Aeroporto e nós - Ensino sem Estudantes - Você está feliz? - Outros.
Quem escreveu "O Estrangeiro"? Plínio Salgado ou Albert Camus?
O v(3), n(44) chegou, mas o tempo urge. Depois eu volto. Pegue um pão de queijo. Está quentinho. Excepcionalmente, este chega para você um dia antes do habitual. Voltaremos à programação normal semana que vem.
Aeroporto e nós - Duas breves histórias.
Parte 1
Cheguei mais cedo no aeroporto e passava os olhos por algum produto de preço proibitivo quando ouvi a voz da funcionária da companhia aérea pelos alto-falantes: “- Atenção senhor Clodoaldo Ramirez e senhora Erinalda Ponte Preta, passageiros do vôo 009, com destino a Quaresmeiras, nosso vôo não será o mesmo sem vocês. Por favor, dirijam-se ao portão 33, neste mesmo piso.”
Não teve jeito. Saí da loja e apertei o passo para chegar no tal portão 33. Para minha sorte, eu estava próximo. Ao me aproximar, notei que a funcionária me olhava com um ar curioso. Quando me dei conta, estava sorrindo e recebi dela um não menos amistoso sorriso.
- O senhor é o… senhor Clodoaldo?
- Não, não.
- Então…
- Ah, sim. Este não é meu vôo, moça.
- Entendi. Posso ajudar em algo?
- Não se preocupe. É que eu queria te dizer que, um dia, vou dar um jeito de me atrasar. Os dois aí que você chamou, embora atrasados, foram chamados com muita cortesia. Gentileza assim, nem sempre a gente encontra nos tempos de hoje…
A atendente pareceu ter ficado contente. De minha parte, não vou mentir, também me senti bem. Afinal, não é todo dia que você pode elogiar alguém e ainda fazer isto de bom humor.
Parte 2
Alexandre desceu esbaforido do táxi. A reunião demorou muito mais do que o previsto. “- Culpa do maldito Clodoaldo!”, xingou mentalmente. Ia correr quando o motorista lhe chamou a atenção para sua mala, no bagageiro. Maldita viagem…
Os minutos pareciam não passar. Havia ainda uma remota chance de que não perdesse o vôo. Com a ajuda de um funcionário da companhia aérea, alcançou o balcão no qual estava a jovem Erinalda, gentil, mas ainda em treinamento.
- Senhor Alexandre, o embarque de seu vôo acabou de encerrar. Deixa eu ver se consigo que o senhor não perca o vôo.
Antes que Alexandre pudesse dizer algo, Erinalda já havia sumido por trás das esteiras de bagagens. “- Uma leve esperança…”, pensou, ainda que pessimista.
Instantes depois, a jovem retornou, com um ar triste. “- Mil desculpas, senhor Alexandre. Achei que seria possível, mas meu supervisor disse que não tem mesmo jeito. O senhor terá de esperar pelo próximo vôo. Temos como colocá-lo nele.”
- Tudo bem, moça. Eu me atrasei, não tinha mesmo muita esperança…
- Por favor, novamente, peço desculpas.
- Imagine!
Enquanto se acomodava na sala de embarque, Alexandre ouviu um inusitado aviso pelos alto-falantes.
- Atenção senhor Alexandre, passageiro do vôo 009, com destino a Quaresmeiras. Aqui é o comandante. Gostaria de informar que não gosto de gente que se atrasa. Não senhor! Não mesmo! Por isto, faço questão de avisá-lo que nosso vôo não será o mesmo sem você. Será é bem melhor, viu? Da próxima vez, preste atenção ao relógio!
Alexandre jura, até hoje, que ouviu este recado.
Você está feliz? - Foi aniversário dele. O menino, esperto e travesso como Pedro Malasartes, divertiu-se um monte. Afinal, era sua a festa. Colegas da escola, brinquedos, animadores de festa, salgados, doces, refrigerante, suco e, claro, bolo. Parecia tudo perfeito.
Os brinquedos da festa não eram celulares, nem tablets. Eram ioiôs, bolas, peões, soldadinhos, carros, aviões e navios de plástico. Tudo aquilo era novidade, não apenas para ele, mas para todas as crianças.
O céu, cheio de nuvens, protegia a todos do calor habitual do meio da tarde. Pais e mães se entretinham com as últimas fofocas da escolinha. Já os parentes, por seu lado, conversavam entre si sobre o menino, a infância e os dissabores da vida.
Foi quando o pequeno aniversariante ouviu uma voz sussurrando em sua mente:
- Você está feliz?
Olhou para os lados, mas não havia ninguém. Estavam só ele e os brinquedos, em um raro momento de solidão, destes que até as crianças mais populares têm (e necessitam).
- Quem está aí?
- Você está feliz?
- É meu aniversário! Faço sete anos hoje!
Com os dedos das mãos, mostrou, com precisão, o número sete. Entretanto, a voz continuou.
- Você está feliz?
- Quem é você?
- Você está feliz?
O valente menino resolveu responder.
- Eu queria brincar com você, tio.
- Você ainda se lembra…
- Tio, por que o senhor tinha que ir embora?
- Eu não queria, mas não teve jeito…você está feliz?
- Não sei, tio.
- Lembre-se sempre de nossas brincadeiras e você sentirá a felicidade.
- Tio, tenho saudades…
- Eu também…, mas se me ouviu, eu estou feliz. Feliz aniversário!
Ao piscar os olhos, o menino pareceu ter voltado à realidade. Alguns colegas a seu lado o chamavam para mais uma rodada de esconde-esconde. Antes de ir, olhou para o chão e viu ali uma moeda de 25 centavos. Foi o último presente de seu tio antes de partir em definitivo desta vida.
Rapidamente, catou a moeda, guardou-a no bolso e voltou a brincar. Estava feliz.
Ensino sem estudantes - Os autores deste texto - que termina com o anúncio de que sua empresa fará uma pesquisa sobre o tema - levantam alguns problemas do ensino superior, notadamente o estatal, após a pandemia. O texto não me surpreende: há meses ouço de conhecidos que trabalham no ramo sobre como vários estudantes estão desanimados com o ensino no pós-pandemia.
É verdade que muito precisa ser ponderado a respeito. Como dissemos eu e o Ari aqui, existe um comportamento viciado de alunos que os desviam dos bons resultados que, sim, é derivado de dois anos de ensino remoto com avaliações precárias. Alunos não escondem que muitas irregularidades ocorreram no período (fraudes em provas e trabalhos).
Existe também o efeito acumulado de anos e anos de ensino básico e médio que apresentam problemas conhecidos por todos (basta olhar os resultados do PISA). O problema é: como pode um analfabeto funcional ser eficiente no uso do seu tempo dedicado ao estudo? Ele não pode. Note que o problema não é necessariamente derivado do método de ensino na faculdade.
Seja em uma aula de laboratório, seja em uma de cálculo, ou em qualquer outra aula construída sob o método pedagógico da moda, vendido por consultores (e cujos resultados nem sempre justificam sua adoção), o fato é que um aluno com dificuldades de interpretação de texto patinará ao ler um enunciado de qualquer problema de qualquer prova.
Esta é parte do problema, mas não explica tudo, eu sei. Há os pais, os professores e os gestores, todos nem sempre alinhados com o objetivo de aumentar o valor agregado do conhecimento do aluno. Vou parar por aqui, mas recomendo a leitura do texto que abriu esta pequena seção.
O fim do fundo do poço - Chegou o dia pelo qual não esperava. Pudesse alterar o calendário, ele o faria. Infelizmente, não havia o que fazer. Ele estava lá, no fim do fundo do poço. Ao seu lado, uma cafeteira, filtro, um caneco de água e pó de café. Achou que ia se dar bem, mas a cafeteira estava rachada.
Nível e variação - Fico mais feliz ao ver você feliz vs quando você fica mais feliz, fico mais feliz ainda. Nem precisa saber matemática para entender, né?
Os dias estão um pouco mais difíceis? Sorria (eu mesmo tenho tentado). Até semana que vem, se tudo der certo, na quarta-feira.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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