Aniversário de 4 anos - O que a égua, presa no telhado, estaria pensando?
Extra! Extra! Neste dia, há 4 anos...
1.
No dia 10 de maio de 2021, em meio à pandemia, comecei esta newsletter. Sim, é verdade, os primeiros números tinham tom mais acadêmico, mas um bicho dentro do meu cérebro - acho que é uma lombriga (será que lombrigas chegam até lá? Já não me lembro…espera, será que esqueci porque…) - insistia para eu tentar uns textinhos ficcionais. Ao longo do tempo, a composição do conteúdo realmente mudou, pendendo mais para a ficção.
Tem sido uma jornada fascinante. Perco assinantes e ganho assinantes de maneira bem estranha (preciso estudar o fenômeno). A maior parte deve ser robô ou espião chinês. Uns poucos ali são conhecidos meus, uns outros são amigos. Um subconjunto disso tudo, eu acho, lê a newsletter. Não importa. Todos têm meus agradecimentos.
2.
Queria muito que este aniversário só trouxesse boas notícias, mas a tragédia no RS estragou tudo. Será mesmo que só haja coisa ruim nisso tudo? Bem, não exatamente. Parte das pessoas percebeu o significado da frase: o poder emana do povo. Pois ele emana e, normalmente, transferimos boa parte dele para alguns que nos representam e que são escolhidos. Outros, por sua vez, fazem concursos públicos, mas não necessariamente recebem poder emanado do povo. Há pessoas boas ali, claro.
Seria proibitivo - e nem funcionaria - que tudo fosse decidido pelo povo o tempo todo. Existem pessoas, em nossa vasta extrema-esquerda, que sonham com uma utopia inviável na prática pelo fato simples de que existe o custo de oportunidade para qualquer pessoa que viva neste universo. No caso deste planeta, o dia leva 24 horas, aproximadamente. Como alocar seu tempo? Pois é…
O poder emana do povo e a solidariedade produzida por quase todos os brasileiros tem sido incrível. Pessoas ajudando até a exaustão, tentando ajudar enquanto corre riscos (ser assaltado, pegar leptospirose etc.). Tem sido emocionante.
Obviamente, a malandragem de políticos - em todos os níveis da federação - também tem sido marcante. Esforços midiáticos desproporcionais em relação ao envio de ajuda, tentativa de capitalizar sobre o heroísmo de outros, decretos de calamidade pública onde não se aplicam. Sim, o mundo não é feito de anjos.
O que não significa que o governo não deva ser mais ágil, menos hesitante.
Quando digo isto, há pessoas que não entendem a mensagem. Uns acham que desejo ver a farra com o dinheiro público. Outros, que desejo jogar uma pá de cal nos órgãos de controle. Nada disso. Apenas acredito que o controle está além do ponto ótimo, ou seja, que as autoridades brasileiras sofrem de obesidade de controles e não se exercitam porque, claro, os mesmos controles excessivos significam judicialização futura. Em um país com a segurança jurídica no nível que percebo, a obesidade se autoalimenta.
Já quanto à farra com o dinheiro público: o que não se vê é que, mesmo com tantos controles, o país continua com níveis elevados de corrupção. As ditaduras corruptas já provaram que número de juízes não é sinônimo de ética ou de eficiência no setor público. Pesquise por Roland Freisler, para uma ilustração chocante - e até superficial, para ser justo - disto. Ou lembre-se que os atos que construíram o genocídio promovido por Hitler foram todos legais. A farra com o dinheiro público, inclusive, pode se beneficiar de controles que agradam aos corruptos (e que apenas limitam a concorrência pelos recursos a serem abocanhados).
Talvez eu possa me explicar melhor depois, mas hoje é dia de comemorar os 4 anos da newsletter. De todo modo, fique à vontade para me perguntar.
O que a égua, presa no telhado, estaria pensando? - Primeiro, ele pensa no porquê um humano imbecil qualquer lhe imputa o sexo, já que nasceu macho e nunca manifestou o desejo de transicionar. Foi o que o cavalo me disse, quando o encontrei lá em Vila Madalena, em uma balada. Estávamos tomando cerveja no balcão quando o reconheci. Puxei uma conversa e o cavalo, muito simpático (e também um pouco traumatizado pelos últimos dias), falou-me deste vergonhoso engano e, bem, julgue por você mesmo os pensamentos do meu amigo de quatro patas.
“- Bah, seu Claudio, era uma vida comum. A gente sofre com os impostos, mas tem que seguir, né? (disse ele enquanto pedia outro chopp ao garçom levantando a pata direita).
- Pois é, Caramelo…
- Bah, olha, só esclarecendo, meu nome não é Caramelo. Tiraram isso aí não sei de onde. Meu nome é Baltazar.
- Ah, nossa, desculpe-me Baltazar.
- Imagina. Desde o meu resgate que isto virou uma rotina. Humanos…
- E aí, Baltazar, vem cá, diz agora, olho no olho, se bem que…esquece…diz aí: o que você pensou quando estava no telhado?
- Muitas coisas, tchê. Pensei naquele filho da mãe do pr…
- Calma, Baltazar! Não me complica!
- …otetor que não me levou junto na caminhonete, tchê. Por que o susto?
- Nada não, nada não.
- Depois eu pensava na falta de comida e como me desviar das minhas fezes e urina. O bom é que elas escorregavam pelo telhado e caíam na água, mas, e o medão de escorregar?
- Sei que é clichê, mas deve ter sido difícil, não?
- Seu Cláudio, olha, não quero passar por isto de novo não. Foram dias sem dormir. Pelo menos…
- Pelo menos?
- É, pelo menos não tinha televisão, nem celular. Ouvi barbaridades sobre meu resgate e sobre a tragédia toda, tchê.
- Ô Baltazar, puxa…
Foi quando comecei a chorar. A gente se abraçou por alguns minutos. O garçom nos trouxe mais dois chopps. “Cortesia da casa”, ele disse. Ficamos ali conversando por mais algum tempo. Ele com a alfafa e eu com a porção de linguiça com fritas. Depois trocamos contatos. Sei de uma vaga de direção na empresa e Baltazar, por tudo o que passou - e pelo que conversei com ele, tenho certeza - ele tem as habilidades necessárias para um cargo de liderança. Meu único medo é que queira entrar para a política…
Enfim, meu caro assinante, minha cara assinante (ou seguidor, leitor etc. etc. etc.), antigo ou novo por aqui, espero que esteja gostando. Agradeço por tudo e prometo seguir com o trabalho. Caso tenha comentários, sugestões ou queira compartilhar…
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Parabéns pelos quatro anos de newsletter! Embora nem sempre concorde com suas opiniões políticas, gosto muito da tua escrita. Suas crônicas, contos e observações sobre o cotidiano são muito argutas e divertidas. É um prazer lê-lo!
Quatro anos não são quatro dias. Quero te parabenizar e agradecer pela newsletter.