Dudu - Se você tem medo... - Pessoas casadas... - Omissão do seu político - Selmocast - Vozes Comunica.
Muitas teorias foram torturadas aqui, em nome da Ciência. Os torturadores ainda caminham livremente entre nós. Uns estão até em posição de destaque! Onde está a justiça?
O v(4), n(15) chega logo após o ex-técnico do Cruzeiro destruir o domingo do torcedor. Lembrando que quem cresceu na big media não tem moral para falar mal das big tech. Afinal, se regulação fosse boa, o sujeito seria CLT, não PJ.
Dudu - Dudu era um leitor de Sartre, Marx, Foucault e Simone de Beauvior. Já fazia discursos antes de entrar no curso de sociologia, no grêmio do colégio, em prol da libertação humana e outros ideais espiritualmente elevados entre tribos de todo o espectro ideológico.
Se tinha algo que Dudu fazia bem era ler e estudar. O rapaz era uma máquina de leitura e fazia boas perguntas em sala. Os professores se dividiam quanto a Dudu: ou o tinham como um ótimo - e promissor - aluno ou o temiam (alguns professores tinham preguiça, sabe como é…).
Ao contrário de muitos alunos arrogantes, Dudu era humilde e sinceramente interessado no que os professores (e os professores dos professores e, antes destes, os…) pregavam: o sincero debate entre diferentes idéias (com acento mesmo e isto eu não debato). Os colegas adoravam vê-lo em ação, defendendo a classe proletária, os índios, as mulheres, as minorias, as minorias que não gostam de serem chamadas de minorias e até as minorias que não sabem que são minorias (mas nós, iluminados, sabemos) em debates públicos.
O sucesso do jovem talentoso não passava despercebido pelas colegas. Várias delas davam-lhe indiretas e diretas. Cantadas vinham até de alguns colegas insuspeitos. Dudu, como bom progressista, agradecia a todos, mas, por algum motivo, não queria se relacionar com ninguém. Alguns suspeitavam que sua ambição era se aprofundar nas leituras até se tornar um intelectual respeitado, um possível candidato à presidência do país e que teria abdicado da vida sexual.
A fama do rapaz ultrapassava os limites da sua universidade. Os pais, antigos professores universitários e fundadores de um dos muitos partidos de esquerda do país, não tinham pouco orgulho dele não. Era muito, mas muito orgulho. Vangloriavam-se de terem tido parentes perseguidos pela ditadura varguista e pela “Redentora” e que, portanto, Dudu seria o responsável pela honrosa tradição familiar.
Pois bem, naquela manhã, Dudu resolveu ler um manual de economia marxista que ganhara de um amigo. Era uma crítica ao planejamento econômico na Coréia do Norte. Dudu sorriu ao terminar o primeiro capítulo. Sorriu porque sabia que pontos poderia criticar naquele modelo econômico. O socialismo, para ele, era também um modelo em construção (dialética), dinâmico, bem diferente daquela visão burguesa da economia. Correu para abrir sua rede social no computador. Colocou seu login e sua senha e, como dizem, sentou o dedo no enter.
Para sua surpresa, a identidade não foi reconhecida. Assustado, tentou novamente e obteve novo fracasso. Abriu seus emails e notou que havia um aviso: seu usuário foi cancelado por desrespeitar nossos termos de uso. Dudu ficou indignado. Só mesmo o capitalismo para lhe tirar o direito de se manifestar. Xingou uns palavrões e escreveu uma mensagem educada - no limite do que conseguia chamar de ‘educado’ em meio à toda aquela fúria - e clicou em “enviar”. Nova surpresa: a mensagem não saiu da caixa postal.
Foi quando notou outra mensagem no alto da caixa de entrada vinda de um remetente até então desconhecido: um ajudante de um ajudante de um outro ajudante de um juiz da mais alta corte do país o avisava que suas redes estavam bloqueadas e que ele era acusado de participar de uma conspiração da extrema-esquerda para tomar o poder e implantar uma ditadura socialista no país. Dudu não se aguentou e caiu na risada. Afinal, ele só lia, estudava e debatia idéias, quaisquer idéias, com quem quer que fosse, mas jamais entraria numa conspiração assim.
Continuou lendo a mensagem e notou que não era uma piada. Dudu começou a se assustar. Será que tinham mesmo rasgado a Constituição? Sim, ele tinha o sonho de ver a ditadura do proletariado implantada no país. Ele realmente achava que a melhor forma disto acontecer era por meio do acirramento da luta de classes, mas jamais pegou em uma arma (embora achasse que era um direito dos trabalhadores se defenderem, por todos os meios, da polícia burguesa, o que o fazia defender o direito do cidadão proletário de bem de poder ter porte de armas).
É, pensando melhor, até que ser chamado de extrema-esquerda não era tão errado assim. Entretanto, é verdade, ele nunca levantara um dedo para atacar, fisicamente, alguém. Pensar é uma coisa, esfaquear alguém, ora bolas, é outra. Era o que pensava Dudu e muitos de seus amigos. Só que, agora, por conta de um juiz ‘direitoso’, Dudu poderia perder direitos básicos. Será que estava sonhando? A dúvida se dissipou quando seu pai abriu a porta de seu quarto, visivelmente tenso.
Dudu olhou para ele, instintivamente. Foi quando dois policiais surgiram por trás do choroso pai, entraram em seu quarto e o colocaram de joelhos com as mãos na cabeça. Acusado de ser um terrorista da extrema-esquerda, Dudu foi levado para a prisão. Segundo seu advogado, era um processo bem heterodoxo que não seguia os procedimentos legais que até então caracterizavam os processos legais naquele país.
Até pediu para dar um telefonema, mas o juiz o proibiu. Nem os pais podia ver. Jogado em uma cela, Dudu, aos poucos, perdeu o contato com a realidade. Por que havia sido censurado? Onde estavam as provas? Ninguém lhe dizia. Até o advogado, que um dia reapareceu, em uma visita permitida após meses somente, disse-lhe estar tão atônito com aquilo tudo quanto o próprio Dudu.
Seus pais iniciaram uma campanha na internet para libertar o filho, mas o juiz mandou bloquear todas as suas contas e tomou-lhes os passaportes. O inquérito sobre o terrorismo da extrema-esquerda foi repudiado pela imprensa internacional, embora aplaudido pela mídia local, toda conivente com tudo aquilo.
Dudu ficou oito meses preso até morrer sob circunstâncias até hoje não esclarecidas em sua cela em um domingo de Páscoa. Corrijo-me: para o juiz, as circunstâncias eram claras: Dudu morreu de morte natural. Provavelmente por sua própria culpa por não querer se alimentar bem, nem confessar seus supostos crimes, nem entregar seus comparsas.
Alguns artistas e políticos de esquerda tentaram protestar, mas o medo de serem presos foi um poderoso fator de acovardamento. O juiz e seus pares perseguiram pessoas como Dudu por meses até saciarem seu desejo de extinguir a suposta tentativa de golpe.
É verdade que Dudu havia escrito um artigo para o jornal do diretório acadêmico criticando a aposentadoria dos juízes e propondo a necessidade de uma reforma da previdência para o poder judiciário, mas, obviamente, isto não poderia ser um motivo para sua prisão…
Sim, durante a ditadura, professores radicais passaram anos desafiando alguns princípios básicos e pregando a limitação da liberdade de expressão de todos os cidadãos - da extrema-esquerda à extrema-direita, ignorando o Direito ensinado até então. Jovens e talentosos estudantes de viés direitista acusavam o Direito de ser muito leniente e, ao longo dos anos, pelo cansaço, venceram os desesperados professores que não viam alternativa à própria substituição que não estes radicais. Tinham esperança de que amadurecessem com o tempo, mas não foi assim que aconteceu.
Os pais de Dudu morreram alguns anos depois.
Nota: Dudu não existiu. Nem seus pais. Nem o juiz. É tudo invenção de sua cabeça, leitor. Faça o teste do bafômetro e confirme que tenho razão! Como você é irresponsável…
Se você tem medo… - 3 ovos, 2 xícaras (chá) de açúcar, 2 xícaras (chá) de fubá, 3 colheres (sopa) rasas de farinha de trigo, 1/2 copo (americano) de óleo, 1 copo de leite, 1 colher (sopa) de fermento em pó…
Agora, se você não tem medo, pode falar. Estou ouvindo.
Pessoas casadas… - …são mais felizes? É o que diz esta pesquisa.
Omissão do seu político - Você votou nele, mas, encare os fatos, ele é preguiçoso.
Selmocast - O último programa do Selmo é uma conversa com o Alexandre Soares Silvas sobre seu novo livro.
Vozes Comunica - Melhor série do YT.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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