Como aproveitar a pandemia para melhorar sua aula de Economia
Vamos falar um pouco de um bom complemento para seu curso de Economia: o livro "Economics in one Virus", de Ryan Bourne
Chegamos ao v(1), n.(10) desta newsletter. Hoje vou falar de um livro que merece ser traduzido para fins didático-pedagógicos (mas também moral-e-cívicos). Um livro que ensina Economia usando como pano de fundo a pandemia.
Afinal, que livro você anda lendo? - Por alguns meses estive lendo o Economics in One Virus: An Introduction to Economic Reasoning through COVID-19, de Ryan Bourne e, sim, eu acho que qualquer aluno iniciante em Economia pode fazer bom proveito deste livro como um complemento ao já clássico Princípios de Economia (ou Princípios de Microeoconomia) do N. Gregory Mankiw.
Já disse, acertadamente, David D. Friedman que você só pode se considerar um economista completo se consegue argumentar usando os três pilares básicos: (a) língua-pátria (portuguesa, no caso), (b) gráficos e, claro, (c) álgebra. Geralmente, no início do curso, o adolescente só tem - e olhe lá! - algum domínio da língua portuguesa. Dependendo da escola e de suas inclinações naturais, tem alguma facilidade com gráficos e álgebra.
Não é por acaso, portanto, que as primeiros disciplinas dediquem-se a fortalecer os três pilares com o árduo trabalho do professor de Economia e também com o do colega responsável pela temível “Introdução ao Cálculo” (dependendo da escola, o nome é mais fashion, mas se for uma escola decente, o conteúdo é o mesmo dos clássicos: Courant, Piskunov ou Guidorizzi).
É fácil ver porque um calouro (um fresquinho, como dizem em inglês (freshman)) sente sempre aquele desconforto nos primeiros seis meses. Mas, se ele realmente gosta de Economia, sempre tenta ler algo adicional ao material indicado. Nos longínquos anos 80 e 90, não havia muita opção (o mercado educacional era bem mais restrito, logo, não havia mesmo muita demanda ou oferta…).
Por volta do final do século XX, veio o Freakonomics, que, com suas análises bem provocativas, esperava-se, iria encantar uma nova geração de alunos de Economia. O Freakonomics é um bom livro, mas tem o problema de ser muito direcionado a explicar, ao leigo, alguns artigos científicos de seus autores. Não que não ajude em sala, mas seu alcance é limitado: serve mais a um aluno que já tenha feito pelo menos duas disciplinas obrigatórias de Econometria na graduação (e poucos cursos, no Brasil, conseguem este feito…).
Já o livro do Bourne - eu já disse que deveriam providenciar sua tradução para ontem? - tem uma abordagem diferente. O autor toma vários tópicos polêmicos da pandemia e mostra como um estudante (admirador ou matriculado) de Economia pode usar o ferramental básico para compreender melhor a realidade. Melhor ainda, no final do capítulo, apresenta um quadro-resumo com os conceitos utilizados no capítulo.
Ora, se você é um professor privilegiado - destes que reclama que seus alunos leram a apostila escrita em inglês e não aprenderam - este livro é um belo material complementar. Bem ou mal, o melhor meio de prender a atenção do aluno, nesta pandemia, é discutir seus aspectos econômicos.
A seguir, quatro grandes momentos do livro, em inglês mesmo porque ninguém é de ferro.
Modelos são úteis, mané! - “Indeed, economic modeling from economists such as Daron Acemoglu suggested a more-targeted approach could have improved economic welfare. Some economists have even advocated subsidizing the social activities of low-risk groups.”
Os custos de oportunidade incluem os da sua liberdade - “Framing the virus issue as if it were a simple negative externality economic problem in need of correction then doesn’t get us very far in thinking about the best policies to deal with the virus. To really get a grip on how to approach it, we need to think about the risks and benefits of certain activities, rather than thinking about interactions per se. We have to consider the policy and behavioral approach that would minimize the overall economic welfare costs of the pandemic (which incorporates the impacts on health, economic activity, and our liberties).”
Mercados falham, mas governos também - “My employer, the Cato Institute, instituted mandatory teleworking 12 days before DC Mayor Muriel Bowser’s nonessential business closure went into effect on March 24.”
Pessoas são racionais - “In fact, the economist Ed Glaeser and his colleagues believe the public might have updated their views on the risk of the virus precisely because of those initial government restrictions being relaxed. His work on restaurant openings echoes the findings presented here that voluntary behavioral change explains almost all the initial downturn in activity.”
Legal, né? Muita gente ainda pensa na Economia tendo em conta de uns poucos indicadores que parte da profissão acompanha com mais afinco: moeda, taxa de juros e PIB. Mas Economia é muito mais do que isto. É sobre como pessoas - que não querem desperdiçar seus recursos - reagem a certas mudanças que estão fora de seu alcance. O tema da pandemia não poderia ser mais adequado para discutir Economia!
Música que não me sai da cabeça - Daddy! Daddy! Do! do icônico Masayuki Suzuki em parceria com Airi Suzuki (não é parente!). A legenda em inglês do YouTube é bem boa. ^_^
Filme: Assista o ótimo O Que Nós Fizemos no Nosso Feriado. A melhor fala do filme? Somos todos ridículos, cada um a seu modo. Divertido e importante nestes tempos de pandemia.