Era uma vez, uma girafinha mágica... A Marcha. Ciência de Dados. Outros.
Era louca, obcecada, imatura, sentimental, altruísta. Preferia os sumérios aos mongóis nas aulas de história.
Bem-vindo ao v(2), n(71) da news. Confesso, leitor. Confesso que quis resgatar uma história antiga, de 2014. Com ela abro este número de sábado, desculpando-me pelo texto antigo. Em compensação, o resto saiu do forno agorinha, agorinha (ou quase).
Um texto de 2014: Era uma vez, uma girafinha mágica… - Revisado.
[Contextualizando: um dia, Tetê, minha sobrinha havia ido dormir em casa. Lá pelas tantas, obviamente, ela não dormia. Eu tentava contar alguma história, mas tínhamos poucos livros infantis. Então, não teve jeito e tive que usar o meu último recurso: a imaginação! Passado um tempo - mas não muito! - após a abençoada vinda do sono, escrevi a história para não me esquecer. Afinal, não é todo dia que você banca um irmão Grimm. Repare como minha narrativa tenta induzir a minha agitada sobrinha ao sono, de forma lenta, mas quase constante. Certamente não inventei isto (digo, o método de induzir a menina ao sono), mas surgiu no calor do momento e funcionou…]
Era uma vez uma girafinha mágica. Ela tinha asas nas patas. Ela usava seu poder para guiar o bando, achar comida, evitar perigos e achar novos amigos. Ela voava bem alto. Se você fechar os olhos, poderá imaginar ela voando acima das nuvens, na África.
Um belo dia, ela estava guiando seu bando para a longa viagem que fariam até o Japão, passando pela Índia e China. Então, ela encontrou um lago mágico no alto da montanha gigante. Ela bebeu a água do lago e encontrou o urso mágico.
O urso mágico tomava conta do lago. Ele explicou para a girafa que a água dava vida eterna a quem a bebesse. Mas só funcionava com pessoas e animais bons. Se você fechar os olhos, poderá ver o urso mágico.
Então a girafinha se despediu e voltou para a viagem. Eles andaram, andaram e chegaram à Índia. Lá, a girafinha mágica encontrou o lobo sábio. Ela perguntou ao lobo onde ficava o caminho para a China e o lobo disse: é fácil. Siga pela estrada de tijolos dourados, vire à esquerda, à direita, à esquerda de novo e chegará à China.
A girafinha se despediu e seguiu guiando seu bando e chegaram à China. Se você fechar os olhos poderá imaginar o bando chegando lá. Então eles bateram no portão da grande muralha, um longo muro que havia lá. E o gafanhoto velho abriu o portão. Ele disse à girafinha mágica que todos eram bem-vindos. E eles acharam tudo bonito. E pegaram um barco. Chegaram ao Japão.
Lá, eles encontraram o javali dourado. O javali parece um porco, só que tem dois chifres compridos no nariz. A girafinha mágica e ele ficaram amigos e, juntos, foram para a montanha roxa e construíram um grande castelo. O bando de girafas, a girafinha mágica e o javali dourado se mudaram para lá. Se você fechar os olhos, poderá imaginar este belo castelo gigantesco.
No quintal deste castelo, plantaram um montão de pés de jabuticabas. A girafinha mágica sempre pegava as jabuticabas mais altas porque podia voar. E o Japão era muito bonito. Se voce fechar os olhos, poderá imaginar todos eles, Tetê, felizes no lindo Japão, cheio de jabuticabas.
(Registro final: acho que Tetê dormiu no final do primeiro parágrafo, em cima de minha barriga. Carreguei-a e a coloquei na barraca que o tio Ari nos emprestou. Deve fazer uma hora agora, desde que ela, finalmente, dormiu.)
A Marcha - Não era uma caminhada. Nem corrida. Era marcha. Pelo caminho viu jovens árvores florindo, um espetáculo de cores e formas. Viu também pessoas que iam e vinham nos caminhos de suas vidas. O céu azul com poucas nuvens parecia-lhe eterno e belo. Sorria para todos e conversava com alguns que, cruzando seu caminho, acompanhavam-no por um tempo. Apertou o passo quando notou que a manhã se preparava para a despedida.
À tarde…à tarde ele viu árvores desfolhadas e alguns pássaros migrando em formação. A energia matinal cedera um pouco e sua marcha, cadenciada, dava-se a passos ligeiramente mais lentos. Alegrava-o ainda poder apreciar o ir e vir das pessoas. Alguns casais, de mãos dadas, com filhos e outros, apenas de mãos dadas. O céu seguia azul, mas com algumas nuvens que lhe davam, aleatoriamente, alguma sombra. Sentiu fome e sede, mas tinha a impressão de já ter se alimentado em algum bar ao longo do caminho.
Cansado, viu-se diante da noite. Não conseguia, contudo, parar sua marcha. As pessoas já quase não lhe cruzavam o caminho. Sentiu que gostaria de encontrar alguns amigos, mas nenhum deles viu. Nem pássaros via mais. Apenas alguns gatos e cães. Aos poucos, a marcha começou a pesar-lhe, mas, estranhamente, não controlava suas pernas e seguia em frente.
Já que não podia parar, passou a buscar algum alívio no céu e percebeu que reconhecia as constelações. Discernia entre uma e outra com facilidade que nunca antes tivera. Milagrosamente, havia adquirido um conhecimento detalhado sobre as configurações das estrelas. Encantou-se com este pequeno milagre e, enquanto marchava, nomeava as constelações.
Até que se deparou com uma desconhecida. Os mapas astronômicos não o permitiam identificar a brilhante constelação. Sua forma? Lembrava um rosto feminino familiar. O controle de suas pernas parecia ter sido retomado. Pausou. Maravilhado, apreciou cuidadosamente a constelação: seus olhos expressivos, nariz e boca perfeitos. Desenhou-a com os dedos, no ar, várias vezes. É, era mesmo o rosto dela.
‘Mas ela nem havia morrido’, pensou. Como seria possível? Inicialmente agitado, aos poucos se acalmou e se divertiu com a idéia de que ela talvez fosse um anjo, o que explicaria, poeticamente, a constelação inusitada. Que bela peça lhe pregavam os céus! Sorriu e teve a sensação que havia sido correspondido pelo rosto estelar. Não se espantou e voltou a marchar.
Sentiu-se jovem novamente e seu cansaço, agora, parecia apenas uma lembrança antiga. Caminhava não mais à força, mas por livre e espontânea vontade. Apressou o passo em direção ao rosto. Percebeu que já não sentia o chão. Voltou-se para trás e viu, lá embaixo, a estrada percorrida, brilhante de um brilho que jamais vira. Notou que seus rastros, no ar, eram uma continuação da mesma: a estrada elevava-se ao céu como se feita de milhares de vagalumes.
Feliz, sentiu vontade de chorar e chorou. O rosto também parecia chorar. Das lágrimas de ambos fez-se uma chuva fina. Sua marcha, ah, não era mais uma marcha, mas sim uma corrida. Chorando de alegria, cruzou o céu como o faz uma criança feliz. Seguiu em direção ao rosto estelar, mas não o alcançou pois, durante a corrida, lentamente, desmaterializou-se, tornando-se a extensão final de seu próprio caminho.
Ciência de Dados - O Sílvio de Paula, que é um empreendedor e um ótimo estudante, fez pública sua queixa sobre os cursos de Ciência Econômica. Devo dizer que é um assunto que já me fez pensar muito. Acho que já me posicionei dos dois lados do debate.
A questão, no fundo, é bem simples. Um curso de Ciência Econômica (desconsidero o plural porque penso apenas na Ciência, não em imitações) não é ilimitado. O sujeito precisa de formação que lhe permita pagar boletos e não pode estudar por 50 anos. De outro modo, o tempo é um recurso escasso.
Sendo o tempo escasso, pois, o que tentar ensinar ao aluno, ceteris paribus? Já pensei que o melhor era que ele tivesse apenas teoria, matemática e estatística, com aplicações em laboratório. Ainda creio neste formato. Contudo, vimos, nos últimos anos, uma queda do preço relativo de se aprender programação nos cursos. Não é preciso mais ir ao departamento de Computação para aprender a programar em R ou Python.
Você não precisa ir tão longe no debate. Pode simplesmente manter as disciplinas atuais, apenas tendo a vergonha de assumir que demorou demais para transformar ‘Introdução à Informática’ em ‘Programação I’ porque, afinal, ninguém mais quer saber se você sabe de cor o nome do sujeito que inventou o primeiro computador moderno (ou algo assim).
Desnecessário dizer que as universidades particulares saem em vantagem pois possuem menos amarras burocráticas que as públicas (embora vários representantes destas últimas tentem, sempre, por meio de sua influência nos órgãos oficiais de educação, impor restrições às primeiras, de forma a submetê-las ao seu poder).
Alguém poderá, com razão, dizer que o mercado de trabalho pode mudar amanhã. É verdade, embora mudanças muito radicais não aconteçam no mercado de trabalho a cada vinte minutos. Mas, mesmo nesta situação hipotética para lá de absurda, a conclusão é a que facilitar a flexibilização dos currículos seria melhor.
Este é um bom tema para se debater com amigos (e inimigos) à mesa.
A economia da música - O Leo cometeu mais este texto. Como essas músicas que ele menciona não são do meu universo (talvez só algumas), mas como ele é um ótimo economista, sugiro fortemente a leitura.
Trucomenistão - Ah, Kovács é um talento!
Fitas, Bolachas e Catataus…de novo - No início o Carlos conta uma bela história de um velhinho que aprendeu a fazer mágicas…por amor (no caso, correspondido e não dou mais spoilers).
Spectreman - Todo mundo (todo mundo?) já ouviu a história de que Spectreman, no original, não era o nome original do programa. O personagem principal era o ‘gesticulativo’ doutor Gori (não confundir com o Dr. Palhinha).
Pois eis um achado. Em formato ‘bolacha’ mesmo.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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