A Revolta do Quebra-Quilos e o Rent-Seeking. Multiverso da Ferradura. Os limites da liberdade de expressão e Ai Weiwei. 'Roukyoku'.
Belle Époque não é nome de massinha vedadora, ok?
O v(2), n(87) chega na véspera de um evento importante do qual já não me lembro.
A Revolta do Quebra-Quilos…e o Rent-Seeking - Eu não conhecia. Achei curioso o verbete da Wikipedia, a respeito.
Basicamente, parte do nordeste se revoltou contra a padronização de pesos e medidas (adotando o quilograma). Por que a revolta? Vejamos um trecho do verbete da Wikipedia.
Em mais de setenta outras localidades nordestinas, o povo se rebelou, invadindo as Câmaras e destruindo as medidas e os editais. Diversos motivos determinaram o descontentamento da população. Uma delas foi a cobrança de taxas para o aluguel e aferição dos novos padrões do sistema métrico – balanças, pesos e vasilha de medidas. A lei que os criara proibia a utilização dos antigos padrões, e os seus substitutos deveriam ser alugados ou comprados na Câmara Municipal à razão de 320 réis por carga. Os comerciantes, por sua vez, acrescentavam ao preço das mercadorias o valor do aluguel ou da compra dos padrões, o que encarecia ainda mais os produtos para a população.
Outra razão foi a criação do chamado "imposto do chão", cobrado dos feirantes que expunham no chão da feira as mercadorias que pretendiam vender.
Ao invés de liberar a importação de balanças, pesos e vasilhas de medidas e fiscalizá-las, por exemplo, o governo optou por deter o monopólio da venda e do aluguel das mesmas. Há, para mim, um motivo óbvio para o governo usar o monopólio: extração de rendas (rent-seeking). Claro, é uma hipótese, mas eu acredito que ela explica bem os fatos.
Mas fica melhor. Além da mudança no padrão, havia também o “imposto do chão”. Ou seja, você não tem dinheiro para montar uma barraquinha (e pagar os tributos ao governo por isto, se é que existiam…e eu não duvido que existissem mesmo porque isto aqui é uma sociedade rent-seeking não é de hoje…) e tem que pagar um imposto por estar expondo suas mercadorias no chão (o desejo de voar ou flutuar nunca deve ter sido tão exacerbado entre os locais…).
Note que o imposto do chão tem outro aspecto: une os comerciantes que não desejam a concorrência dos que expõem suas mercadorias no chão e o governo que deseja maximizar sua receita (e, note, não está nem um pouco preocupado com as condições sanitárias envolvidas no caso).
Para quem chegou agora nesta newsletter, o conceito de rent-seeking (caça de renda, busca de renda) não deve ser confundido com a busca de lucro, que é outro conceito (profit-seeking). A renda, no caso do rent-seeking, é aquela gerada artificialmente. Como assim, ‘artificialmente’? Simples: ela não deriva dos atributos do bem ou serviço, mas de uma legislação que, artificialmente, diminui a concorrência.
Tome-se como exemplo o talento de um Cristiano Ronaldo. Ele deriva uma renda que eu não consigo obter jogando futebol. Diferente é o caso em que o governo, diante do mercado de pastéis de feira, cria uma lei dizendo que apenas uma fração dos vendedores atuais de pastéis poderão vender seu produto na feira, mediante o pagamento de uma taxa. Este é o caso da renda artificialmente criada pelo governo.
Evidentemente, sabendo disto - já que à lei se exige publicidade e transparência (como se isto, por si só, resolvesse alguma injustiça, como este exemplo nos mostra…) - alguns vendedores de pastéis tentarão de tudo para conseguir uma licença. Ou subornos, ou estudos técnicos (nem sempre de boa qualidade) que mostrem que o postulante merece seu lugar ao sol; tentar-se-á de tudo. O tempo empregado nestes afagos a políticos e burocratas deixa de ser usado na venda e no desenvolvimento de produtos melhores para os consumidores.
Em dois parágrafos, é disto que se trata quando se fala em rent-seeking. Acredite, leitor, há políticos que dizem que rent-seeking é o que gera desenvolvimento e harmonia em uma sociedade. São mentirosos, claro. Privilégios podem até gerar crescimento econômico e, incidentalmente, algum desenvolvimento. Mas, harmonia? Dê uma olhadinha à sua volta…
Quebra-quilos…
Multiverso da Ferradura - Em todos os universos, ele a amava. Contudo, em nenhum deles, ela lhe correspondia o amor. Quando o cabra tem que sofrer, ele só tem a experiência completa…no multiverso. Ferrado em todos eles, é o multiverso da ferradura!
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Os limites da liberdade de expressão e Ai Weiwei - Fala-se muito em fake news. Bom, não se fala mais. Não porque não existam. Acho que não se fala mais porque temos medo. Pessoas andam medrosas ultimamente. Deve haver algum motivo.
Claro que as pessoas sempre inventam novas desculpas para limitar a liberdade de expressão. Há quem diga que as pessoas não sabem usá-la (uma boa e honesta analogia permitir-nos-ia, então, proibir o uso de automóveis ou a criação de filhos por boa parte da humanidade…).
A moda, agora, é que certas falas precisam ser preventivamente censuradas. Parece-me que Ai Weiwei (não sabe quem é Ai Weiwei? (Não) pergunte a seu amigo chinês…) não viveria em um país assim. Aliás, ele não vive. Leia seu artigo, em português, no Estadão (não sei se está liberado para não-assinantes, mas algo me diz que você conseguirá acesso a ele facilmente).
Sim, o ativista viveu em um país no qual o governo exerce o controle social da mídia, em nome do socialismo, do combate ao fascismo (imaginário ou não). Um governo que criou um sistema de monitoramento dos cidadãos sem a menor preocupação com os direitos individuais dos mesmos porque, sabe como é, havia uma pandemia e pandemia é uma oportunidade (há um ditado chinês sobre uma crise ser uma oportunidade, não?) de aumentar o controle ‘social’ sobre as pessoas.
Creio que Ai Weiwei não aprovaria o entusiasmo de alguns (e não falo só de jovens) que acham tranquilo e sem problemas entregar sua própria liberdade em troca de…do…da…do que mesmo? Até já nos esquecemos, veja só…
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fbucketeer-e05bbc84-baa3-437e-9518-adb32be77984.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2F87e9d76a-cfb2-4ecf-893e-533d3b223575_1080x1080.jpeg)
Roukyoku - O que é isso? A Wiki anglo-saxã explica:
Rōkyoku (浪曲; also called naniwa-bushi, 浪花節) is a genre of traditional Japanese narrative singing. Generally accompanied by a shamisen, rōkyoku became very popular in Japan during the first half of the 20th century.
In modern Japanese slang, "naniwabushi" is sometimes used to mean "a sob story", since the songs were often about sad subjects.
Conheci o estilo ainda na adolescência (como não sou tão velho, foi na second half of the 20th century), por conta de um LP de Minami Haruo (em português: Haruo Minami). Claro que, na época, eu não entendia nada (e hoje, alguma coisa), mas para aprender a escrita japonesa, era ótimo ter músicas tão longas com a letra no verso da capa do disco.
Deste modo, aprendi rapidamente a ler alguns ideogramas, mesmo sem entender o seu significado (você sabe que nos anos 80, a economia brasileira era tão fechada quanto a cubana e não existia internet ou google, né?).
Ainda assim, as músicas com narrativas inseridas eram uma diversão para mim (acho que sempre gostei de contadores de histórias). Algumas delas duram uns 9 ou 10 minutos. Uma famosa, originalmente interpretada por Haruo Minami, fala sobre Tawaraboshi Genba, um personagem que narra os eventos da clássica história dos 47 rounins (pode ser encontrado no YT Premium ou em CDs, mas eu coloco o link aqui já, já).
Posteriormente, a mesma composição seria interpretadas por algumas das melhores vozes da música Enka contemporânea como Shimazu Aya e Miyama Hiroshi. No vídeo a seguir, na voz do mestre Minami (só clique se estiver mesmo disposto…é longo e não tem legendas ^_^).
p.s. Falando em música japonesa, eis uma ótima explicação sobre o estilo Enka (clica no ‘Enka’ que você será redirecionado para o artigo, em inglês, muito bom e cheio de referências a sucessos de várias décadas).
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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