Aceita um guarda-chuva, Nathy? - Coalizões Políticas - RSP - Outros (e Feliz 2023!)
Nem todas as festas felizes demais...
Eis o v(2), n(104) da news chegando para você nos últimos dias de 2022. Chegamos a 104 números (e mais uns poucos extras) em 2022! Obrigado a você. Sua leitura é um incentivo inestimável para a continuidade desta newsletter. Que venha 2023!
Aceita um guarda-chuva, Nathy? - (baseado em um sonho) Os dias de dezembro castigam os distraídos com suas chuvas intermitentes. Dependendo do local da cidade, são mais ou menos fortes. Ali, onde trabalha Nathy Jambu, as chuvas, geralmente, não causam maiores danos. O máximo que acontece é alguém encharcar as calças atravessando as ruas (geralmente, uma cortesia de alguns motoristas).
“Não Fazemos Fiado”: eis o nome do bar. Ali, Nathy Jambu passa boa parte de sua semana, fazendo café, assando pães de queijo e atendendo os clientes juntamente com seus funcionários. A turma da vizinhança sempre passa por ali, para dar-lhe um alô (ou um olá, ou até mesmo um oi) e ler um jornal (no celular ou aquele antigo, de papel, lembra?) no balcão mais amistoso da cidade.
Às vezes a discussão sobre futebol é intensa no bar, mas, como são todos amigos, nunca houve um incidente mais grave. Prudentemente, Nathy nunca comprou um serviço de transmissão de jogos para a televisão do bar que só apresenta um vídeo de propaganda do bar que é, na verdade, uma franquia nacional de botecos (não ‘gourmetizados’, graças a Deus).
As mesas do “Não Fazemos Fiado” são no estilo italiano, com toalhas listradas nas cores branca e vermelha, acompanhadas de duas cadeiras de madeira. Há também alguns bancos acolchoados que, geralmente, acomodam os adolescentes que passam por ali ao final de suas aulas, tornando o vocabulário falado no local mais diversificado (e menos compreensível, ao menos para mim).
Foi num dia destes, no final da tarde, quando Nathy Jambu fechava seu bar, que uma inesperada chuva forte castigou aquela região da cidade. Ela até tentou abrir seu guarda-chuva barato, mas esta não era uma chuva como as tradicionais: era realmente bem mais forte, quase perigosa. Ela se recolheu sob a marquise, na esperança de que a chuva passasse em, sei lá, 5 ou 10 minutos e frustrou-se logo.
Com o barulho da chuva, e estando só, aproveitou para praguejar contra o clima usando alguns palavrões bastante pesados (alguns fariam corar o mais desbocado líder de torcida organizada). Sacou da bolsa o pequeno cantil no qual carregava seu remédio emergencial para estresse que nada mais era que a boa e velha cachaça. Tomou um gole, cruzou os braços e ficou tentando enxergar algo através da forte chuva. Levantou a mão direita, dedo indicador em riste, como uma evangelizadora e gritou:
‘- Que maravilha! Nunca chove assim por aqui e, quando vou para casa, aí sim, vem esta maldita ****** e ***** de chuva! Que pé d’água mais *****!’
Depois, cruzou os braços e fez um bico, enchendo as bochechas. Só faltou prender a respiração como uma criança embirrada. Começou a bater o pé direito, furiosa o que fez com que a chuva molhasse a barra de seu avental que, ainda por cima, havia esquecido de tirar.
‘- Ora, ora, por que está nervosa, menina?’; disse-lhe uma voz.
Assustada, por alguns segundos achou que estava esquizofrênica. Ao se virar viu, à direita, aproximando-se, um homem de chapéu e sobretudo, com um guarda-chuva.
‘- O senhor é o Humphrey Bogart?
- Não, mas até que não seria má idéia…
- Ué, o senhor usa acento em ‘ideia’? Deve ter mais de 50…
- Sim, e você, com esta abordagem visual, deve ter os seus 20 e poucos…’
Sorriu, feliz, pois tinha um pouco mais de 20 e poucos (alguns diriam: ‘20 e mais ou menos’). Notando que conversava com um estranho, voltou à defensiva.
‘- O que o senhor faz por aqui? Qual é o seu nome? O que quer de mim? Eu sei cravmangá, digo, kravma…
- É ‘krav magá’, menina.
- Ah, o senhor também tem uma abordagem visual, consegue ler o que falo…
- Eu dou os meus pulinhos.’
E, ao dizer isso, o desconhecido deu três pulinhos, provocando uma quebra parcial do gelo com algumas risadas.
‘- Ah, mas você me perguntou várias coisas. Vamos lá, eu me chamo, de fato, Humphrey, mas não sou o Bogart. Pode me chamar de Humphrey Celestino que, aliás, é mesmo o meu nome. Eu vi você gesticulando, como o Pato Donald quando está nervoso, ali do outro lado da rua, e pensei em lhe ajudar.
- A troco de quê? Eu sei crav…
- Krav…
- É, krav…
- …magá.
- Isso. Eu sei lutar isso aí, seu Humphrey.
- Good for you, menina. Contudo, não se preocupe. Eu realmente só quero lhe ajudar.
- Como?
- Com este guarda-chuva. Eu sempre carrego um extra comigo.
- O senhor carrega sempre um guarda-chuva extra?
- Sim. Cada louco com sua mania, né?’
Já um pouco mais calma - não pensava mais em palavrões - Nathy Jambu resolveu aceitar a oferta do tal Humphrey Celestino.
‘- Vou aceitar, mas não tenho dinheiro aqui e eu sei…
- Sim, eu sei. Você sabe krav magá. Olha, não se preocupe. Não quero dinheiro.
- Quer o quê, então??
- Não quero nada. É para você, pode ficar.
- Sério?
- Seríssimo.’
Fazia tempo que Nathy Jambu não passava por uma situação como esta. Ainda desconfiada, aceitou o guarda-chuva. Examinou-o com cuidado. Desconfiada, deu um jeito de cheirá-lo sem que Humphrey percebesse. Vai que o guarda-chuva estivesse impregnado de alguma droga… Contudo, não havia nada demais. Parecia mesmo um guarda-chuva comum.
‘- Obrigada, seu Humphrey.
- Imagina, menina…
- Jambu, meu nome é Nathy Jambu.
- Ah, muito prazer senhorita Jambu.
- Meus amigos me chamam de Nathy.
- E eu, como a chamo?
- Deixa eu ver…ah, de Nathy.
- Está bem. Bem, Nathy, agora que já lhe ajudei, vou embora, ok?’
Um pouco desconcertada, Nathy sorriu, sem abrir a boca. Humphrey Celestino seguiu o caminho da calçada desaparecendo sob a chuva. Nathy abriu o guarda-chuva e pôs-se a caminho de casa. Não iria esperar mais, estava faminta e cansada.
Ela não notou, mas o caminho percorrido por ela ia se tornando seco e ensolarado, milagrosamente, em meio à forte chuva que, finalmente, começou a enfraquecer. É, o guarda-chuva de Humphrey Celestino tinha uma certa carga de magia.
Quando chegou à porta do prédio em que morava, fechou o guarda-chuva e todo o caminho iluminado voltou ao normal. Desconfiada (já mencionei que ela sabe krav maga?), olhou para trás para ver se havia algum estranho nas redondezas. Sacudiu o guarda-chuva, cumprimentou o porteiro. Enquanto o elevador subia, notou que não tinha mais raiva, nem vontade de xingar a - agora minguante - chuva. Só queria jantar e dormir.
Heim? A magia do caminho que se iluminou por um tempo? Bem, talvez Humphrey tivesse mesmo algo de celestial. Ou talvez tenham sido os três pulinhos. Vai saber, né? Afinal, tudo isto foi baseado em um sonho…
p.s. Nathy Jambu voltará em “Nathy Jambu Contra os 12 Guerreiros de Bronze”. Breve, no cinema mais próximo de você.
O homem deprimido - Estava tão deprimido que lia e salvava todas as mensagens de Natal das lojas e órgãos públicos que recebia.
Parceiro não é apêndice… - …embora alguns políticos (e seus seguidores) assim o achem.
Carlos Pereira levanta uma ‘lebre’ importante: em uma democracia, é preciso ser…democrático. Uma coalizão construída sob o monopólio de um partido (sic) não é um bom caminho para um governo estável. Eu já sei, você já sabe, mas há quem nunca aprenda. Oportuno este seu artigo. Creio que está aberto para não-assinantes.
Revista do Serviço Público - Em seu último número do ano, a Revista do Serviço Público (RSP) traz, em meio aos artigos, um de Victor Comitti, analisando o número de visitantes no site da revista desde o início da coleta de dados pelo Google Analytics, em meados de 2017.
Ao decompor a série de tempo (ou série temporal) em seus elementos clássicos (tendência, sazonalidade e elemento aleatório), o autor encontrou um resultado interessante (ver o último gráfico, na parte inferior do painel da Figura 1, reproduzida a seguir).
Observa-se que o número de visitantes apresentou uma tendência crescente a partir do final de 2019, estabilizando-se por volta do final de 2020, em nível médio mais alto em relação ao restante da série. Este indício (ou evidência) me deixa feliz.
De algum modo, quero crer, os esforços da equipe editorial em prol da qualidade deste journal tiveram impacto na reversão da queda observada anteriormente (desde o final de 2018) e na manutenção, até o momento, de um nível médio mais alto da tendência.
Fica o leitor convidado a dar uma olhadinha neste e em outros artigos deste último número da RSP de 2023.
O ano de 2022 desta newsletter - Como foi o ano de 2022? Esta newsletter disseminou muitos textos. Como consequência, assinantes surgiram, experimentaram e permaneceram (ou se foram). Alguns, pelo que já vi nas estatísticas, não abrem o e-mail, mas não sei bem se não têm contato com o material no próprio site. Ou talvez sejam, alguns deles, ‘bots’.
Vou me repetir, mas este universo do substack, nome da plataforma que me permite esta grande conversa com os assinantes, já estava demorando para aparecer. A riqueza da era dos blogs havia se perdido e sido substituída por plataformas nas quais textos mais longos (nem tão longos assim, vai) não são tão valorizados quanto um vídeo curto.
E, sim, há ainda o fato de que, aqui, no substack, o público-alvo é menos ‘alvo’ que protagonista. Afinal, ele escolhe o que assinar. Até o momento, para mim, esta é uma ótima plataforma para a troca de idéias (com acento, claro). Espero que siga assim…
Como será 2023? Não sei. Espero ter condições de continuar trazendo alguma alegria e informação aos leitores.
Feliz 2023! Tudo correndo bem, a gente se encontra no ano que vem!
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.