Gabriel - José Bonifácio e a Agricultura - Na fila - Challenge Papers - Parafusem as cadeiras! - Bari Weiss
Vis unita fortior.
O v(4), n(40) da newsletter chegou. Com ele, são 318 números, divididos em 4 edições (e alguns extras) ao longo de 4 anos. É uma jornada longa que não tem prazo. Não é uma viagem de 5 anos em busca de novos mundos, novas civilizações. É um pouco mais longa e sem objetivos claros exceto o de trocar idéias (sempre com acento porque sou teimoso) com os assinantes.
Aliás, esta plataforma criou uma categoria, a dos seguidores (followers), que possuem, pelo que entendi, uma interseção com a de assinantes (subscribers). Parece-me que o número de assinantes é um subconjunto do de seguidores e a diferença me parece relevante apenas para aqueles que cobram por seus textos. Seja você um assinante ou um seguidor, espero que continue por aqui. Caso queira comentar algum texto, bem, o botãozinho de comentários está sempre por aqui, mas a plataforma é bem flexível neste aspecto.
Ok, chega de informações de natureza burocrática. Vamos ao que interessa.
Gabriel - Outro dia fui ao meu primeiro show de stand up. Foi uma armadilha planejada por um casal de amigos. Para preservar-lhes a verdadeira identidade, vou chamá-los por nomes diferentes. Ele, Gabriel e, ela, Marília.
Cheguei no local, perto de uma zona nada segura do centro de BH e tive que subir uma escada, o que me deixou com a impressão de que eu teria me enganado e que o negócio ali talvez fosse outro, envolvendo meretrizes e cafetões. A ilusão não durou os 20 segundos em que subi: era mesmo um clube para humoristas (mas, vamos lá, leitor, se redesenharmos um pouco o ambiente, vira um pequeno clube de striptease. Juro!).
Inexperiente, sentei-me guardando o lugar para o casal, e caí na besteira de pedir cerveja e uma porção mista que, na verdade, era muito para uma pessoa. Torresmo, do qual não sou muito fã; batata frita como aquelas de saquinho e amendoins. A cerveja facilitou minha ambientação até que os dois chegassem.
Gabriel e Marília não demoraram muito e foi só chegarem que o show começou. Esta modalidade de humor precisa da platéia (com acento e, aliás, com assentos também) para funcionar bem e não demorou muito para o humorista me encontrar.
“- Você aí, com a camisa do Juventus da Mooca. Qual é seu nome?”
Olhei para ele, respirei fundo e respondi, com a convicção de um político:
“- Gabriel. Meu nome é Gabriel”.
Pois é. Dizem que quem ri por último, ri melhor, não é? Pois é…
José Bonifácio e a Agricultura - Na coletânea organizada sobre José Bonifácil de Andrada e Silva por Jorge Caldeira para a coleção “Formadores do Brasil”, da editora 34, há o interessante ensaio Necessidade de uma academia de agricultura no Brasil, de cerca de vinte páginas. Ele veio de uma coletânea anterior, de 1963 (que não consegui encontrar na internet), tendo sido originalmente publicada na Revista Popular, v(4), n(16), out-dez/1862 que é mais difícil de encontrar (não a achei numa busca rápida pela Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional).
O texto, aliás, também é citado por um artigo publicado em 2020 que descobri ao preparar esta edição da newsletter. Trata-se do: Salomão, I. C. (2020). Liberalismo, Industrialização e Desenvolvimento: As Ideias Econômicas de José Bonifácio de Andrada e Silva. Almanack, 26. https://doi.org/10.1590/2236-463326ea01019. O leitor interessado pode encontrá-lo facilmente na internet (é meio antiquado, eu sei, dizer que alguém encontra algo ‘na internet’, mas lembro ao leitor que muita coisa ainda se encontra ‘fora da internet’, como, aliás, o texto original de José Bonifácio…).
O plano de José Bonifácio era o de criar jardins botânicos em vários pontos do país e facilitar a importação de ferramentas (‘instrumentos e máquinas agrárias’) agrícolas. Ele também aponta a necessidade de se conhecer e pesquisar a logística de transporte por rios navegáveis e alerta para o perigo de se destruir o meio ambiente, por exemplo.
Salomão (2020) vê nele - e cita algumas referências - um forte fisiocracismo (se é que o termo existe). Penso que, na época do pensamento econômico clássico (Quesnay, Smith, Hume, Ricardo etc.), era difícil alguém não elogiar a agricultura, já que a indústria era quase inexistente. Falar de economia era, praticamente, falar de agricultura.
Na minha opinião, o ensaio sobre a agricultura de José Bonifácio é, muito mais, um ensaio de economia. Mais ainda, é uma proposta de uma política pública que pretendia desenvolver a agricultura do país. Guardadas as devidas proporções, era uma proposta de uma Embrapa, séculos antes de sua criação. No final do ensaio, Bonifácio resume sua proposta em cinco pontos que vou reescrever com minhas palavras.
Pontos 1 e 2: O Estado deve monitorar e importar as inovações agrícolas do setor, atentando para o que melhor se adeque à realidade brasileira.
Ponto 3 e 4: O Jardim Botânico da Corte e os jardins botânicos de ‘cidades acadêmicas’ devem ser escolas para disseminar o conhecimento sobre o uso das tecnologias agrícolas.
Ponto 5: Os instrumentos agrícolas devem ser vendidos aos agricultores ao preço de custo, o mesmo valendo para madeiras destinadas à construção.
José Bonifácio não foi um libertário, mas pode muito bem ser classificado como um liberal clássico. Sim, mesmo que tenha atuado dentro do governo, opinando sobre a qualidade de certas intervenções governamentais, isto não o classifica como um não-liberal. Roberto Campos, que ninguém pensa em chamar de outra coisa que não ‘liberal’, é um bom exemplo do que quero dizer.
Neste ponto, aliás, o artigo de Salomão toma como base do que seja um liberal, no campo econômico, apenas os critérios de Adam Smith em sua obra mais famosa. Assim, Bonifácio seria ou não um liberal econômico, para o autor, conforme se aproximasse ou se afastasse destes critérios (que o Estado só interfira para: “(…) garantia da segurança, da propriedade e da liberdade (…)”. p.27).
Na minha opinião, o fato de você ter princípios básicos não significa que você apenas busque ‘destruir’ obstáculos para que estes possam se manifestar. Dada a realidade política, muitas vezes o necessário é ‘construir’ condições para que os mesmos possam existir.
Pense, por exemplo, nos socialistas/progressistas/esquerdistas. Não são eles os primeiros a dizerem que estão em um ‘sistema capitalista’ (entendo, mas não uso esta categoria teórica porque, para mim, faz mais sentido pensar em uma ‘economia mista’) e que, ao governarem, estão criando políticas para levar a sociedade ao socialismo e/ou ao comunismo? Se eles não deixam de ser socialistas porque atuam dentro do Estado (burguês, né?), por que é que liberais deveriam ser, rapidamente, acusados de ‘não-liberais’ por fazerem exatamente o mesmo que eles? Sim, o objetivo final é diferente, mas…
Não é a intenção do autor do ensaio, imagino, mas, em geral, o uso destes ‘dois pesos e duas medidas’ visa, e não há outra palavra para isto, destruir as referências históricas dos liberais, privando-os de figuras históricas que podem ser estudadas, entendidas e criticadas. Não há liberais puros no mundo real. Muito menos socialistas puros. Bonifácio viveu em um Brasil escravocrata, na qual o rent-seeking nunca foi a exceção (por que é que tivemos uma “Lei dos Entraves”?). Não foi menos liberal por isso. Pelo menos, na minha opinião.
Você (ainda) pode discordar de mim, claro, porque este é (ainda) um país (cada vez menos?) livre. Para mim, insisto, Bonifácio não é um intervencionista, nem um keynesiano, muito menos um socialista.
Na fila - O Cidades Dinâmicas - um guia para intervenções urbanas economicamente sustentáveis, do Marcos Ricardo dos Santos, está na prioridade de minha fila de leituras.
Challenge Papers - O prazo está acabando e se você não submeteu sua proposta, ainda há tempo (qualquer um pode participar!). O concurso mais simpático de ensaios do Brasil é, sim, este, do Instituto Millenium. São duas áreas, cada qual com duas temáticas. Eu sei que você é preguiçosa(o), então vou copiar e colar.
Economia:
O desafio da geração de emprego e renda, com o impacto exponencial da inteligência artificial. Como tornar nosso mercado de trabalho mais dinâmico, resiliente e produtivo nesse cenário?
O desafio da bomba relógio previdenciária. Como encaminhar uma solução definitiva para a maior despesa do governo?
Instituições:
O desafio de melhorar a prestação de serviço público no Brasil. Concessões, contratos de gestão, parcerias público-privadas, como organizações privadas podem apresentar soluções para problemas públicos crônicos?
O desafio de manter as liberdades civis. Como as novas tecnologias, em especial a inteligência artificial, podem ser aplicadas para ampliar e não para restringir as liberdades individuais?
Tenho divulgado o concurso aqui e acolá, mas a geração Z é uma geração apática e caracterizada pelo comportamento ‘nem-nem’ à qual acrescento um terceiro ‘nem’ (nem estuda, nem procura trabalho e, pior, nem parece se importar). Há exceções e, afirmo, parte delas lê esta newsletter (modesto, não?).
Claro que eu acho que vale a pena. Ah, já foi anunciado que o primeiro colocado ganhará uma viagem para conhecer o lendário Cato Institute, um dos mais qualificados think tanks liberais do mundo.
Parafusem as cadeiras! - Já que o Kogos estará em Belo Horizonte, eu aconselharia parafusar as cadeiras.
Bari Weiss - Uma das mais lúcidas jornalistas norte-americanas da atualidade.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Bari Weiss me decepcionou fortemente em uma entrevista que fez com o Rand Paul, parecia uma militante do PSOL nas perguntas finais mas, fora isso, gostei da newsletter
Quem diria que a estreia - sem acento! - do Shikida em um comedy club seria assim, um plot twist?