As Gárgulas de Argila. Rua 7. O Livro dos Mortos. Um haikai. Metrô em SP. Harry Capote e o Caso do Superchat Perdido.
Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau.
É este o v(2), n(57) da newsletter. E hoje é sábado. É, você pode ter os dois ao mesmo tempo!
As Gárgulas de Argila - Seria um bom nome para uma novela brasileira, só que nos anos 60 porque, hoje em dia, a galera não sabe nem o que é uma gárgula, nem o que se faz com a argila. Aliás, acabo de descobrir que gárgula é um substantivo feminino.
Ora, se podemos ter Mulheres de Areia, porque não Gárgulas de Argila? Não vejo impedimento. Poderia ser também um título para mais um mistério a ser resolvido pelo doutor Palhinha. Ou o nome de um filme de James Bond. Ou, claro, o título de uma redação de tema livre de algum moleque no colégio.
Mas eu me lembro mesmo é do (isso mesmo, ‘do’) Gárgula Cinzento, vilão de umas histórias antigas do Capitão América publicadas aqui na época da Ebal.
Rua 7 - É um sonho recorrente (vai, umas três vezes, que eu me lembre, não tão recorrente assim…) e, claro, não sei o que significa, se é que algum significado há. É sempre uma rua 7 (não uma rua sete, mas uma rua 7, assim mesmo) que é difícil de ser encontrada e cuja localização mais simples é referenciada por uma casa verde.
A história sempre envolve a mim e a uns amigos (ou então somente a mim) como a pessoa que tenta chegar neste endereço. Em algumas versões, saio de uma casa de esquina em outro bairro cuja localização sempre confunde os aplicativos, pois a casa fica justamente em uma bifurcação. Assim, sempre, no sonho, o dono da casa recomenda que o aplicativo seja chamado para uma rua próxima. Tudo isto só para sair em busca da tal rua 7.
Em algumas versões do sonho, a rua 7 fica no bairro da Sagrada Família, em Belo Horizonte. Em outras, na cidade de São Paulo ou em alguma cidade genérica. É raro eu me lembrar de sonhos com detalhes. Um que me lembro é que, neste há sempre que se passar por uma favela para se chegar ao endereço enigmático e, claro, o sonho nunca esclarece o que se vai fazer por lá porque, como diz o chavão, o importante é a jornada, acho eu. Ou porque o sonho é mesmo fraquinho, destes que a gente compra em liquidação.
Eu diria mais. É um sonho encalhado. Fica lá, ninguém compra, empoeirando nas estantes da livraria. Que diabos alguém quer com a rua 7 de endereço tão difícil que as pessoas só sabem da casa verde ao lado? Fosse uma trama terrorista, ao menos, daria um ou dois episódios de um seriado. Mas não. É só um endereço. E nem é um Ultraseven. É uma rua 7. E por que o ‘7’? Não poderia ser um ‘999’? como na ópera espacial de Reiji Matsumoto, Galaxy Express 999? Ou como no seu outro desenho menor, Submarine Super 99?
Ou que ao menos fosse um agente 007. Ou mesmo Os Sete Samurais. Mas é só uma rua 7 que, no sonho, alguém mais chato do que eu (é, há uma competição entre a minha versão real e a(s) minha(s) em sonhos para ver quem é mais chato) grafou como ‘7’ e, portanto, buscas por ‘rua sete’ só levam os aplicativos para endereços errados.
Nem vou perder meu tempo reclamando muito da tal casa verde. É óbvio que a Casa Branca teria muito mais charme (já foi até invadida por terroristas em um filme que se repete na TV paga mais vezes do que seria em 20 anos de Sessão da Tarde…).
Sonhos, bah.
O Livro dos Mortos - Disponível para download aqui. Caso você seja um morto (ou pretenda, ou mesmo to pretend) ser um, eis sua oportunidade de se adiantar na leitura. O legal é que é bilíngue, se é que você me entende (se não me entende, well, veja a figura aí).
Só fiquei preocupado com meu lugar de falha. Como não estou morto, será que eu deveria iniciado a leitura do livro? Terei que pagar reparações históricas aos mortos? Ou serei amaldiçoado com a morte por ter começado a ler, ainda vivo? O sindicato mundial dos mortos (com sede em Brasília) virá para me perturbar por ter lido o livro?
Muitas perguntas, tão poucas respostas. E quase ninguém tem teee-emmmm-pooo (ler como na música da missa).
Quanto vale uma estação de metrô? - Ari e Arthur publicaram este interessante artigo no Caos Planejado. Só para você ter uma idéia dos resultados, veja o trecho a seguir.
Os resultados do nosso modelo indicam que a proximidade às estações do Metrô é um diferencial no mercado imobiliário: cada quilômetro de distância de uma estação do Metrô reduz o aluguel em 8,29% em efeitos totais, sendo 4,51% em efeitos diretos e 3,78% em efeitos indiretos. Os efeitos indiretos são os chamados efeitos de transbordamento da vizinhança: o simples fato de o imóvel estar perto de outros imóveis próximos ao metrô já o deixa mais valorizado.
Interessante, não? Cidades brasileiras são um prato cheio para quem deseja fazer pesquisas em Economia. Leia lá o texto do Ari e do Arthur. Vale a pena.
Haikais e Senryuus - Acho que já comentei que gosto de ambos (e também que os primeiros se referem, sempre, às estações do ano e que os últimos são mais livres). Após muito tempo sem me exercitar, fiz este.
炉に近い
使命がないよ
暗闇ね
(Ro ni chikai / Shimei ga nai yo / kurayami ne)
Tradicionalmente, no haikai, você se refere às estações do ano não diretamente. Como tudo em cultura japonesa, nunca é cortês ser direto ou explícito e, portanto, ao invés de jogar uma ‘neve’ ou ‘frio’, você tem que se referir ao inverno, por exemplo, de forma indireta. Por isso o ‘ro ni chikai’ (cuja pronúncia é ‘ro’ como em ‘Ororo’, e ‘chi’ é, na verdade, ‘ti’, como em 'Tia’), ou seja, ‘perto da fogueira’.
Uma tradução deste poderia ser: Perto da fogueira / Sem missões / Escuridão… A interpretação? Tenho a minha, mas faz parte da ‘experiência’ (para usar um termo da moda) o leitor tentar captar a imagem que eu visualizei. No mínimo, outras imagens aparecerão.
Vou chamar esse aí de Haikai #1 de 2022 invernal em homenagem àquele filme chato da Marvel.
Fitas Bolachas e Catataus e o Caso do Superchat Perdido - Por culpa do último programa adquiri dois livros (o tema foi nonsense, ou seja…). Anunciei o programa em edição extraordinária e espero ter contribuído para a audiência. Não assistiu? São duas horas de muita diversão. Já falei aqui e repito: melhor programa para o início da noite nas quintas.
Aliás, foi neste episódio que Harry Capote notou que algum espectador do programa enviou dois superchats, em momentos diferentes do programa, para que fossem lidos. Para quem não sabe, o superchat vai sempre com um agrado, que os locais geralmente chamam de caraminguás.
O curioso é que, durante a transmissão, algo misterioso aconteceu: um dos superchats não foi lido. Harry ficou intrigado. Os apresentadores do programa não encontraram a mensagem. O autor da mensagem esperneou um pouco, mas se conformou.
Contudo, o evento era um prato cheio para o obcecado Harry, espectador assíduo do programa. Tendo lido a reclamação do autor da mensagem ao final da transmissão, na janela do chat, ocorreu-lhe que podia ser este desaparecimento parte de algo muito maior e passou a elucubrar sobre o ocorrido. Elucubrar, claro, pois quem ‘elocubrava’ era sua amiga, Eloísa.
Que interesses ocultos operaram para que a leitura não ocorresse? Haveria uma mensagem cifrada, destinada a algum grupo terrorista, com a localização de depósitos de munições das Forças Armadas? Seria o seu conteúdo perigoso demais para ser lido para o grande (supondo que a audiência do programa seja mesmo tudo isso) público? Revelaria as identidades de pequeno grupo de pessoas que comandam a geopolítica no submundo da política (a deepweb da política, diriam alguns)? Seria um comando que acionaria o assassino oculto em um dos espectadores, despertando-o para a missão mortífera?
Harry não sabia.
Com a cabeça cheia de hipóteses, fez a varredura na janela do chat em busca da mensagem perdida. Encontrou-a escondida entre algum diálogo menos interessante (algo envolvendo receitas de bolachas de trigo de alguns monges medievais), atrás de uma cortina roxa (o tema do programa, lembro ao leitor, era o nonsense).
Silenciosamente, deu um print antes que alguém notasse e tentasse ocultar a mensagem. Aqui está, leitor.
Harry percebeu que a chave do mistério estava em ‘*u’. Obviamente o ‘*’ é parte de algum código secreto que, devidamente traduzido, pode levar às pessoas certas o poder de causar o caos e o desespero aos não-iniciados.
Ou talvez as possíveis ligações de Orlando com o tal Luigi com o centro (secreto) do poder mundial poderiam não ser mesmo apenas fofocas dos desafetos. E que arma terrível seria o ‘*u’? Algum controle de satélites militares norte-americanos? Ou alguma senha que destravaria um frasco que contém algum vírus mortal?
Até lhe ocorreu que o ‘*u’ poderia ser aquilo que o leitor imaginou, há alguns minutos (eu sei, você tem uma mente pervertida, né?). Fosse este o caso, a única convicção que Harry tinha era que o ‘*u’ não seria tatuado. Afinal, quem, em sã consciência, faria tamanha automutilação?
Uma última hipótese, claro, era a de que os apresentadores poderiam ter deixado passar a mensagem por distração. Uma falha humana mesmo. Seria óbvio, mas Harry jamais acreditou em obviedades. Aprendeu, nas redes sociais, que todo e qualquer problema é sempre muito complexo.
Pensou em chamar o doutor Palhinha, o detetive criado por Alexandre Soares Silva, mas lembrou-se que, como não havia comprado o último livro do autor, não teria como convidar o detetive.
Harry ainda tenta desvendar este mistério.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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