E por que é que eu não morreria por amor? - Charter Cities - Electric Dreams - Outros.
O Brasil é uma ditadura. Descubra por que isso pode ser bom para você.
O v(4), n(14) chegou e você nem acabou de se barbear.
E por que é que eu não morreria por amor? - Caminhando sob o céu nublado em um clima seco, sem nem uma brisa, Ubaldino pensava em seu trabalho, na final do campeonato e em suas músicas favoritas que ninguém, além dele, curtia.
Pensou tanto que quase tropeçou em buraco da calçada, tão comum neste país que não hesita em cobrar impostos, mas sempre alega que ‘o mundo é complexo’, ‘a realidade é muito diferente da teoria’ na hora de entregar ao pagador de impostos uma calçada na qual ele possa caminhar sem se preocupar com buracos ou mesmo em ser nela assaltado.
Ubaldino gostava de céu nublado. Havia algo no céu cinza esbranquiçado (ou seria o branco acinzentado?) que acalmava sua alma ansiosa. Teorizava que a barriga da mãe, do lado de dentro, deveria ser da mesma cor. Nunca obteve comprovação científica de sua tese, mas isto não o incomodava. Gostava de manter e divulgar esta sua teoria para amigos que já sabiam que suas músicas, filmes e livros favoritos não eram lá muito populares, logo…
A rua estava relativamente deserta e Ubaldino apreciava as árvores e prédios ou casas com o mesmo coração aberto. Para ele, natureza e engenhosidade humana eram complementares. Não preferia assassinar uma pessoa para salvar uma árvore (e nem o contrário). Por isso mesmo é que apreciava caminhadas de, no mínimo, 20 minutos. Para ele, era o tempo mínimo que seu cérebro precisava para se preparar para, só, então, apreciar a vida com serenidade.
Atravessou uma rua, sempre atento ao sinal eletrônico de pedestres que alguém já disse representar um homem verde de medo de atravessar e um homem vermelho, ansioso, que não pensa duas vezes antes de seguir para a outra calçada (sim, é uma piada antiga e tão sem graça quanto os livros, filmes, músicas e teses de Ubaldino).
Caminhando e pensando frivolidades, Ubaldino alcançou as bordas da região central da cidade na qual o aumento do movimento de veículos, pessoas e animais domésticos era visível e até mesmo repentino. Não era algo que ia aumentando aos poucos, ao longo da caminhada. Não. Era como se o centro quisesse deixar claro a todos quais eram os seus limites. Afinal, não se deve impor limites às crianças para educá-las? O mesmo ocorre com os bairros mais ou menos adjacentes. Por isto, naturalmente, o aumento repentino.
Claro que Ubaldino não se incomodava com nada disso. Há anos que fazia este trajeto. Bem antes de sua esposa pedir o divórcio e expulsá-lo de casa. Sim, ela já tinha um amante. Não lhe contou porque se preocupava mais com possíveis perdas financeiras do que com o Ubaldino que, para ela, não era mais o mesmo com o qual se casara. O amor envelhecera mais do que o casal e, como acontece (ou ‘como sói ocorrer’) nestes casos, apodreceu.
Este era o Ubaldino que agora caminhava pelo centro da cidade admirando tudo a sua volta e ainda evitando os desníveis das calçadas. E foi com este mesmíssimo Ubaldino que que aconteceu o acidente.
Sem que a mãe percebesse, o pequeno filho de 5 anos saiu da calçada em direção aos veículos, ainda em movimento. Foi em um milésimo de segundo que Ubaldino pensou: por que eu não morreria por amor? Amor às pessoas, às obras humanas, à natureza, aos animais, à vida de seus amigos, à de seus inimigos (com prudente distanciamento)? O amor deveria ser incondicional, sem cobranças.
Saltou sobre a criança, protegendo-a. Foi o tempo necessário para que algumas pessoas o alcançassem e levassem a criança em segurança para os braços de uma desesperada mãe. Ubaldino se levantou, mas não pôde escapar de um caminhão que o esmagou. Ubaldino, ou o que sobrou dele, foi cremado. Morreu mesmo por amor.
Charter cities - Tema recorrente por aqui, certo? Ultimamente o interesse por experimentos institucionais como este tem crescido e já vejo uma massa crítica se formando entre os que se comunicam em inglês. Em nosso caso, ainda há poucos, mas também houve um crescimento recente (já ouviu falar do projeto Ipê City? Não? Pois é…).
Uma sugestão recente é a de franchise cities, da Elle Griffin, cuja newsletter eu recomendo, obviamente. O texto, aliás, faz um bom resumo (com links) sobre a lenta evolução das charter cities no debate contemporâneo. O que seriam estas franquias?
Aliás, se você quer algo mais técnico, acadêmico, sobre evolução institucional, passe a ler os artigos do prof. Bernardo Mueller, da UnB. Um recente dele é este aqui. Por que é que indico trabalhos como este? Porque toda discussão sobre charter cities sempre passa por um nó difícil de se desatar: como novas instituições podem ser criadas em um local onde a cultura, até então, não foi capaz de gerá-las?
É um problema que atormenta aqueles que pensam em mudanças institucionais há anos e, como é próprio do mundo das idéias (com acento porque sou teimoso), jamais deixará de ser um problema.
Electric Dreams - Filme que não vi à época. Descobri, recentemente e, bem, gostei! Eu tive um LP com a música-tema à qual eu ouvia sempre. Apesar do filme ser antigo, a discussão sobre a inteligência artificial que ele antevê é até moderna, com casa inteligente e tudo o mais. Ok, não é bem uma ‘discussão’, pois estamos falando de um filme romântico bem light. O final contrasta com a visão pessimista sobre a relação homem e inteligência artificial que víamos, por exemplo, na franquia d’O Exterminador do Futuro. (Sem spoilers, ok?)
Sim, é um filme que relaxa a gente.
Isso é que é deslocamento da curva de demanda! - Olha o Lionel Messi mostrando que os livros de Economia estão certos.
A velhinha de Birigüi - Crônica ótima do Tosetto na Crusoé (para assinantes, obviamente).
Prof. Rasmusen - O prof. Eric Rasmusen (um dos melhores em Teoria dos Jogos) ajudou os parlamentares a entenderem como é que uma universidade funciona, na prática. Veja seu testemunho aqui.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.