Cleópatra e a Cachaça de Jambu. Karaokê. Galinhas com Calças.
Asno de Ouro vs Asno de Buridan: quem vencerá? (Dica: estão equidistantes)
Eis o v(2) n(56) da news. Espero que goste.
Cléopatra - Tinha os olhos de Cleópatra, grandes, expressivos e maquiados com elegância. Bem, não vivi nos tempos de Marco Antônio (exceto se falamos do jogador do Vasco da Gama dos anos 70), mas seus olhos eram como os de Cleópatra. Afirmo-o sem a menor intenção de parecer taxativo. Dê-me um voto de confiança, leitor. Não sou especialista, mas tenho um talento para olhos da nobreza. É o que me dizem as mulheres cujos olhos já analisei.
Como ia dizendo, Cleópatra. Dedicava-se aos afazeres diários com afinco. Gerenciava sua izakaya que era muito popular no bairro. Tinha a habilidade para conversar com os clientes, deixando-os à vontade nos assuntos mais diversos. A izakaya era como uma versão do seriado Cheers, com clientes que lá faziam uma parada antes do final do dia. Cleópatra era carismática e amiga dos clientes, capaz de criar um clima constantemente amistoso no recinto.
Tendo feito alguns cursos sobre sakê (vamos escrever deste jeito mesmo. com ‘k’), servia sempre os de melhor qualidade e, algo a contragosto, também oferecia as heréticas combinações que vieram a ser conhecidas por aqui como caipisakê. Digo ‘heréticas’ porque eu, tanto como Cleópatra, não sendo um inimigo (antes pelo contrário) das experimentações gastronômicas (ou etílicas), nunca consegui aceitar que o sakê pudesse ter seu maravilhoso sabor maculado com as inevitáveis misturas destas ‘releituras’.
Apesar de servir sakê, Cleópatra, muito profissionalmente, não bebia no local de serviço, lição que aprendeu com os pais, responsáveis pelo empréstimo inicial que viabilizara o simpático estabelecimento. Claro, além do sakê, pequenas porções de edamame, hyayakko e sunomono complementavam o cardápio propositalmente leve. Afinal, Cleópatra não tinha ajudantes. One business woman.
Os negócios iam moderadamente bem e nossa protagonista, sempre atenta aos sinais do mercado, resolveu pesquisar sobre a possibilidade de servir cachaças em sua izakaya. Assim, no final de uma quarta-feira, fechou o estabelecimento um pouco mais cedo e tirou do pequeno armário de bebidas sob o balcão, as cachaças que havia comprado descuidadamente, enfileirando-as.
Na pior das hipóteses, pensou, tenho aí umas pinguinhas para o final de semana.
O leitor, claro, já se pergunta o motivo do descuidadamente frases acima e, como respeito sua inteligência, eis o motivo: é que Cleópatra as comprou observando apenas sua ordem na prateleira da loja, sem muita atenção para nada além do preço porque, sabe como é, a inflação não poupa nem nossas empreendedoras, nem nossos mais bêbados mais inocentes.
Escolheu seu copo de sakê favorito, enxugou-o com cuidado e decidiu que experimentaria uma dose de cada uma das quatro garrafas que tinha enfileiradas à sua frente. Como sempre fazia, para mimetizar a experiência do cliente, passou para o outro lado do balcão e sentou-se no banco. Olhou para dentro e simulou um pedido e reclamou de manchas de shoyu no balcão, rindo em seguida, da piada que fazia sozinha.
Encarou as garrafas, respirou fundo e pensou em como seria estar em uma izakaya japonesa. Feliz com sua imagem mental construída com fragmentos de filmes de Ozu e leituras de Kawabata, Mishima e alguns mangás, tomou coragem e abriu a primeira garrafa que era de uma cachaça mineira. Encheu o copo e sorveu a bebida em dois tempos. Primeiro, lentamente e, depois, rapidamente, como um shot.
Nada mal, pensou.
Fitou o calendário japonês da parede buscando a data para poder testar seu grau de embriaguez. Ainda se lembrava do dia correto.
Passou para segunda garrafa, uma cachaça paulista. Repetiu a experiência.
É, nada mal, disse em voz alta.
No calendário, a data que apontou com o dedo, acompanhada de sonora gargalhada, ainda era a mesma. Sentiu-se invulnerável e olhou com desprezo para a terceira garrafa. Esta era uma cachaça de jambu e, claro, Cleópatra repetiu a experiência. Sentiu uma leve dormência nos lábios.
Hum, nada mau, ops, mal, disse, um pouco mais devagar do que o normal, enquanto virava uma segunda dose em seu copo. Apontou para o calendário, mas, para sua surpresa, notou que a data parecia flutuar entre o calendário e a porta que dava para o banheiro.
A dormência aumentou e, com ela, sentiu certa euforia. Cleópatra não sabia, mas o tal jambu é afamado como possuindo efeitos afrodisíacos. Deixou-se relaxar e quase deitou a cabeça sobre o balcão enquanto cantarolava a música que marcou seu primeiro beijo com um antigo namorado.
Já ia para a terceira dose quando caiu em si e notou que estava não só tonta, mas alegre como uma viúva, digo, aquelas viúvas. Sentiu o calor irradiar-se por todo seu corpo atingindo, principalmente, a Terra do Fogo. Tentou se aliviar abanando-se com as mãos. Tonta, alcançou o frigobar do lado de dentro do balcão e pegou uma garrafa que pensava ser de água mineral. Resultado: bebeu quase metade de uma garrafa de sakê culinário.
Levantou-se em desespero, sentindo que o corpo realmente estava em chamas (chamas pink, diria alguma revista erótica japonesa). Correu para o banheiro, abriu a torneira e sorveu o máximo que pôde. Voltou para o balcão, exausta e, com a lenta queda dos efeitos da(s) cachaça(s), relaxou e adormeceu.
Acordou às sete da manhã do dia seguinte abraçada a uma garrafa de sakê, do lado de dentro do balcão e com um gosto de tofu nos lábios. No chão, restos de wasabi e shoyu davam pistas de sua noite pós-cachaças. Sobre a mesa, notou que havia deixado, a algum amor de seus sonhos, o número de seu telefone anotado em um guardanapo de papel. Um copo cheio de sakê, em uma mesa com duas cadeiras deitadas ao chão tinha, em seu interior, a aliança que Cleópatra ainda guardava consigo, de fracassado noivado.
A quarta garrafa de cachaça? Esta seria encontrada, horas depois, no depósito localizado nos fundos da loja, quase toda esvaziada em uma tina na qual boiavam algumas pequenas pétalas de flores, ao lado do estojo de maquiagem.
Financiando a Pesquisa - Uma proposta para os EUA que poderia ser pensada para nós também.
Será que você é? - A violência e os distúrbios (ou doenças, chame do que quiser, só não me falte com a verdade) mentais.
So it basically means people who are schizophrenic or have a similar kind of illness, such as bipolar disorder (in the manic phase), or drug abuse of stimulants (speed/amphetamine, cocaine etc.) leading to psychosis. These people are unable to tell reality from fiction even at a very basic level. Consequently, they are very dangerous to themselves and to others.
Quando vejo um político dizer que nada há de social em um teto de gastos, eu fico na dúvida sobre se é uma questão de desonestidade ou se é uma incapacidade de distinguir ficção de realidade. Já pensou se pudéssemos tirar esta dúvida com exames médicos? ^_^
Karaokê - Tendo estado nos ‘dois lados do debate’, posso dar ao leitor um relato muito preciso sobre a situação toda. Ok, ninguém entendeu nada, certo? É que, após muitos anos frequentando apenas karaokês de músicas predominantemente japonesas, tive a experiência de ir a um de músicas predominantemente não japonesas e, portanto, posso trazer esta experiência única e valiosa (para mim, mas aceito PIX).
Pois vamos lá. Em ambos, o público é sempre amistoso, independentemente do que você cante (ou como cante). Isto é ótimo porque se há algo na alma do karaokê, este é o congraçamento, o momento de relaxamento após um período de trabalho. Não se trata de um concurso de música, mas de se divertir sozinho ou com os amigos.
Em muitas visitas ao karaokê já vi solitários que, mesmo sem amigos, cantam e ganham aplausos de estranhos. Eu mesmo sou um destes solitários de vez em quando porque, sabe como é, o karaokê é meio que irresistível para mim.
A primeira vez, eu não me esqueço, foi num evento da colônia, em Belo Horizonte. Havia uma colega que cantava muito bem (ela tinha uma ótima voz e cantava a versão japonesa de Flashdance) e sabia que eu gostava de cantar (é, eu me arriscava em umas festinhas da colônia, entre poucos…). Também sabia que eu era tímido. Aliás, sobre timidez, eu dividia o posto de campeão com um amigo, o César.
Sem nos avisar, ela nos inscreveu para cantarmos - eu e César, juntos - uma música que, se não me falha a memória (que, o leitor sabe, não é lá estas coisas), era Hisame (氷雨). E assim foi feito. Depois do ocorrido, César não seguiu no karaokê, até onde sei. Mas eu, ah, meus caros, nunca mais fiquei abandonei o hábito.
Voltando ao assunto principal, no karaokê japonês - vamos chamá-lo assim - o pessoal brasileiro se diverte horrores cantando músicas brasileiras, americanas, italianas ou - que surpresa! - japonesas. Para eles, é tudo muito exótico e divertido. Noto que os brasileiros são sempre mais efusivos e barulhentos (às vezes, até demais).
Ah sim, pela minha experiência, é mais fácil ver um brasileiro cantar uma música de anime do que um japonês. Mas isto pode ser porque, talvez, eu os frequentadores do karaokê com os quais costuro estas memórias sejam, digamos, mais velhos.
Já no karaokê brasileiro, eu me divirto horrores cantando músicas japonesas (só canto estas, são as que sei) diante de um público brasileiro que me recepciona bem (e eu espero que alguém com o ouvido musical perceba que não sou tão ruim). Acho muito exóticas as músicas que os brasileiros cantam (são bem diversificadas). Há uma grande diversidade de estilos. Têm ritmo e letras variadas (algumas bem feias) e os brasileiros, via de regra, fazem algazarra em todas as apresentações.
Ah sim (novamente), o karaokê brasileiro me parece um fenômeno mais jovem. Raramente vejo um senhor cantando antigas marchinhas de carnaval no karaokê (o que é uma pena). Ou mesmo um Orlando Silva, por exemplo. Aliás, nem sei se teríamos vídeos de karaokê para músicas de Lamartine Babo, por exemplo.
Claro, tenho alguns hábitos e um deles é frequentar poucos karaokês. Não gosto muito dos modernos karaokê boxes. Gosto do grande público porque tenho a oportunidade de observar outros cantores e o clima de congraçamento, como já disse, é algo que não existe nos boxes. Sei porque já estive em ambos e, confesso, só frequento um destes cubículos quando não encontro um karaokê tradicional e a vontade de treinar/cantar é muito grande.
Veja só, leitor. Achei que teria convergências e divergências (comecei brincando que havia um ‘debate’ com ‘dois lados’), mas acho que encontrei, majoritariamente, convergências. Talvez a minha experiência com karaokês seja muito peculiar. Ou talvez seja isso mesmo.
De todo modo, fecho este textinho comentando sobre a música folclórica japonesa. Esta eu raramente canto nos karaokês embora, sim, existam vídeos próprios das mesmas. A música folclórica japonesa não é muito do gosto do pessoal do karaokê, nem no brasileiro, nem no japonês e, honestamente, não há nada de errado com isto.
E, sim, karaokê é muito legal.
Shinden J7W1 - Belo avião. Contudo, a guerra acabou antes que pudéssemos ver um pouco mais sobre sua alegada eficácia.
Frajolíticas - É mentira que Frajolinha só vem a mim. Após os dois anos de pandemia, sozinha no local de trabalho, ela se tornou mais amável com muitos. A idade, creio, também conta. Sou apenas mais um de seus amigos e acho ótimo. Quanto mais amigos Frajolinha tiver, melhor.
Galinhas com calças? - Eis aí um belo nome para uma newsletter. O humor inglês mora no meu coração, juro! Afinal, imagine um brasão familiar como este! A bandeira de sua família com uma galinha de calças! Taí algo que não se vê todo dia…
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Agenda - Quinta-feira é dia de Fitas, Bolachas e Catataus, no YouTube. A hora? Sete da noite, sempre.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.