A turba - Dicionário do Diabo - Política Monetária - Outros.
Grosseria: linguagem censurável usada por outrem para falar de você
No v(3), n(17), o sarcasmo come solto. É a vida. Não se pode ter tudo, né? O subtítulo? Um verbete do Dicionário do Diabo. Conto mais sobre ele a seguir.
A turba - …é o nome de um ensaio de H.L. Mencken, em O Livro dos Insultos, publicado, há algum tempo, pela Companhia das Letras. Há, ali, um insight muito interessante sobre a demanda de radicalismo (de certo modo, o tema conversa com aquele papo de irracionalidade racional).
No texto, Mencken critica Gustave Le Bon, um estudioso da violência do início do século 20. Para Le Bon, um indivíduo, em contato com uma multidão, fica mais ‘ignorante’ e se torna mais violento. É como se a multidão inoculasse violência em um sujeito, até então, normal.
Mencken propõe uma visão ligeiramente distinta:
“O ignorante se descontrola na multidão, não porque tenha sido inoculado por ela com o vírus da violência, mas porque a sua própria violência tem ali a única chance de exprimir-se em segurança. Em outras palavras, o ignorante é perverso, porém covarde. Ele evita qualquer tentativa de um linchamento a capella, não porque precise de estímulo para querer linchar alguém, mas porque precisa da proteção de uma multidão para fazê-lo sentir-se corajoso o suficiente para tentar”. [p.146]
Em outras palavras, a multidão cria um anonimato que permite ao sujeito expressar sua violência latente. Aqueles que apreciam o uso da violência, diz Mencken, serão capazes de manter sua frieza e, diz ele, talvez tentem conter a multidão. Já os violentos, bem, cometerão violência.
A multidão, portanto, é uma espécie de relaxamento para as travas morais de um indivíduo, seja ele propenso ou não à violência, já que permite a um covarde dividir os custos de um linchamento com mais uma dezena (ou centena) de pessoas. Custo diluído e benefício concentrado…onde já li isto? Claro, em livros de Public Choice.
Resumindo, o argumento de Mencken, pois, é o de que a multidão diminui o custo do anonimato que favorece a prática de linchamentos e afins por parte de indivíduos propensos à violência.
Creio que se Mencken vivesse nos dias de hoje, veria as redes sociais sob a mesma ótica. A quantidade de gente criando contas do tipo picapau12367888 (com foto de Churchill ou, sei lá, Sylvester Stallone) e se usando disto para fazer comentários para lá de mal-educados não é exceção: é a regra.
O tribalismo (que é primo do identitarismo ou, se o leitor assim o preferir, é um passo na direção do identitarismo…) tem estimulado muitos que, como os violentos da turba de Le Bon, são carentes de atenção. Todos já viram como a ultraesquerda e a extrema-direita tentam ‘cancelar’ todos que lhe desagradem, quase que explicitamente usando - e, pior, aceitando - dois pesos e duas medidas nos linchamentos.
Para encerrar, cheguei a Mencken porque estava lendo o Dicionário do Diabo e o
chamou minha atenção para o fato de que o autor deste, Ambrose Bierce, era conhecido do Mencken (e o ensaio deste sobre aquele é, sim, muito divertido). Tenho que agradecer ao Orlando porque este ótimo livro do Mencken estava perdido na estante, há algum tempo...Apropriação Cultural - Orlando, aliás, mandou muito bem neste ensaio na última Crusoé. É sobre uma das maiores bobagens que já inventaram: apropriação cultural. Depois que os carnavalescos do Rio de Janeiro ganharam - sem o menor protesto da galerinha de sempre - fantasiados de nordestinos (onde está a revolta contra os ‘sudestinos’? Medo das gangues cariocas? Os justiceiros sociais respeitam os informais monopolistas da violência do Rio, pelo visto. Coragem, só mesmo em redes sociais contra perigosos cidadãos de bem que pensam diferente. Quanto orgulho…
Dicionário do Diabo - O mencionado livro de Ambrose Bierce, publicado no início do século 20, lá nos EUA, é sensacional. Por aqui, saiu pela editora Carambaia (é, não é Cambraia), que tem um modus operandi bem diferente da média do mercado editorial brasileiro.
Uns verbetes:
conselho - A menor moeda em circulação.
esperança - Desejo e expectativa embrulhados juntos.
esposa - A cônjuge, ou amarga metade.
marido - Aquele que, tendo jantado, fica encarregado de cuidar do prato.
nação - Entidade administrativa operada por uma incalculável multidão de parasitas políticos, logicamente ativos, mas apenas fortuitamente eficientes.
É ou não é de matar de tanto rir?
Política monetária - Eu e o Ari demos nossa opinião sobre a importância da autonomia do Banco Central Brasileiro (e de outros bancos centrais, em geral). Está aqui. Vários outros bons artigos sobre o tema foram publicados nos jornais sobre este tema, nos últimos dias. Creio que o nosso é um dos poucos a chamar a atenção (bem no final do texto) para os vieses de irracionalidade que estão muito presentes em certos formuladores de políticas públicas e jornalistas (dentre outros).
Partido Republicano - O Partido Republicano dos EUA tem uma nova liderança que, sim, é conservadora, e me parece mais promissora do que Trump e seguidores. Seu nome? Vivek Ramaswamy (sim, filho de imigrantes). A conferir.
Reiji Matsumoto - Um vídeo (em japonês) mostrando-o no Museu do Yamato (fica em Kure, ao lado de Hiroshima).
Voltamos na semana que vem. Até lá, boa sorte!
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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