A sociedade cobra... - Eu vi a chuva - Unha encravada - Microeconomia - Zuc(c)o.
Eu voltarei. Eu voltarei. Pensando bem, talvez eu não volte. Vai ter coxinha?
O v(4), n(36) chegou mais rápido do que eu esperava. Ou será que eu planejei isto?
A sociedade cobra… - A sociedade? Quem é a sociedade? Quando esta pergunta é feita, damo-nos conta de que não existe uma sociedade independentemente dos indivíduos. Além disso, percebemos que agregar indivíduos não é algo simples. Eu, você, o Paulo Maluf, o Vanderley Luxemburgo, a apresentadora do telejornal e o porteiro do seu prédio somos apenas uma parte do que chamamos de sociedade.
Assim, não há uma sociedade cobrando nada de você. Há, sim, alguns costumes que a sociedade segue - e que não são necessariamente eternos, imutáveis, embora possam mudar muito lentamente ao longo dos séculos - e que usa como referência para julgar alguns comportamentos.
Sim, você não é burro e sabe disto. Eu sei.
Repare então na sutileza deste argumento de vitimização com base em uma suposta cobrança de uma suposta sociedade. Quem está cobrando? Geralmente, algumas pessoas com interesses em comum arrumam jeitos de se unirem, vencendo o clássico dilema do trabalho em grupo (que é o de que, em geral, ninguém contribui para o bem comum). Terroristas, por exemplo, unem-se em torno do objetivo de tocar o terror, pois a ideologia é, nestes casos, um bom amálgama. Naturalmente, nem todos os grupos têm a mesma força, e os que melhor se organizam é que poderão, talvez, cobrar de você algum comportamento.
Você, portanto, poderia pensar que um objetivo moralmente aceitável é que a sociedade cobre mais tolerância entre todos que a formam (claro, se você tem como valor moral que a sociedade permita e incentive uma diversidade verdadeira!). Não é que vemos na maioria esmagadora das vezes. Há grupos que simplesmente não querem a existência de outros. Desejam apenas a hegemonia. Serão felizes apenas se você não falar mais (seja porque foi calado ou porque morreu, tanto faz).
Uma coisa, aceitável, é: aceite a diversidade. Outra, autoritária, é: você tem de gostar de X, ou é fascista, onde X = militares, gays, negros, brancos etc. Tolerar é diferente de ser obrigado a gostar. Democracia, mesmo, só na primeira opção. Quando nos obrigam a gostar de X, em geral, querem que não gostemos de não-X. Judeus em 1933, na Europa, experimentaram isto.
Um grupo que almeja o poder para alijar a concorrência do espaço público não é um grupo “da paz”, “tolerante”, ou “a favor da pluralidade de idéias”. É um grupo de gente extremista que não quer te ver vivo. Gente que colocará fogo em você se assim achar que a sociedade (a deles) fique mais bonita.
Sim, também não é difícil ver isto, não é?
Ainda assim, a cada dia, um bobo e um mal-intencionado acordam e saem de casa. Esta é a sociedade e estes são os riscos que corremos ao não reagirmos ao avanço de alguns grupos. Cobre de si mesmo o autorrespeito às suas convicções. Quer saber? Dane-se o que o grupo que domina o discurso da sociedade da vez quer te cobrar.
Eu vi a chuva - Eu vi a chuva e, portanto, posso dizer que ela existe. Só que foi no sábado passado, na cidade de São Paulo. Nada posso afirmar sobre outras cidades.
Unha encravada - É possível que eu já tenha andado pela Praça da Bandeira em 1988. Ou em 1989. Passei por lá quando fomos assistir a um show do Veludo Cotelê na Praça do Papa, um pouco acima. Eu e mais uns amigos e mais um monte de adolescentes que se iniciavam na vida universitária estávamos todos lá.
Esta banda tinha músicas com umas letras engraçadas que, provavelmente, no Brasil menos democrático (de facto, mas não de jure) de hoje, seriam proibidas. Amigos, eu não me lembro tanto do show - que certamente achei divertido - porque, naqueles dias, o dedão do meu pé direito tinha o princípio de uma unha encravada que eu ainda não sabia bem o que era.
Ao final do show, não passava ônibus algum e aquele bando de jovens fez a romaria até a Praça da Bandeira, em busca de algum meio de transporte. Foi ali, naquela caminhada, que eu senti que aquilo não ia terminar bem. Meu pé direito doía bastante. Fui mancando, apoiado em um amigo, e, se não me falha a memória (só que ela me falha muito, e nas horas em que mais preciso dela!), foi no dia seguinte que fui parar em um pronto-atendimento e, anestesiado, tive um tratamento de sucesso parcial: o médico (ou estudante de medicina) que jurou corrigir o problema, na verdade, deixou-me com uma unha lateral, perpendicular à normal que, até hoje corto.
Pelo menos não tenho mais uma unha encravada dolorida. Só um incômodo a ser cortado periodicamente.
Microeconomia - Durante anos reinou sozinho como o melhor manual de microeconomia (nível intermediário) com exemplos brasileiros o velho livro do prof. Fernando Holanda Barbosa, editado lá nos anos 80 pelo IPEA. Meu exemplar está semi-destruído, mas resiste bravamente.
O livro não tinha lá muitos exemplos, mas, leitor, nos anos 80, você gastava muito tempo para fazer uma regressão simples com, digamos, 30 observações. Para você ter uma idéia (com acento, aliás, como na época), o manual de Econometria do Jan Kmenta, já na sua edição desmembrada em dois volumes pela editora Atlas, tinha um capítulo avançado com dados em painel que era só uma teoria para, quem sabe, em um futuro distante, alguém estimar uma regressão com dados deste tipo? Pois não demorou muito, não é? Estamos em 2024 e a econometria de dados em painel já é brincadeira de criança para bons alunos de graduação.
Eu falava de Microeconomia, então volto a ela. Aguardo, para os próximos dias, em minha caixa de correio, o novo livro do prof. André Portela, de Microeconomia. Lembro-me de conversar com seu xará, o prof. André Carraro, sobre o projeto do livro que sempre achei interessante e pelo qual aguardei ansiosamente. Bem, agora ele está no prelo e, pelo que vi (por alto), temos uma ótima contribuição ao ensino de Economia no Brasil.
A conferir.
Zuc(c)o - Zuco (ou Zucco) foi resgatado pela Rafa, minha prima, há uns 8 meses. Era um bebê. Tive a oportunidade de vê-lo na metade do tamanho que tem hoje, há uns 4 meses (ok, talvez a relação de tempo e tamanho não seja bem esta, mas você entendeu a intenção, certo?). Um gato que parece um siamês, mas com os traços mistos que os gatos de rua possuem. O que posso dizer? Sou um misto de portugueses com japoneses, ora bolas!
Recentemente visitei a Rafa e lá estava o Zuco, todo serelepe, como uma criança que se diverte com tudo. Andando para lá e para cá, Zuco estava também um pouco incomodado. É que o Bartô, o cão vovô da mãe da Rafa, estava por lá. Bartô sempre latiu para mim - e por isto nunca arrisquei uma abordagem amigável com o nervoso salsichinha. Só que Bartô, coitado, está velho. Começa a apresentar dificuldades para se locomover e, se puder se deitar e dormir, é o que faz.
O problema, portanto, leitor, é que Zuco quer brincar, no auge de sua infância, com Bartô, que, no auge de sua vida, é um vovô cansado que, não só late para mim como também, pasme, deixa que eu lhe faça um carinho. Sim, agora o velho Bartô percebe que é melhor ter amigos. A idade amansa alguns seres humanos e alguns animais. Eu também devo ter ficado mais calmo em alguns aspectos.
Enquanto conversávamos, Zuco tentou de tudo para o Bartô sair debaixo da coberta e da cama quentinha. Tentou tanto que levou um belo latido em uma das suas investidas. O bafo do Bartô deve ter chegado aos pulmões do pequeno moleque felino.
Percebi que ele estava curioso com nosso jantar - gastronomia japonesa por graça das minhas primas - e resolvi estreitar a amizade com o sapeca. Todo mundo sabe que o melhor sashimi do mundo é o de atum e quem não pensa assim é fascista, claro. Dita esta verdade universal, e pensando no ‘miaumigo’, fatiei com as mãos um naco de sashimi de atum e fui, aos poucos, alimentando o esperto Zuco que, subitamente, tornou-se um grande amigo meu.
Sendo justo, não, não foi bem assim. Ela já havia subido em meu colo, ainda que rapidamente, alguns minutos antes. Creio que cães e gatos percebem - embora possam se fazer de bobos - quando um ser humano amistoso está por perto. Dizem que é assim, mas não acredito 100% nisto. Zuco se fartou com o atum e, guloso, queria mais. Dei um jeito de enganá-lo com algum brinquedo e ele voltou a suas tentativas de brincar com o velho Bartô que, como sempre, não lhe deu qualquer atenção.
Um cão, um gato, e este que vos escreve entram em um bar. Não sei, mas aposto que iríamos todos nos sentar à mesa e conversar a noite toda.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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