Alguns fatos de 2022. Escrever e Escrever mais. Pagode no Cosme Velho. Outros.
A vodca me deu um sonho e outra vodca levou-o embora. (Tirado de "Monsenhor Quixote", de Graham Greene)
Eis o v(2), n(96) da newsletter. O ano está acabando, não? Não só ele como também a minha paciência, o meu amor por você, o meu ódio (que será tua herança), etc.
Alguns fatos de 2022 - Este ainda não é o número da newsletter com a mensagem de final de ano. Esta vou preparar com mais calma. Podemos falar de outros fatos interessantes de 2022. Lista de livros lidos, salvo engano, já fiz. Também já falei da alegria de ter conhecido pessoalmente o pessoal do FiBoCa, o Orlando e, ainda não havia mencionado, o André. Tudo gente da pesada. Pronto, estes são alguns fatos de 2022.
Escrever e escrever mais (trechos memorialistas-memoráveis) - É curioso como, após tanto tempo, o antigo Claudio que gostava de escrever no colégio tenha retornado. Há uma explicação para isso que, curiosamente, começa com uma antiga bronca que tenho sobre a necessidade de me fazer entender claramente. Quem já deu aula sabe como isto nem sempre é fácil.
Muitos alunos eu tive, muitos alunos me odiaram. E alguns... sim, há alguns que viraram amigos. Talvez tenha errado as somas. Ou talvez eu dê sorte, nos aeroportos da vida, de encontrar somente os que pensam em mim como um ser humano, não um cão ou um demônio (nenhum cão ou demônio foi ferido enquanto este texto era escrito).
Eram os anos 90 quando, numa certa faculdade, eu me reuni com alguns alunos e perguntei-lhes sobre o que achavam complicado. Qual era a principal barreira? Entre eu e meus colegas, o diagnóstico era a base fraca em Cálculo. Lembro-me bem de reunir uma turminha à tarde e, munido do clássico livro de R.G.D. Allen (bons tempos, já era raridade à época), falar da diferença entre função e relação.
Os alunos gostaram e eu também.
Por um tempo, tentei me tornar mais didático em conceitos básicos de Cálculo. Até diagramas de fase eu tentava explicar de forma didática. Nem sempre fui bem sucedido, mas algum progresso notei entre os alunos. Em mim mesmo? Acho que um pouco também, sim.
Os anos passaram e eu tive que ir ali no Pacífico banhar meu rosto...não, este aí foi um bandeirante...eu tive que ir ao doutorado. Sim, foi isto que aconteceu. Na volta, retomei meus esforços, mas, desta vez, notei que estava ficando difícil ler os textos dos alunos. O problema não era só a Matemática (com respeitoso "M" maiúsculo). O Português era uma barreira talvez mais séria.
A despeito dos que acham que um orçamento finito deve ser despejado no ensino superior, a realidade me dizia que o jeito de salvar os jovens seria investir no ensino básico, médio, enfim, tudo o que dá a base para o sujeito não ser um analfabeto funcional.
Desenvolvi algumas atividades em sala para tentar melhorar o texto dos alunos. Alguns, mais antigos, começaram a fazer textos pequenos para um blog que criei em uma disciplina, o Projeto 42 (em homenagem ao famoso livro de Douglas Adams). Descobri um potencial em alguns alunos que me surpreendeu: havia alguma esperança.
Porém, eram alunos com boa base. Eu sabia que a maior parte dos estudantes não chegavam ao ensino superior com uma base razoável. Contudo, como um aluno sem-alfabetizado é melhor do que um não-alfabetizado, e como a política do governo era explicitamente favorável a colocar alunos em faculdades a quase todo o custo, bem, o final da história é que tivemos uma queda da qualidade dos alunos que, esperava-se, seria temporária.
Eu disse "esperava-se", mas a verdade é que alguns esperavam e outros, não. Ficou claro que perdi a aposta porque, como eu dizia, o ensino pré-universitário continuou sendo pouco eficaz na entrega dos vestibulares. Aliás, nem é preciso vestibular mais. Há aí uma variedade de formas de se entrar em uma faculdade, e não falo das privadas apenas.
Todo este preâmbulo para dizer a você, amigo leitor, que um Claudio que via na má escrita um problema a ser resolvido - a despeito da autocrítica o impedir de dizer que seus textos eram bons (veja o tamanho deste, por exemplo...sem falar na monotonia...) - voltou-se, em 2021 e, mais ainda, em 2022, ele próprio para o aperfeiçoamento de seus próprios textos.
De forma desordenada, desorganizada, bem espontânea, eu sei. Sim, eu, mais do que ninguém, sei o quanto minha organização é peculiar (um jeito bonito de não falar que sou desorganizado). Caso você volte aos primeiros números desta newsletter, notará que eu escrevia mais para estudantes de Economia. Parecia fazer sentido. Contudo, o tempo passou e notei que a audiência, aqui, preferia mais o lado ficcional do Claudio. E assim foi feito porque eu respeito a demanda. Sua sugestão é, realmente muito importante para mim, leitor. Principalmente se for assinante.
Pagode no Cosme Velho - É o nome de um conto de Stanislaw Ponte Preta em Rosamundo e os Outros, numa edição de 2008 da Agir. Além do bom humor e da visão democrática que o autor tem da canalhice: homens e mulheres são igualmente sem-vergonhas em suas histórias (o que torna Stanislaw um dos primeiros escritores brasileiros que, lá pelos anos 60, já considerava que mulheres e homens são iguais).
Trecho (profético):
Dali saiu para uma loja de artigos mais ou menos masculinos. O leitor vai perdoar o 'mais ou menos', mas é que certas lojas grã-finas de artigos masculinos andam vendendo cada camisinha, cada calcinha apertadinha de confecção tão marota que, eu vou te contar... (p.134)
É ou não é profético? Pergunta meramente retórica, claro.
Amigo falso? Tchau, querido. - Havia um sujeito que se dizia meu amigo. Pergunte-me quantas vezes, em, digamos, 10 anos, ele me telefonou, ou mandou mensagem de e-mail, ou enviou uma mensagem de texto, ou, vá lá, um telegrama perguntando da minha vida e contando da sua. Pergunte-me, vai. Respondo: nunca. E ele não se achava meu amigo há menos de 20 anos, devo dizer.
Não significa, claro, que não me enviasse mensagens. Pelo contrário, enviava várias. Todas elas com alguma menção a uma presença dele na mídia, ou a um artigo em que ele publicou com algum orientando seu. Ou sobre algum assunto que ele achava que eu deveria saber porque, embora se dissesse um sujeito liberal, sempre achou que sabia o que era melhor para mim.
Não obstante, ao longo dos anos, ouvi relatos de terceiros sempre criticando o tal 'amigo' e, com alguma vergonha, admito, devo dizer que sempre o defendi, alegando que ele era apenas um sujeito exótico (quem não o é?) com uma dificuldadezinha com a empatia e outros skills ligados ao bom convívio entre seres humanos.
Quando a mulher o abandonou, um amigo comum me ligou apenas para pedir que eu, então no timão de uma barca acadêmica, chamasse o 'amigo' para algum evento. Pois eu lhe dei uma palestra de abertura de semestre e ainda saí com ele para tomar uma cerveja depois, sempre acreditando que havia ali, sob o pretencioso cuspidor de citações e conselhos sobre como eu deveria conduzir minha vida, um ser humano bondoso.
Recentemente, a convite, entrei em um grupo de discussões promissor, sem saber que o suposto 'amigo' também estava por lá. Não seria um problema, claro. O sujeito deve ter bom humor, pensei. Quando ele, que nunca fui um ás da língua portuguesa, mas também não escreve como um macaco, cometeu um deslize, respondi com uma piadinha e fui entregar um presente para um amigo (sem sucesso, é Copa...).
Ao voltar, consulto o grupo e, para minha surpresa, tanto a mensagem dele quanto a minha não existiam mais. Sim, o alegado 'amigo' não só apagou a mensagem dele, mas a minha também. O defensor da liberdade não suportou que uma piada usasse como insumo uma frase sua mal escrita. O debochador não aguentou o deboche. A liberdade de expressão que diz defender levou uma facada nas costas.
Obviamente, ao ser confrontado com a verdade, saiu-se com uma desculpa qualquer. Não colou porque, pelo que levantei de informações, em todos os grupos em que o dito 'amigo' administra, ele, com frequência trata desigualmente as pessoas de modo similar. O lado bom é que sua grosseria não é praticada apenas contra mim. Não é ele um liberal, e sim um socialista: preza a igualdade no vômito de sua má educação à liberdade de expressão que diz defender.
Foram anos defendendo-o de comentários corretos, mas levemente ofensivos. Chegou a hora de encerrar o período de cortesias para o sujeito. Sou-lhe grato pelas boas conversas, mas espero nunca mais vê-lo.
Observação: nenhum asno foi ferido ou morto durante a confecção deste desabafo que pode ou não ser ficcional.
Ciência - Nos primeiros cinco minutos e trinta e poucos segundos deste vídeo você confere o que eu penso de Ciência e de História (e perceberá porque não sou simpático a depredar estátuas, por exemplo.
Sim, foi no evento de 85 anos da RSP.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Grande Claudio! Obrigado pela menção, haha! News ótima, como sempre!