ChatGPT e o colapso do tempo - Vovô - Outros breves despachos.
Não se engane, voltaremos ao tamanho normal em breve!
Chegou o v(3), n(30) da newsletter. Hoje, um pouco menor do que o usual.
ChatGPT e o colapso do tempo - [um texto preliminar] Sempre achei bonito o “…e o colapso do tempo”. Acho que era o pedaço do título de algum livro. Nunca havia encontrado a oportunidade de usá-lo, mas acho que o momento é-lhe propício.
O povo da Economia está fazendo um ‘auê’ danado sobre isto. Houve gente que andou dizendo que já era inovador e que seu método didático-pedagógico já era o melhor do planeta. Outros falaram com repórteres e o que saiu foi algo como: “vejam só, as escolas de Economia já inovam muito e estão se preparando para um mundo que (desde o início dos tempos) é disruptivo (ou você acha que a descoberta do fogo não foi disruptiva?).
É o mesmo povo da Economia que, quando está numa Instituição de Ensino Superior (IES) pública, reclama que ‘ah, o aluno da graduação não vê mais análise de projetos’ ou que ‘ah, o aluno da graduação não vê mais programação linear’ ou qualquer outra lamentação que se chora no muro das antigas-disciplinas-acadêmicas-que-aprendi-e-que-gosto-muito.
Ou é o mesmo provo que, nas IES privadas, lamenta também, só que as queixas são outras. Uma, aliás, justa, para mim, é sobre a lentidão do governo (lembra da hesitocracia?) em alterar regulações sobre o ensino superior. Bem, não é sobre o alterar como um fim em si mesmo (você sempre pode alterar para pior e nossa história está aí, até para quem for cego, surdo ou mudo), é sobre alterar abraçando a natureza do ser humano em sua característica mais interessante: a criatividade.
Criatividade? Sim, esta mesma. Esta que fez o homem descobrir o fogo, inventar a escrita, inventar máquinas a vapor, foguetes, internet, ChatGPT e, claro, governos com estamentos burocráticos mais ou menos hesitocráticos.
É interessante, pois, contrastar este discurso muito otimista (quando o assunto é a própria IES) com o discurso pessimista (quando o assunto são as restrições do MEC). Afinal, você consegue ou não inovar, gestor? E você, regulador? Por que todo este silêncio acerca do ChatGPT? Vai criar grupos de trabalho para nos dar alguma resposta em 10 anos? Ou será mais ágil e, mais importante, eficaz?
A resposta está no meio do caminho, imagino. Sim, o “colapso do tempo” é adequado aqui. Como na antiga Teoria das Catástrofes (da Matemática, ok?), o ChatGPT parece gerar um colapso do tempo. Do meu, do seu e do nosso. Não adianta me dizer que você tem ‘trilhas de conhecimento’ ou que seu curso tem ‘quatro econometrias’ à disposição do aluno. Tudo isto pode ser inútil agora (ou não).
O ensino (já que ‘educação se dá em casa’) só faz sentido se melhora o bem-estar do aluno. O bem-estar do aluno só melhora se ele expande suas opções de consumo e lazer (ou as diversifica, se você quiser). Esta expansão só é possível se o aluno expande seu conjunto de habilidades e este só se expande se você o ensina bem (e se ele, contra a própria vontade ou não, estuda). Já dizia o livro-texto: aumentos na produtividade trazem prosperidade às nações que, inclusive, ficam mais ricas para distribuir bolsas de pesquisa para quem queira estudar a desigualdade, por exemplo…
Obviamente, não se pode fugir da demanda do mercado que, aliás, é dinâmica, imprevisível, como o é o ser humano. Tentar regular tudo uniformizando e tolhendo a experimentação é um baita de um erro, um retrocesso ou um tiro no pé, se você preferir uma metáfora mais próxima de nosso cotidiano violento.
Eu sei que alguns gostariam que o ensino fosse apenas um passatempo agradável no qual você aprende sobre a arte, a beleza ou a busca da verdade. São aspirações legítimas e que podem até - sem ironia - melhorar seu desempenho no mercado de trabalho (ainda que seu objetivo seja mais contemplativo). Para isto existem bons cursos (obrigado, economia de mercado, pela destruição criativa) online. Só não lhe dão diplomas, mas, convenhamos, um certificado já está de bom tamanho, não?
Sem dúvida, a chegada do ChatGPT causa um belo de um barulho. Avaliar um projeto de pesquisa, agora, não faz sentido se não houver uma ou mais etapas com apresentações orais, com checagem por avaliadores e, claro, com punições claras para plágios e afins.
Ler e checar (para plágio) um projeto de vinte páginas não é mais suficiente para realmente atestar sua qualidade (ou melhor, a de seu autor). As escolas de Economia, por exemplo, já se mexeram quanto a isto? Pensaram (ou estão pensando) em como lidar com a mudança tecnológica?
Ironicamente, noto que, há anos, alguns pesquisadores enchiam a boca para falar da tecnologia como um objeto de estudo distante, que nunca afetava, significativamente, a pesquisa. Muitos podcasts, TED Talks, colunas em revistas e palestras (pagas ou não) foram feitas sobre a maravilhosa (ou sombria) tecnologia.
Agora, como se vê, o jogo mudou e, a cada dia, uma previsão catastrófica (chutes terrivelmente aleatórios) nos diz que todos/1 milhão/só os caras do outro bairro perderão empregos e que o mundo entrará em colapso, com a pobreza se espalhando e todos mendigando por um prato de comida.
É, parece um cenário de filmes distópicos dos anos 70 (aliás, os dos anos 70 são os melhores). A imprensa demanda estas previsões catástroficas (vende jornais/aumenta ‘cliques’) e pesquisadores, como qualquer ser humano, adoram que mais gente ouça suas previsões e teorias sobre a tecnologia.
A melhor forma de se lidar com a destruição criativa é abraçando a experimentação (como no caso das charter cities, em um outro contexto), não com a uniformização, nem com o catastrofismo.
Vovô - Estive com meu sobrinho (aproximadamente 7 anos de idade) em uma daquelas livrarias que também são papelarias e é claro que ele me pediu para comprar algum daqueles livros infantis com atividades e assim foi feito.
A livraria fica ao lado de sua casa e, assim, ele é conhecido de todos os funcionários. Desnecessário dizer que é muito querido e que se ‘algazarra’ fosse o nome de um super-herói, ele poderia ser o “Capitão Algazarra” que, com capa e uniforme, sairia por aí enlouquecendo pais…e tios.
Da fila do caixa até o pagamento devo ter respondido umas vinte perguntas dele, uma delas, inclusive, sobre qual seria a arma mais destrutiva do mundo. Eu lhe disse que seria uma bomba nuclear (até conferi no ChatGPT), mas, ao saber do tamanho atual deste artefato, ele me disse que preferia a arma mais destrutiva do mundo…que ele pudesse carregar.
Obviamente, o desejo dele é também o meu e, assim, encerramos o assunto, em nome da paz mundial.
Após pagar pelos livros (é, também comprei um, mas não era um livro infantil…) a balconista virou para ele e disse:
“- Hoje você veio com o vovô, né?
- Eu sou o tio. - Respondi.
- Ah, desculpa…
- Tudo bem, tudo bem.”
Foi assim que, na véspera da Páscoa, eu descobri que sou um tio-avô que, junto com o Capitão Algazarra, está em busca da mais destrutiva arma portátil do planeta. A vingança virá. Anote aí.
Notes e Twitter - Até agora, o Notes me pareceu legal, mas sem o mesmo apelo da outra rede social.
Etiquetas - Por que não uma etiqueta em todo político (ou em toda propaganda política) dizendo: pode conter alto teor de corruptibilidade? Os reguladores da justiça eleitoral não falam que estão sempre lutando pela lisura das eleições? Eleições são feitas de candidatos. Taí uma campanha que valeria a pena lançar.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Ser confundido com avô é um elogio ☺️