Carta de Natal -Eu guiando os norte-coreanos... - Em algum momento... - Morte voluntária - Outros.
"...no ventre está sediada a verdade de meu ser, ora, se eu abro meu ventre, cabe a você considerar se eu sou um ser verdadeiro ou a aparência de um homem".
O Natal se aproxima e o v(3), n(70) é, ora bolas, o septuagésimo número deste ano. Creio que é o penúltimo. O trecho acima é do A Morte Voluntária no Japão, de Maurice Pinguet, p.128. Ah sim, e um recado de Juó Bananére para você: Eh! Uno Felixe Natále pru’ceis tutto, sus garadigavallo!
Carta de Natal - Tradicional produto de minha perturbada cabeça é esta idéia - com acento - de que alguém quer ler uma carta de Natal. Neste 2023, confesso, está sendo difícil escrever a carta. Nos últimos dias - justamente porque não me antecipei… - os acontecimentos da vida têm batido forte no meu bom humor. O que restou dele ainda se mantém, mas preciso mesmo de um descanso, coisa que não terei nos níveis de que preciso nos próximos dias.
O ano de 2023 foi pródigo em agitações. O divórcio finalmente veio e a morte visitou os Shikida sem muita piedade. Não preciso dizer que foi um ano em que fiz novos amigos, para minha surpresa, como eu já havia comentado por aqui, há algum tempo.
Houve também o reencontro com antigos alunos, hoje amigos, mostrando que o ciclo de renovação é o velho normal. Aliás, o velho normal, como previ lá no início da pandemia, prevaleceu. Como sempre disse: choque tecnológico sempre houve, há e haverá. Isso é o normal e também é normal nos adaptarmos (não sem alguma dor, obviamente).
Por conta do tempo escasso, li menos, mas aprendi a conviver bem com o choque tecnológico mais famoso do ano: o ChatGPT e similares. O fim dos empregos e da vida humana em nosso tempo, previsto para ontem, como sempre, não aconteceu. Será assim mesmo depois que você se for? Sim. Pode ficar tranquilo.
Esta cartinha gostaria de lhe transmitir um maior otimismo e alegria neste Natal. Infelizmente, desta vez, ela tem seu poder reduzido. Cabe a você buscar forças dentro de seu maior inimigo: você mesmo para, paradoxalmente, superar as adversidades que o impedem de ser mais feliz. Transforme seu maior inimigo em seu maior amigo, pois.
Feliz Natal e um Ótimo 2024!
Eu guiando os norte-coreanos… -Eu (enviando-lhe uma foto minha): Using the same image I just provided, could you use it to generate a more realistic professor Claudio Shikida guiding the North Koreans to a glorious socialism?
ChatGPT: I can create a new image based on your description, using the previously provided image as inspiration to depict a more realistic portrayal of Professor Claudio Shikida. However, as per the guidelines, I will make sure the image generated does not reproduce the exact likeness of the individual. Let's proceed.
The image has been created, showcasing an artistic interpretation of a scholarly figure inspired by the individual you provided, guiding people towards a vision of the future.
Maroto ele, não?
Em algum momento… - Em algum momento deixou de ser importante. Não isto ou aquilo, mas ele. Foi de repente, em um dia de sol, com muitas nuvens. Estava trabalhando em seu texto quando, do nada, deixou de ser importante.
A chocante perda de importância veio em um momento de epifania, talvez gerado pela estranha combinação de suco de uva com um prato frio de arroz e fritas de alguns dias que se encontrava em sua geladeira. Pelo menos foi assim que ele elaborou a estranha ocorrência.
Tendo, pois, perdido sua importância, restava-lhe saber o que fazer com a novidade. Contar para os amigos? Mandar um e-mail para o RH da empresa perguntando sobre como proceder? Mudar os planos para o encontro com os amigos no bar? Pular da janela?
Todas estas opções pareciam-lhe inócuas agora. Afinal, ele perdera a sua importância e, este sim, era um fato importante! A sensação era um misto de desconforto com a de uma alegria intensa, quase infantil, como a de uma criança que ganha uma jabuticaba do tamanho de uma bola de basquete.
Em suma, colocava-se a questão: o que fazer agora? Tal como um goleiro diante do pênalti, ele não sabia para que lado pular, ou se ficava ali, no meio do gol mesmo. Os pênaltis eram mais importante do que ele, pensou, com algum orgulho por perceber a ironia da situação.
Agora que não tinha mais importância, será que não precisaria mais fazer a declaração anual do imposto de renda? O pensamento lhe agradou. Talvez ele pudesse cometer pequenos furtos, médios furtos e até grandes furtos porque, não sendo importante, não iria preso. Ou não. Porque, afinal, o que ele furtasse poderia ser, aí sim, importante. Importantíssimo até.
Pensou mais um pouco e percebeu que tudo que pensasse não teria importância. Nem mesmo aquelas bobagens envolvendo a filha do seu Zé, da padaria. Ou aqueles planos mirabolantes de viagens intergalácticas. Nada disso era importante. Não mais. Foi quando bateu uma certa tristeza porque, ora bolas, seus pensamentos não tinham mais importância.
Correu para o quarto e se encarou no espelho tentando fazer caras e caretas de um guerreiro asteca cheio de ódio. Ou de um viking cheio de ódio. Ou mesmo de um entregador de pizza, cheio de maus modos porque o trânsito está um inferno, não é? Tantas caras e caretas e, mesmo assim, nada disso era importante agora.
Qual a importância disto tudo, afinal? Por que é que um homem perde sua importância assim, de repente? Quem causou isso? Thanos? Zeus? O STF? Por que é que estamos falando de algo sem importância? Estas são perguntas que vou levar ao autor deste texto. Ele deve saber as respostas, embora não seja lá um cara muito importante…
Morte voluntária - Adquiri um exemplar do antigo A morte voluntária no Japão, de Maurice Pinguet (Rocco, 1987). Ia ler, mas pensei: como podem os euroafrodescendentes escreverem sobre o tema? Eles não têm lugar de fala. Logo, queimei o livro, enviei mensagens nas redes sociais condenando o autor e pedindo seu cancelamento e voltei, feliz, para minhas leituras democráticas, não-racistas, nem machistas.
Morte voluntária do quê mesmo?
Hesitocracia - Minha última coluna na Exame, deste ano. Trato do tema da economia das plataformas, inspirado fortemente em um ótimo livrinho do Michael Munger, um economista que sempre vale a pena ler.
É, pois é… - O ano de 2023 se aproxima do fim. Antes, porém, há o Natal. Espero que o assinante ou seguidor, enfim, o leitor desta newsletter tenha se divertido por aqui neste ano. Caso comemore o Natal, torço para que seja um ótimo e especial dia, sozinho ou com alguém.
O ano de 2024 está chegando e as perspectivas não são lá muito otimistas, pelo menos em minha opinião. Não piorando, a patuléia já fica feliz.
Neste ano, a newsletter seguiu uma política mais lenta, com apenas um número semanal, devido ao aumento da carga de trabalho por aqui. Ano que vem, é a política dos editores, seguirá igual.
Comentários ou sugestões são sempre bem-vindos, aliás.
Eu faria uma retrospectiva diferente, mas o momento não é dos melhores. Diante dos últimos acontecimentos em minha família, fico devendo a vocês uma retrospectiva mais animada.
Dani Rexona - Divirta-se. [Pensei em adiar este link, mas vou deixá-lo. Nem tudo precisa ser triste]
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.