Carlos e Alberto - Índice de Miséria - Columbo e a Burocracia - Etc.
Tudo o que você pensar poderá - e irá - ser usado contra você. Tudo o que você não pensar, também.
Chegou o v(3), n(51). Está aí, na porta. Digo que você está ou que saiu?
Carlos e Alberto - Os caminhos deles se cruzaram em 1967, durante as férias escolares. Foram só se cruzar que ficaram amigos e foram tomar um chopp. O mesmo não se pode dizer deles, digo, dos donos dos caminhos. Mermão, ali era só briga atrás de briga (o que implica que à frente também há sempre uma briga).
As férias, ah, as férias. Momento mágico para crianças e estes dois podiam discordar em tudo, menos em seu gosto pelas férias. As famílias, de Belo Horizonte, obviamente se encontravam em Guarapari que, aos olhos dos meninos, parecia ser apenas uma extensão do estado do pão de queijo. Final das aulas? Alegria em casa. Era assim todo ano.
Hospedavam-se em um mesmo prédio, perto da praia. E por que as brigas? É que os meninos tinham um problema de comunicação. Alberto, filho de seu Jorge e dona Rita, tinha a mente mais detalhista. Carlos, filho da tia Rosana e do seu Pedro, era (bem) mais avoado, aéreo (ou marítimo, nunca soube o porquê desta preferência pelo ar…a figura de linguagem não nos daria a mesma sensação se estivéssemos boiando no mar? Ah, talvez seja isto…voar parece exigir menos esforço do que nadar, embora ninguém saiba voar, e sim nadar…bom, isto é apenas uma digressão e já está extensa demais para tal, motivo pelo qual me despeço e volto à historinha).
Alberto e Carlos, a propósito, tinham a mesma idade: oito anos. A cor deles? O sexo? Se eram versados na Escola de Frankfurt? Honestamente? Você precisa mesmo disto para seguir lendo um texto ficcional? Se sim, por favor, procure um psiquiatra bom, não um que seja como você, cheio de manias estranhas. Ou então procure um veterinário. Ou um mineralogista. Outra digressão…
Pois eu falava - e falarei - sobre Alberto e Carlos. Os dois fizeram amizade logo quando seus caminhos se cruzaram (lembrando que os caminhos ficaram amigos e foram tomar um chopp) e nada poderia ser melhor para duas crianças do que criarem laços de amizade em viagem de férias. Pelo menos é como penso que todas as crianças pensam.
Primeirissimamente, claro, foram jogar bola na areia. Futebol de praia é o nome, para quem não é brasileiro, nem criança. Davam-se bem jogando apenas em times opostos porque, como já disse, Alberto era detalhista e Carlos, o seu oposto. Assim, quando Carlos dizia: passe a bola!, Alberto perguntava: passar como? Rasteirinha? Lançamento? Agora mesmo?, o que resultava, quase inevitavelmente, em roubada de bola seguida de gol.
O fato é que ninguém tem culpa de nascer mais ou menos aéreo (ou marítimo). Nem de nascer mais ou menos detalhista. É do jogo. O problema é quando ambos precisam atuar na mesma equipe (presencial ou remotamente). Pois o jogo acabava e ambos iam nadar ou fazer castelos na areia (quem nunca?), o que também era motivo de brigas por motivos tão óbvios que não vale detalhar (claro, caso você seja como Carlos, ou apenas minimamente atento).
Carlos, Alberto…quantas vezes na vida amizades sofreram abalos ou se romperam por conta da dificuldade de comunicação entre pessoas simplesmente diferentes em seu modo de ser? Olha que nem falei destas bobagens sobre fanatismo (identitarismo, paixão pelo time etc.).
Porque, sabe, leitor, eu perco o amigo, mas não perco a piada. Afinal, o amigo perdido a gente quase sempre acha depois (uma vez encontrei dois deles na gaveta das meias, embora não tenha encontrado o pé direito de uma delas…aliás, como é que se sabe qual pé é o da meia?). Dói mesmo quando você perde o amigo não por uma piada, mas por um mal entendido.
Dá uma sensação desagradável, o valor da vida cai e a morte só falta lhe dizer que seria melhor você ir com ela (para Guarapari ou para Sapopemba?) do que acordar no dia seguinte. Se a morte falasse, acho que diria também que você se comunica muito mal e ainda lhe daria uns tapinhas na cabeça.
Carlos e Alberto cresceram brigando pelos detalhes, mas não deixaram que isto rompesse suas amizades (os caminhos bêbados que o digam!). Não foi fácil, mas, sabe, eu acho que vale a pena o esforço. Não é todo dia que você encontra um amigo. Aliás, quase nunca. A maioria das amizades é forjada no calor da existência (humana para mim, não-humana para você, que é chato(a)), não encontrada já lapidada na esquina da rua da Bahia com a avenida Augusto de Lima (ali, aliás, encontra-se o edifício Maleta, não as amizades, embora…).
Sim, eu sei. A vida é mais complicada quando surgem os mestiços “Carlos Albertos”, que, talvez, sejam o retrato mais fiel da minha, da sua, da dele…personalidade. Não, não se apavore. O mundo não ficou mais polarizado, radical, fascista, nem comunista por causa do montão de “Carlos Albertos” que o STF autorizou que circulassem por aí, a despeito de não cometerem crimes.
Não há com o que se preocupar. Basta ser um pouquinho mais tolerante e paciente e, como dizem os coachs (após embolsarem uns milhões de cobres), empáticos (eu ainda prefiro simpáticos e por isto mesmo não conseguiria ganhar um tostão como coach).
Cultura do Estupro…Fiscal - Pelos níveis históricos de sucessivos déficits, endividamento e aumentos de carga tributária (uma combinação disto seria melhor que o famoso índice de miséria), creio que a sociedade precisa falar sobre a cultura do estupro fiscal.
É que aqueles que seguem o mantra de que imposto é vida (sem reforma administrativa, aí que é mesmo…) têm estuprado o bolso dos que pensam que imposto é roubo.
Já que, no país dos analfabetos funcionais, a repetição de conceitos automaticamente os torna sérios, eis um para ajudar na luta pelo verdadeiro ajuste: cultura do estupro fiscal. Acho que podemos até falar de contribuintocídio (na verdade, não é contribuição já que não há opção, apenas obrigatoriedade, mas você entendeu o ponto).
Índice de Miséria - Já que falei dele (para maiores explicações, veja o link no texto anterior), usando a taxa de desemprego e a de inflação anuais do Ipeadata (não estou fazendo um exercício acadêmico, então, sem muito rigor aqui), com dados de 1991 até 2022, calculei o índice para as administrações presidenciais de Collor até Bolsonaro (média aritmética simples). Note que, como começamos em 1991, o índice da administração Collor está subestimado pois a taxa de inflação de 1990 foi maior que a de 1992. Ah sim, a inflação, aqui, é aquela obtida pela variação relativa do IPCA.
Eis o (nada surpreendente) desempenho:
Collor (subestimado): 1257.15
Cardoso I: 21.56
Cardoso II: 22.30
da Silva I: 18.81
da Silva II: 14.77
Rousseff I: 13.06
Rousseff II/Temer: 17.14
Bolsonaro: 17.24
Pontos de atenção para quem quiser seguir nisto: (a) usar dados mensais, agregando-os anualmente; (b) aplicar algum filtro para dessazonalizá-las; (c) estender o período; (d) checar os pontos importantes em cada administração (não dá para ignorar dois anos de pandemia na análise, por exemplo) e, finalmente; (e) pensar se a média adequada é a geométrica, a aritmética, com ou sem ponderações.
O verbete daWikipedia mencionado traz, inclusive, algumas variantes deste intuitivo indicador criado pelo falecido Arthur Okun (importantíssimo, na história da Ciência Econômica).
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Columbo e a burocracia - Nem mesmo um inspetor tem a vida facilitada com a burocracia (e nem falo do Brasil, hein?).
Se o Leão morder, case-se - O dia em que o governo resolveu cobrar imposto de uma minoria: os não-casados e de como feministas aplaudiram. Calma, não fique irritadinho(a). Vá lá ler primeiro. Ou toma maracujina que passa.
5 Links voltou! - Ao menos é o que parece.
Ludovico é um anjinho agora - Hoje, 15/08, quando esta carta já estava programada, recebo a notícia de que Ludovico não estará mais disponível para conversas ou festas. Um assinante havia desejado-lhe melhoras e eu o agradeço.
Minha convivência com o simpático felino cor de neve foi curta, mas o suficiente para me deixar triste com sua partida tão prematura.
Até a próxima quarta!
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
o texto carlos e alberto me lembrou os textos do woody allen [editei, era pra ser um elogio...]