A pessoa mais linda - Doing Business - Desafios - Utilidade Público-Privada - Ursos samurais
Minha Casa, Sua Vida e os Mortadelas Amestrados em: "O Calabouço Fiscal do Pesadelo".
O v(3), n(62) lamenta muito, mas está aqui.
A pessoa mais linda - Ela era a pessoa mais linda que ele, em sua curta existência, já havia visto. Até as delicadas bailarinas das caixas de música européias ficavam feias perto dela.
Uma flor no auge de sua beleza não lhe parecia chegar aos pés dela. Não aos seus olhos e, aliás, ‘não, não eram só seus olhos’, pensava enquanto caminhava olhando para o céu e, portanto, quase abraçando um poste.
Entendia o significado de ‘andar nas nuvens’ porque realmente a beleza, a beleza mesmo, esta que a gente não negocia com a moda, está mesmo em um patamar muito elevado. Talvez uma estação espacial possa se dizer próxima da beleza da moça, mas ele achava que não e, a propósito, estações espaciais não falam (ah, se minha estação espacial falasse…).
Quando via algo belo, imediatamente comparava com a beleza da sua musa mais que inspiradora e concluía, sem sombra de dúvidas, que ela era mais bela. Afrodite? Não tinha os olhos dela. Ishtar? Uma poeirinha perto de sua pele perfeita. Vênus? É a Afrodite, ué.
Falar seu nome era um gatilho que disparava seus batimentos cardíacos. Ver suas fotos fazia seu dia menos doloroso. Parecia mesmo haver algo no mundo que valesse a pena para além de sua miserável existência (mais miserável quando pensava na dela).
E é aí que estava seu problema. Era paixão demais para seu pobre coração. Ao vê-la, seja na padaria, na esquina, no cinema, na fila do banco (ela ainda vai ao banco, sabia?), ele congelava. Nenhuma teoria climática iria prever um congelamento como o dele. O homem parecia um iceberg daqueles de derrubar navios, submarinos. Resistiria até a um ataque nuclear.
Não que isso fosse perceptível. Não mesmo! Embora não seja uma cebola, o ser humano tem camadas. Discretíssimo, comportava-se como um homem civilizado (na medida do possível, dada a civilização que nos deram estes nossos malditos ancestrais) diante da presença daquele ser iluminado, divino mesmo.
O encanto que ela lhe provocava ficava ali, de algum modo, infinito dentro de um coração finito (que acelerava muito quando…ah, já comentei). Um coração maltratado por seus descuidos com a própria saúde. Um coração que, um dia, iria lhe cobrar o boleto de seu descaso consigo mesmo. Um coração tão humano quanto seu dono, só que sem toda aquele amor próprio. Um coração carente de amor porque tudo o que ele tinha (e o que não tinha) estava concentrado na adoração que seu dono praticava diariamente para ela, sua musa belíssima, brilhantíssima, inteligentíssima e digna de todos os elogios.
O coração bateu por muito tempo, mas um dia se cansou e ele não teve como resistir. Chegou ao hospital já morto. Quando lhe fizeram a autópsia descobriram que dentro do peito dele havia um coração fraco, pequeno e desgastado junto a um outro coração - que coisa! - forte, brilhante, mas que não batia. Estava apenas ali ao lado do pobre bombeador de sangue. Nascera ali, tamanha a paixão que ele guardava (literalmente) no peito.
Poucas horas após a descoberta, subitamente, este grande coração passou a bater num ritmo lento, ao lado de seu companheiro falecido. Virou tema de pesquisas médicas e foi cremado, exceto pelos dois corações que, agarrados um ao outro, não pareciam mudar de condição, mesmo fora do formol no laboratório que ainda os preservam.
Doing Business - Este texto do Luiz Ricardo não é tão novo assim, mas faz uma estimativa muito simples e poderosa: tivéssemos nós níveis dos indicadores doing business (aqueles que o Banco Mundial calculava) da China, em 2011, seu nível de investimento poderia seria 15% maior.
Desafios - Dizem que os jovens de hoje adoram ser desafiados. Só que existe um ardil: os desafios não são lá aquelas coisas. Tem que ler? Tem que pesquisar? Tem que elaborar? Então o desafio gera um desânimo, um súbito cansaço, um auto-diagnóstico de que veja bem, eu tomo remédios.
Eu também tomo remédios. E daí?
É verdade que há quem se mostre bem disposto a encarar um desafio quando há uma recompensa (e aí se pode debater se é em dinheiro, se é o status etc.). Mesmo nestes casos, eu vejo aquele olhar de tédio na cada do xovem (umas amigas minhas adoram usar o termo).
O ensino brasileiro pode até abrir mão de reprovar o aluno como uma política pública baseada em alguma pesquisa. Até aí, tudo bem. Só que a política da aprovação automática não tem que diminuir o apetite do jovem pelos desafios. Como se compensa a falta do desafio criada pela aprovação automática nestas políticas? Ninguém parece saber.
O desânimo, normalizado, sendo menos custoso mental e fisicamente, é como um vício barateado. Pais, cansados deste papo conservador e cristão (quiçá evangélico) de que criar filhos exige tempo, são aliados do vício. Na falta de verdadeiros desafios, transformam atividades banais em supostos desafios. Não comer capim já é um desafio premiado com elogios que se dariam a um agraciado com o Nobel de Medicina.
Experimente trazer um desafio que exija, de fato, investimento pessoal do tempo do desafiado, que faça com que ele encare o custo de oportunidade de deixar de ir à academia para trabalhar no desafio. Nem com a inteligência artificial ele topa o desafio.
Só lembro que se a produtividade não subir muito (e não é este o caso do Brasil, como os dados mostram), este jovem desanimado será o seu futuro médico, advogado, ou oficial de segurança. Não basta você fazer muita ginástica agora para garantir um corpo melhor equipado na velhice. Você vai precisar de muito tempo para achar um bom profissional porque, em um mercado de trabalho medíocre, são poucas as opções.
Ironicamente, este será seu desafio em alguns anos. Logo você, que achou que podia relaxar na cobrança aqui, mimar o menino ali. O boleto chegará e é bom estar preparado. Ou você pode tentar diminuir o tamanho deste passivo. Afinal, na velhice, um erro médico pode custar muito mais caro para sua saúde, né?
Utilidade Público-Privada - Não confunda a bandeira do Hamas com a do Líbano.
Ursos samurais - Ursos andam agitados no Nihon.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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