi então que resolveu falar um pouco de suas desventuras ao longo da vida o que, obviamente, arrancou bocejos de Humphrey e Ingrid, mais interessados em brincadeiras do que em choradeiras (quem poderia condená-los, né?). Com a descoberta do laser (escondido em um daqueles compartimentos secretos das bolsas femininas que devem ser inspiradas em filmes de espionagem), a relação entre os três tornou-se mais divertida, especialmente para Frida.
Notou que poderia fazer um pequeno gato com os pelos de ambos espalhados pelo apartamento. Outra opção seria a de usar o aspirador e tentar deixar o ambiente mais limpo. Após uma sincera reflexão de alguns minutos (pode ser que tenham sido uns vinte, dado o planejamento mental necessário para se fazer um gato com pelos de outros), escolheu o aspirador, não sem algum arrependimento, embora seu talento para o artesanato fosse um insulto à humanidade.
Brincou mais um pouco com o simpático casal. Antes de deixar o apartamento, agradeceu individualmente pela agradável companhia e paciência. Humphrey estava esparramado no chão, com um ar aristocraticamente tedioso (ou bonachão). Ingrid, elegante como ela só, deitou-se ao lado da fonte de água e pareceu ouvir tudo com atenção, demostrando notável cortesia.
Deixou o apartamento sem olhar para trás. Por que? Porque era melhor assim.
No terceiro dia ouviu o primeiro miau. É que Frida queria mostrar-lhe o quão impaciente estava, na espera pela ração úmida. Tentou sustentar uma conversa sobre os ipês ou algo assim (evitou eleições, religião e futebol, embora Frida tivesse uma cara de quem se interessa por aspectos teológicos do futebol). Ao seu insucesso seguiu-se um curto diálogo convencional do tipo ‘espere um pouco que já lhe sirvo’, ‘paciência que logo, logo chega’ e afins.
Já que estava com seu notebook, aproveitou para colocar uma trilha sonora e, diante do desempenho piorado do aspirador, correu a carregá-lo na tomada. Descartou a areia da caixa, lavou-a e entregou a Ingrid e a Humphrey uma ‘privada’ limpinha. Admirou sua obra por alguns minutos mentalmente se congratulando pela limpeza caprichada. Alguns poucos minutos, digo, já que Humphrey parecia animadíssimo com a idéia de inaugurar sua privada, e assim foi feito.
Quanto às brincadeiras, o laser era um pedido de Ingrid. Humphrey pareceu mais interessado em tentar tirar as bolinhas do interior da rampa o que lhe fazia arrastá-la para um lado e para o outro. Aliás, numa combinação de brincadeiras, mirando o laser no arranhador localizado no lado superior da rampa, conseguiu que Ingrid percebesse a natureza do brinquedo. Ao final do dia, ela já ensaiava uns arranhões na rampa (para a alegria do sofá).
Percebendo que as tigelas de ração seca ainda estavam cheias, descartou o conteúdo do dia anterior, lavou-as furiosamente, enxugou-as (um pouco menos furiosamente), renovou a ração e retornou-as ao seu local, ao lado da parede, na esperança de que Ingrid e Humphrey se sentissem mais valorizados com a louça limpinha (e brilhante) e provassem da deliciosa (suponho) ração.
Ao fim do dia, novamente, despediu-se de ambos agradecendo-lhes por sua agradável companhia. Foi-se embora cantando, mentalmente, algum Enka melancólico (o nível moderado de álcool da cerveja que ingerira durante suas conversas com o casal lhe fez cantar um pouco, mentalmente, claro, no caminho para casa).
Não derramou sequer uma lágrima. Sabia que reencontraria Humphrey e Ingrid em breve.
(pode ser que tenha continuação…não é porque é ‘parte '1’ que tem ‘parte 2’, como nos ensinou Mel Brooks com seu famoso A história do mundo - parte 1)
Mais gatos - É sempre uma terrível decisão a ser tomada nas minhas manhãs. Explico-me. Na portaria do bloco, há janelas à esquerda e à direita, ambos com gatos. Por trás da tela, sempre observam os transeuntes com aquele olhar sério-sapeca que os gatos possuem quando estão em bons ânimos.
E assim, sempre que tenho que sair, eu me perco (ou me acho) brincando com uns e outros por alguns minutos. Tento não causar ciúmes, o que me faz, realmente, gastar alguns minutos com estes pequenos amigos.
Mas o leitor deve atentar para um fato: gatos, como nós, fazem parte da natureza. Alimentam-se de outros animais (ou, se em apartamentos, apenas de ração), buscam sobreviver e gostam de afeto (pensando bem, não são tão diferentes da gente…). O segredo do equilíbrio da vida com eles é nem escravizar, nem ser escravizado. Há um equilíbrio importante aí e cada um sabe onde amarra sua mula.
O mundo não é perfeito, muito menos eu.
Shamisen: aprenda! Propaganda gratuita - O Álvaro, o Rodrigo e o Victor criaram a Sawari, uma escola de shamisen (falei do instrumento musical no último número). Caso você tenha interesse em aprender, eis o contato deles.
São excelentes. Já me ajudaram em muitos treinos e apresentações e, portanto, posso falar com propriedade de sua qualidade (sou grato a Álvaro e Victor por muitos ensaios e dicas e o Rodrigo, provavelmente, já tocou shamisen em alguma apresentação minha nos campeonatos…).
E eles têm anos e anos de experiência nos campeonatos de música folclórica japonesa em São Paulo. É uma geração que não achei que veria perpetuando o ensino do shamisen por aqui (e que bom que eu estava enganado!!).
Ah sim, faltou dizer que eles ensinam no estilo de tsugaru, o que, para quem conhece, é belíssimo. O tsugaru jamisen (assim é lida a junção de ‘tsugaru’ com ‘shamisen’) é um estilo do norte do Japão. Quem já ouviu os Yoshida Brothers? Bem, se você nunca teve esta experiência incrível, olhe, eles tocam no estilo de tsugaru. Mais detalhes aqui.
Aproveite que, aposto, o preço deles é bom.
Mais cultura japonesa - Caso você se interesse por música folclórica japonesa e more em Brasília, converse com o Renan Ventura. Ele tem agitado um grupo de pessoas em torno do tema e se apresentou com o Grupo Min no festival de cultura japonesa de alguns meses atrás (olha um momento descontraído da turma, aqui). Estarei com eles em alguns ensaios? Adivinhe.
Bom material de Economia - É, o Economic Forces, provavelmente, uma das melhores newsletters de Economia e, agora, fez um resumo temático para quem desejar usar seus textos em sala de aula. Recomendo? Óbvio!
Web 3.0 - Você sabe o que é? Um bom guia está aqui.
Uma trise lembrança - A barbárie do ISIS é algo a ser lembrado sempre, para que não se repita e não angarie adeptos.
Nem todo mundo entende - A comunicação nem sempre é efetiva. Às vezes, nem desenhando.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.