A pata do mico leão dourado (final eletrizante e esperado em todo continente!) - O SVB quebrou - Financiamento Quadrático - Outros despachos.
Evoé! Padre Bassareu! Evoé!
O v(3), n(22) está aqui, com a parte final tão esperada (tão esperada?) do A pata do mico leão dourado, o conto que levará seu autor à lista dos que jamais poderão sequer passar pela mesma calçada em que se encontra a Academia Brasileira de Letras. A propósito, o subtítulo vem do conto curtinho Uma Visita de Alcibíades, em Papéis Avulsos, de Machado de Assis.
A pata do mico leão dourado (final eletrizante e esperado em todo continente!) - Com você, a eletrizante conclusão de A pata do mico leão dourado, minha versão modificada de A pata do macaco, de W.W. Jacobs.
3.
Silva não ficou abalado com as notícias de corrupção sobre seu partido e rumou para a prefeitura para fazer sua mudança. Em poucos dias, ocupava o palácio do governador. A mulher e o filho estranharam um pouco a falta de preocupação do marido com os acontecimentos. Primeiro o prefeito, depois o governador? Isto poderia respingar nele. Pelo menos, esta era a preocupação da esposa. Silva não se importava.
De posse do governo do estado, seguiu em sua trajetória política, agora com mais recursos para comprar políticos e juízes. Sentia-se poderoso. A pata do mico leão dourado ainda poderia lhe dar um último desejo, o que começou a preocupá-lo. Pensou em pedir mais três desejos, mas, vai que isto poderia não ser das regras místicas? Além disso, Celsão não estava mais ali para lhe ajudar com isto.
Começou a praguejar por não ter pedido mais detalhes sobre o pajé para o falecido amigo. Passou a guardar a pata com muito cuidado. Não desgrudava dela, para os olhares horrorizados de alguns assessores e membros do gabinete que, vez por outra, pegavam-no com ela nas mãos, pensativo.
A dúvida sobre o último pedido começou a se tornar um problema. Chegava em casa nervoso, não dormia direito e começou a brigar com a família. A gota d’água aconteceu quando o filho morreu assassinado em um assalto e ele, apesar dos pedidos da esposa, sequer cogitou pedir à pata por sua ressurreição. Talvez não fosse mesmo uma boa ideia. Contudo, a esposa o abandonou, jurando nunca mais voltar a vê-lo.
O sr. Silva, à esta altura, não se importava muito com a esposa (nem com o filho…). Sua única preocupação era preservar a pata para seu último desejo. Seu descuido com outros temas que não o último desejo se estendeu a seu trabalho no governo que passou a lhe render problemas. A imprensa, até então, sua aliada, passou a criticá-lo. Mesmo os juízes que havia comprado buscaram se afastar dele. Acabou também perdendo alguns deputados aliados na Assembleia.
Com a mudança no cenário político veio o pedido de impeachment e o sr. Silva se consumia em dúvidas: o que a pata faria se ele pedisse a morte de seus inimigos? Tiraria algo dele? Bem, já não tinha filho e a esposa nem contato mantinha. E se pedisse para ser presidente? Bom, mas aí não teria mais desejos. Aliás, independentemente do que desejasse, aquele seria seu último pedido. Ele queria poder, mais poder. Foi quando percebeu o que deveria pedir.
“- Quero ser a pata do mico leão dourado”.
Neste instante, sua alma foi sugada para a pata. Em troca, seu corpo recebeu a alma do próprio demônio, que passou a governar o estado em seu lugar, vencendo o processo de impeachment. Alguns anos depois, entraria em campanha para a presidência.
O SVB quebrou - Do Substackverso, dois bons textos sobre isto. Há este, este e também este (no caso, é um dos tópicos). Um longo comentário é este, do Noah Smith.
Financiamento Quadrático - Faz tempo que não ouço o pessoal falar mais disto. Não conhece? Eis um resumo didático. Aqui, um estudo sobre o tema, considerando os incentivos à cultura no Brasil. Minha opinião? Precisamos de mais estudos. Você que gosta de inovações, dados, R (ou Python), bem, nem preciso terminar a frase…
Ah sim, o pessoal do Radical Exchange gosta tanto do tema que deixou um monte de dicas aqui. Veja, em especial, o texto do Vitalik Buterin. Neste aqui, a discussão - mais técnica - sobre financiamento de bens públicos. Veja também esta thread:
Mercados para todos - Um dos mais lucrativos, nos últimos anos, é lembrado por Barbara, aqui.
Há momentos em que o custo de se adotar crenças irracionais cai e, pela lei de demanda…
p.s. Às vezes, o negócio é mudar o nome das coisas. Por exemplo, a imprensa, agora, chama orçamento secreto de repasses sem transparência. Por que resolveram mudar o nome? É uma boa pergunta…
Elon Musk, o prefeito - Esta notícia fala de um suposto plano de Elon Musk de construir uma cidade. O tom da matéria é claramente anti-Musk (e eu não ganho para defender nem Musk, nem ninguém, é bom esclarecer), mas há um problema.
Ao mesmo tempo em que o articulista só vê problemas na iniciativa, ele também revela que não se sabe se Musk irá mesmo construir uma cidade (ironicamente, ele cita a ‘falta de transparência’ de Elon Musk). Ou seja, a matéria passa a ser pura especulação em torno de algum provável projeto do bilionário.
O autor perdeu a chance de fazer uma boa matéria investigativa.
Hesitocracia - Termo cunhado pelo Diogo Costa que retomei neste ensaio para um jornal local. Nunca é demais lembrar que instituições podem ser aperfeiçoadas para atender melhor seus financiadores. No caso do Estado, os cidadãos.
Econometria e o brasileiro talentoso - Uma ótima entrevista de um ex-aluno que se descobriu na econometria. Assista.
Deslocamento da Fronteira de Possibilidades de Produção? Temos. - Parece que a matriz energética pode ter novidades em breve.
Lançamentos de livros - Dia 17 de março é o lançamento, em São Paulo, do Liberalismo Econômico: estudos em homenagem a Roberto Campos. A professora Amanda deu as coordenadas aqui. Vá lá e lembre-se: o Brasil não vai se liberalizar sozinho…
Já no dia 14 de abril temos o lançamento do divertido Totolino, também em São Paulo.
Obrigado a você que me acompanhou até aqui. Sábado a gente se vê.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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