Escapadas de Frajolinha. Contrafactuais em Cuba. Bananére é Pop. Curva de Philips. Não necessariamente nesta ordem.
Perdão, aonde vai ter esta rua? (失礼ですが、この通りは何処へ続いていますか。)
Eis nossa newsletter em seu v(2), n(43). Bem na manhã de sábado.
Escapadas de Frajolinha e o Massacre da Serra Elétrica - Sim, ela não estava me esperando na segunda-feira cedo. Procurei-a duas vezes e desisti.
Não a encontrar despertou meus instintos mais primitivos. Pensei em invadir a biblioteca e reordenar todos os livros pela cor de suas capas. Ou então em arrumar uma pistola de água, enchê-la de xixi, subir ao segundo andar, esconder-me e, então, atirar em pessoas aleatoriamente. Outra opção seria invadir o sistema e alterar todos os textos dos processos para a linguagem do ‘p’.
Enquanto estes devaneios me consumiam (a falta do café não ajudou, claro), calhou da Frajolinha reaparecer. Parece que havia ficado presa em uma sala no final de semana. O frio deve tê-la guiado para o prédio - no que fez bem - e alguém da limpeza não a viu e fechou a porta - no que não fez tão bem - deixando-a trancafiada por dois dias.
Todos meus devaneios estranhos desapareceram e o mundo pareceu normal novamente. Como são as coisas, não?
Dois dias depois, novamente chego cedo e nada de madame. Desta vez, aproveitando-me que a manhã, ainda nascente, proporcionava-me absoluta solidão no prédio, abri, uma a uma, quase todas as portas não chaveadas do prédio de dois andares, sempre com o invólucro de sua ração, fazendo barulho na esperança de ouvir um ou outro miado.
Enquanto fazia minha busca, novos devaneios empurraram meus pensamentos mais sérios (os poucos que me restam nas manhãs) para o castigo e vi-me, novamente, com planos malignos de vingança contra o mundo que escondeu minha amiga felina. Em um deles, invadi um seminário sonolento sobre incapacidades estatais e obriguei todos a comerem caquis de rama forte enquanto metralhava as paredes para escrever um palavrão qualquer.
Quando iria iniciar um sádico ritual de assassinatos envolvendo jacas, café (o da licitação, claro) e prostitutas francesas em outro devaneio, já no final de minha busca, abri a porta de uma sala de reunião ao lado da minha e, finalmente, de lá saiu lady Frajolinha. Rapidamente, dirigiu-se para a escada proporcionando aos músculos de suas patas algum exercício matinal.
Novamente, os devaneios cederam lugar aos pensamentos normais da manhã e o mundo ficou mais feliz. Nada como voltar ao normal.
Sofia, Gigi, Maria - Fazia tempo que não as via. Pois não mais. Chegando em casa, Sofia e Gigi vieram fazer festa para mim (à maneira felina, claro). Ao contrário da Frajolinha (vide texto anterior), elas não miam muito nestes momentos. Sofia, sim, bem mais feliz em me ver.
Maria, que era bem pequena, agora cresceu e logo ficou curiosa, mas manteve uma distância preventiva até que me viu interagindo fisicamente com Sofia. Daí em diante ficou um pouco mais tranquila. Certamente não se lembra de que, pequena ainda, subia ao meu colo. Tudo bem.
Curva de Philips para todos - Muito bonito este gráfico. Praticamente uma ‘curva de Philips (que expressa a relação entre desemprego e inflação, lá nas aulas de macroeconomia…). Eu gostaria de ver, contudo, um segundo, mostrando o hiato de expectativas de inflação no lugar da inflação acumulada no eixo vertical. Por que?
Porque aí teríamos a visualização do desemprego como função do hiato entre inflação e expectativas. Teoricamente, quanto menor o hiato, mais o desemprego deveria estar próximo de sua taxa natural. Sim, penso na ‘curva de Philips com expectativas’, surgida lá nos tempos de Friedman (com as expectativas adaptativas) e que, hoje, considera as ‘expectativas racionais’.
Por que um ‘hiato’ de expectativas? Porque, segundo uma teoria muito popular entre os macroeconomistas, espera-se que quando as expectativas quanto à inflação se igualem à mesma, a taxa de desemprego estaria em seu nível ‘natural’, o que é o mesmo que dizer que a economia estaria muito próxima do pleno emprego.
Neste caso, claro, seria preciso que o eixo horizontal também fosse ajustado para mensurar não mais a taxa de desemprego, mas sim o hiato entre esta e sua taxa natural. Sim, isto é sempre um problema porque esta última teria que ser estimada, mas, para nossa sorte, há bons econometristas no país e uma pesquisa do Banco Central do Brasil encontrou algo em torno de 6.5%.
Há mais tecnicalidades aqui (se a taxa natural de desemprego é constante etc.), mas eu só queria mesmo sugerir este novo gráfico.
O socialismo/comunismo deu certo em Cuba? - Creio que já mencionei o artigo aqui, em algum link. Mas não tenho certeza. De todo modo, o prof. Stein finalmente tem uma página pessoal com o artigo que escreveu com Jales, Kang e Ribeiro.
O exercício dos autores usou um dos métodos de contrafactuais, saindo do tradicional ‘achismo’ que é a tônica de boa parte do que se lê sobre a questão em redes sociais e também em alguns livros cujos autores fogem dos dados...
As conclusões? Alguns trechos:
We argue that Cuba’s GDP level began to diverge from its historical trend and from those of other Latin American countries in 1959. To identify when Cuba began to lag behind, we employ a number of different identification strategies. Using these different identification strategies, we show that Cuba’s trajectory suffers a structural break after the Cuban revolution in 1959.
We also document evidence of the magnitude of the effects of Cuba’s trade agreement with the Soviet Union. We show that the favorable terms of trade implied by the agreement had to a positive effect on Cuba’s GDP and level of exports. The elimination of such favorable terms of trade led to a sharp decrease in Cuba’s GDP per capita and level of exports.
Em outras palavras: o PIB cai com a revolução e, mais ainda, não fosse a generosidade soviética, o desastre seria maior. Bonito, né?
Gigante pela própria natureza - Ou não é?
Fatos e fatos bobinhos - Eis um, descontruído rapidamente.
Bananére - Conheci por meio de uma troca de ideias entre Carlos Freitas e Luigi Marnoto, no programa Fitas, Bolachas, Catataus e…(e aí não me lembro qual era o assunto). A brincadeira com a mistura de línguas me fascinou.
Dias depois os entregadores me traziam dois livros. Um, do próprio Bananére e, outro, um estudo sobre o mesmo. Claro, li tudo ferozmente. Depois vieram os áudios originais do próprio no Soundcloud e os artigos na sempre ótima Hemeroteca Digital. Houve também um perfil - que sumiu do Twitter justo quando pensei em contactá-lo - com o qual dialogava no dialeto peculiar. Acho que era algo como @juobananere mesmo.
Enquanto eu, em vários números da newsletter (ainda em seu volume 1, i.e., o de 2021), lançava um ou outro texto em bananerês, dois instigadores (Orlando Tosetto e Alexandre Soares Silva) insistiam que eu deveria me aprofundar mais e mais no multiverso bananérico.
E assim foi feito, como já sabem os leitores e assinantes (já falei que é de graça?) desta newsletter.
Por isso, no último programa do Fitas, Bolachas e Catataus, quando o Luigi, jocosamente, chamou-me de ‘sucessor do Bananére’, eu vibrei. Afinal, não é todo dia que você tenta copiar o estilo de um autor tão peculiar e ganha um apelido tão honroso! Já falei que o FiBoCa é um programa bem divertido?
Acrônimos à venda - Atendemos qualquer ideologia. Entregamos em casa. Últimos lançamentos: VAI (Vidas Arianas Importam) e STF (Supremacia Trans Formidável). Só até sábado. Na compra de dois acrônimos para seu movimento extremista, ganhe grátis um jargão. Sugestões? Envie nos comentários.
Avalie-se! - Vários ex-alunos meus vivem me pedindo uma chance de se reavaliarem, agora que tanto tempo já passou. Para eles, criei, pois, este formulário, de apenas duas perguntas. É sua chance, ex-aluno!
Avalie-nos! - Aliás, meus ex-alunos sabem que sempre tive este humor peculiar. Falando em avaliação, Marina, do Instituto Millenium, citou o texto que eu e Diana Coutinho escrevemos em um artigo sobre educação para a Crusoé. Já foi mencionado nesta mesma newsletter, e defende que, dada a diferença (observável) de qualidade entre professores, incentivos sejam criados para que esta qualidade se traduza em melhores resultados escolares.
O leitor pode fazer uma busca que não tardará a encontrar nosso pequeno artigo.
Ainda no tema das inovações educacionais, o Gabriel Mendes fez uma thread desmistificadora sobre o homeschooling, aqui.
Tentar desqualificar uma proposta no debate público é, goste-se ou não, parte do jogo político. Muita gente que torce o nariz para o estilo do falecido Roberto Campos aplaude gente que chama uma proposta de diversificação de opções educacionais de ‘medieval’.
De todo modo, se não queremos polemizar, mas entender um problema, devemos falar de evidências analisadas sob o prisma científico, não sobre se o interlocutor é ‘medieval’ (a Idade Média como sinônimo de trevas, inclusive, é um preconceito que não resiste aos trabalhos de muitos historiadores…).
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
Caso queira compartilhar, clique no botão abaixo.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Mestre Shikida,
declaro que não tenho o mínimo pudor em pedir-lhe:
por favor, adote madame Frajolinha!! Ela merece tua perene companhia, vc merece todo o encanto que ela te proporciona.
É uma conta exata: 100 + 100 = perfeito vcs dois, vossa esposa e Maria, Sofia e Gigi.
Reza a lenda: 1 + 1 é sempre mais que 2!!!! Amor com amor soma, jamais divide!!! @pronto falei!!!!