ChatGPT espertinho - A diplomacia mirim - Outros assuntos.
Tragam-me a cabeça de Alfred....não...pensando melhor...
Eis o v(3), n(33) da newsletter, em pleno sábado!
ChatGPT espertinho… - Tive uma experiência interessante com a inteligência artificial. Eu o peguei mentindo. Explico.
Queria uns exemplos para uma aula sobre perda de peso morto (deadweight loss) para a economia brasileira. O prestativo amigo me deu lá uns cinco artigos - digo, deu-me um resumo de cada - e o primeiro deles me interessou:
A study published in the Journal of Public Economics in 2017 found that the Brazilian tax system creates a large deadweight loss of approximately 2.9% of GDP. The study found that this loss is due to the distortionary effects of taxes on labor and capital, as well as the high compliance costs associated with the tax system.
Incrível, não? Claro que eu lhe perguntei da referência completa e eis o que ele me disse.
Arvate, P. R., & Mattos, E. R. (2017). The economic costs of the Brazilian tax system. Journal of Public Economics, 145, 31-45. doi: 10.1016/j.jpubeco.2016.11.007
In this study, the authors use a computable general equilibrium model to estimate the deadweight loss of the Brazilian tax system and analyze the effects of tax reforms on economic efficiency and welfare.
Embora seja verdade que o Paulo Arvate exista (e, como diriam os alunos de Análise na Reta em uma piada apenas para os iniciados, é único), o artigo em questão não existe. O endereço DOI está correto, mas redireciona para outro artigo.
O artigo, repito, não existe.
Conversei com o Guilherme Stein, do
, que me relatou problema similar. No caso dele, a esperta inteligência artificial inventou uma frase do Padre Vieira. Sim, a frase também não existe. O professor André Carraro (PPGOM-UFPel) também recebeu do nosso espertinho uma referência bibliográfica inexistente.Já sabemos, portanto, que o ChatGPT não serve como substituto das buscas tradicionais por artigos. Imagine um aluno que apresente uma monografia à banca, cheia de referências fictícias. A formatura dele será tão fictícia quanto!
Então, sabemos, o tal ChatGPT é bom para algumas coisas, mas não para outras. Professores terão que checar se os artigos existem (sim, tem que pedir ao aluno o link dos artigos, senão o acesso à pasta com os mesmos) e as avaliações de conhecimento tenderão, chuto, a serem mais e mais orais.
O mercado de trabalho parece caminhar na direção de realmente premiar mais aqueles que sabem o que e como perguntar à inteligência artificial. Sem conhecimento da literatura relevante, você pode acabar em um beco sem saída com os textos de nosso jovem Pinóquio (eis aí um bom apelido para a inteligência artificial…).
No final, confesso que fiquei com ciúmes do Paulo: ele tem um artigo fictício no Journal of Public Economics e eu não. ^_^
p.s. Sim, eu procurei o artigo na página pessoal do professor, no google e até no RePec.
p.s.2. Claro que a ferramenta é útil (ajuda em traduções, revisão de texto, etc.), mas é preciso saber em que atividades ela tem vantagens comparativas em relação ao que fazemos nós, inteligências não-artificiais. Sem dúvida, já sei que ela é bem mais educada do que muitos…
Law and Economics? - O pessoal da Mackenzie está com evento interessante em maio. Confira aqui.
A que ponto chegamos? - Não sei. Só que sei ainda não é o ponto final. Nem o de exclamação. Talvez o de interrogação? Ou uma dupla escandalosa?!
A diplomacia mirim - Os ucranianos de Portugal não admiram a submissão do novo Itamaraty aos caprichos de Vladimir Putin. Para quem cresceu no DCE ouvindo histórias de como a esquerda seria ‘independente’ e ‘não-alinhada’ com países ‘agressores’, o resultado tem mostrado que, para a esquerda, na prática a teoria é outra.
Custo-benefício - Eis aí algo que ninguém nunca faz, mas adora fazer discursinho contra. Em 99.9% dos casos de birra com o ‘custo-benefício’ temos adultos vacinados e capazes que nunca fizeram a conta, mas acham que ‘o problema é mais complexo’.
A estes, um conselho simples: batatas não nascem por si só. Vão lá plantá-las, por obséquio.
Aplicar provas… - é sempre uma oportunidade para eu praticar meu primitivo lado haikaísta ou, para ser mais exato, senryuuísta. Já mencionei a diferença de um para o outro aqui, em um número anterior da newsletter (o leitor pode fazer uma busca).
Só que, sim, preciso melhorar meu vocabulário. A conferir.
STF é sinônimo de segurança jurídica? - Diga-me você, leitor. Eu tenho visto muita mudança de voto por lá. Por que isto acontece? Acho que foi Posner quem escreveu um artigo famoso que os amigos do Direito adoram citar, sobre o que maximizam os juízes. Adoram citar, mas nem sempre procuram responder à pergunta abertamente, em pesquisas.
Posner é mais direto do que muito brasileiro. Ao final do artigo, ele diz:
I do think that there is value in treating the judge as an ordinary person rather than as either a Promethean, intent on changing the world, or a saint, devoid of human weaknesses, biases, and foibles. The vast majority of judges are of course neither. They are not, for the most part, either power seekers, like some politicians, or truth seekers, like many scientists. The methods of selection and reward, and other institutional constraints that make truth-seeking a plausible if not entirely realistic goal to ascribe to scientists, do not characterize the judicial environment. There is a risk, acknowledged in the preceding paragraph, of going overboard here. But although judicial candidates are pretty carefully screened for honesty and basic professional competence, judges are generally not selected or promoted primarily on a merit basis. They certainly are not paid on that basis—and they are not supervised at all.
Será que o mesmo se aplica à selva brasileira? Com a palavra, o pessoal de Law and Economics. O que os juízes maximizam? Tendo a achar que tem a ver com o vil metal. São mais homo economicus do que muito economista. É meu palpite. Prove me wrong. Adorarei estar errado.
Ironia - Ironia é lecionar custos da tributação na véspera do feriado de Tiradentes. A imprensa - geralmente tão sisuda para defender a ciência e os ‘especialistas’ - anda muito quieta diante de algumas atrocidades cometidas contra a lógica da ciência econômica.
Saudades da época em que tínhamos jornalistas que realmente entendiam de Economia e não se furtavam a apontar erros de quem quer que fosse. Foram-se os tempos e foram-se os bons. É…
De toda forma, caro assinante, a gente volta em breve, com mais novidades (ou mais do mesmo). Bom final de semana!
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Muito legal o artigo sobre o ChatGPT.... já compartilhei com meus filhos que estão em idade escolar...