Diário das Coortes. Vouchers. Livros que não vieram. Bolíchicas. Outros despachos.
Um bonde desgovernado, um Lúcio e um Ramen entram em um bar.
O v(2), n(55) da news, assim como o amor, está no ar. Espero que não seja baleada.
Diário das Coortes ou Lúcio, o causador da minha agonia - Foi numa terça-feira razoavelmente fria desta semana que se encerra que reencontrei um ex-aluno cuja identidade verdadeira preservarei.
O nome ficcional dele é Lúcio. Lúcio, como o Lúcio Flávio, o criminoso carioca imortalizado no cinema nacional, em Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, por Reginaldo Faria (que, aliás, é um nome bom para fazer piada com um outro amigo) lá nos anos 70.
Pois Lúcio foi um ex-aluno que morava perto e, portanto, eu lhe dava carona para o futebol de sábado entre professores, graduandos e mestrandos (tínhamos até pós-doutorandos em algumas ocasiões) realizado em quadra alugada pela turma.
Em minha infância e adolescência fui um ‘exímio’ jogador, digo, eu era tão ruim que logo fui alocado na zaga por um tempo até ser transferido para o gol. Minha carreira como goleiro até que não foi ruim.
Não era o melhor goleiro, mas também não era o pior. Ídolos? Mazzaropi (fui vascaíno por muitos anos), Raul Plassman e o Manga (que me impressionava pelo porte boriskarloffiano). Gostava dos três. Estiveram todos em um álbum de figurinhas que, tenho certeza, está perdido em algum lugar na casa dos meus pais.
Goleiro na juventude, entretanto, é muito diferente de goleiro aos 50. Assim que, numa bela tarde de sábado, antes do jogo, no aquecimento, Lúcio resolveu que chutaria como se Nelinho fosse e eu, que não me usava luvas, recebi a bola com as mãos nuas (e cruas) e quase quebrei o polegar direito.
Lúcio foi jurado de morte mil vezes em minha mente naqueles segundos (e também nos dias subsequentes ao ocorrido). O infeliz virou motivo de piadas entre os outros alunos já que também estava matriculado em uma disciplina minha. Claro que o seu desempenho acadêmico não tem nada a ver com o que acontece no futebol e ele foi aprovado por seus próprios méritos.
Este é o Lúcio que reencontrei. Fiquei feliz em revê-lo. Não mudou nada. Bem, mudou um pouco: agora é mestre em Economia. Parece que sofreu um pouco no mestrado e amadureceu. Claro que vou furar o pneu do carro dele, colocarei tachinha em sua cadeira, tocarei o interfone de sua casa e sairei correndo, etc. Achou que iria escapar fácil assim? Aguarde-me, Lúcio!
Educação - Mais um ótimo texto do Instituto Millenium. Este também trata do tema da Educação. Eis um trecho interessante:
… o estudo propõe separar como público-alvo hipotético um contingente de um milhão de alunos matriculados na rede pública. O montante despendido pelo poder público para custear a educação deste grupo representaria um total de R$ 600 milhões mensais, em valores de 2018.
(…)
Se fossem oferecidos vouchers integrais no valor de R$ 600 para 39,5% desse grupo de alunos, que representam o percentual de alunos do 1º quintil de renda no ensino fundamental, a despesa para esta faixa de renda somaria R$ 237 milhões.
(…)
Com esse modelo, seria possível atender 956 mil alunos a um custo mensal de R$ 430,2 milhões, ou seja, o valor por aluno seria de R$ 450. Se fosse utilizado integralmente o total de R$ 600 milhões separados inicialmente – que correspondem a um milhão de alunos na rede pública –, seria possível atender a 1,333 milhão de alunos, ou seja, 33,3% a mais do que o grupo original na rede pública.
Não é um impacto desprezível, certo? Leia o estudo completo aqui.
A propósito, o texto que eu e Diana escrevemos sobre o valor agregado do professor (que vejo como complementar a este ótimo trabalho), também para o Millenium, está aqui. Creio que são os únicos a tratar de educação na série dos Millenium Papers, até o momento.
Ambos mostram que é possível pensar em novos modelos que impactam a educação brasileira diminuindo desigualdades e aumentando a eficiência econômica. Em outras palavras: melhorando a qualidade do ensino para quem interessa que é o aluno.
Raças - Não ouvi ainda Acabando de ouvir (geralmente guardo as manhãs de sábado ou domingo para isto), mas o último Tôblock promete. Aliás, conheci, finalmente, o Eli, em pessoa, no peculiar lançamento do livro do Gustavo Maultasch (sempre acho este sobrenome parecido com nome de bebida láctea…) na última terça-feira.
Peculiar? Sim, porque os livros não chegaram em tempo. A logística brasileira não me surpreendeu. Uma pena. Queria muito ter meu exemplar autografado, por mais que o Gustavo tenha tentado nos convencer de que seu autógrafo não vale tanto quando pensamos.
Bolíchicas - Fazia tempo que eu não entrava numa pista de boliche. A última vez, há alguns anos, foi em uma simpática e pequena cidade do interior gaúcho e foi um pouco estranho porque, literalmente, não havia ninguém para jogar comigo. Foi como no livro de Putnam, bowling alone.
Desta vez, contudo, foi diferente: muita gente animada (mais animada do que hábil com a bola, salvo as exceções de praxe). E o boliche é uma caixinha de surpresas. Uma delas é que, agora, só consigo ouvir, incessantemente, em minha cabeça, a expressão boliche-iche-iche-iche-iche…
Delírios Diversificados - Parte das pessoas vive sob o fetichismo da diversidade. A outra parte estuda o problema seriamente, sem preconceitos. O problema é que os primeiros sempre tentam calar os últimos.
Dilemas Filosóficos com um Bom Humor - Sabe aquele dilema pop do bonde que pode atropelar ou uma ou cinco pessoas? Pois alguém foi bem criativo e o resultado é esta página, só com dilemas absurdos envolvendo o dito cujo.
Sabe um país em que o radicalismo não é um problema? - Este país é a China socialista. Mas lá o radicalismo não é um problema porque o governo ‘regulamentou socialmente a mídia’ e incentiva apenas o radicalismo que lhe interessa (tente falar sobre o Massacre de Tian An Men por aí para ver como reagem os bajuladores usuais nas redes…). Imagine se alguém, no Brasil, comemorasse a morte de algum político do jeito que se vê neste link. Aliás, sobre Abe, um ‘obituário’ muito bom está aqui.
Ramen - Por outro lado, quando ignoramos o mal que governos fazem, descobrimos coisas interessantes sobre a vida de chineses ou japoneses. Por exemplo, as diferenças entre a versão japonesa e chinesa do ramen.
Vídeo com ótima legendagem em inglês. Ah, e note como o narrador pronuncia corretamente ramen em japonês, sem apelar para a corruptela (é assim que se chama?) lamen.
Filosofia de boteco - Ok, eu sei.
Faltou algo neste número - Eu sinto que deveria escrever sobre mais alguma coisa, mas não consigo descobrir o que é. Pelo mesmo motivo, caixas de supermercados não devem jamais me perguntar se eu ‘não senti que faltava algum produto’ porque eu posso passar horas enumerando itens que vão desde o delicioso tender bolinha até a beleza que encontro em sebos.
Entretanto, se o assinante tiver dado falta de algo, é favor informar ao gerente.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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