A Partida. Chipangu. Deus tá vendo. Cecília Meireles. Outros.
Vambora, vambora...tá na hora vambora vambora...
Sim, é o v(2), n(37). Que, em sua brevidade, este número lhe roube, ao menos, um sorriso.
Partida - Não havia jeito. Chegara mesmo o dia da partida. Do lado de fora da porta pôde ver a secretária, geralmente uma fonte interminável de alegria, agora, com ar soturno e expressão séria. A partida da diretora deixou a todos uma sensação de tristeza. Mas, muda-se a administração, mudam-se os diretores. Não seria diferente neste caso…
A sala, iluminada, mostrava ainda alguns papéis empilhados no canto, prontos para descarte. A despedida de uma sala de escritório é sempre uma oportunidade de se fazer uma faxina por tanto tempo adiada. Era o caso. Ao lixo iriam alguns materiais de propaganda, anotações esparsas e algumas balas de menta vencidas.
Por um instante, várias lembranças brotaram em sua mente. Desde o dia em que chegou para sua primeira missão sob o comando auspicioso da diretora, passando por diversas reuniões, até aqueles momentos finais que, de forma inexorável, deixavam claro que não haveria uma reviravolta. A história toda fora construída para que seu final fosse mesmo o da partida? Assim lhe parecia…
Esticou um pouco o pescoço e viu que a diretora esvaziava um último armário. Sendo notado, deu um discreto aceno com as mãos. Era pouco dado a despedidas. Além disso, sempre teve um certo temor de ser mal interpretado, o que o levava a falar pouco. Daí porque o simples aceno.
Voltou à sua mesa, na sala ao lado, e terminou a análise de uns novos relatórios entregues pela equipe no dia anterior. Corrigiu umas frases, remodelou uns parágrafos e deixou alguns comentários anotados. Achava que era sua função não só corrigir o texto alheio: gostava de se ver como alguém que ensinava a como evitar certos vícios de linguagem.
Enquanto lia o último relatório, ouviu a secretária chamar-lhe. Seria a última reunião com a diretora. Munido de sua agenda e uma nova caneta-tinteiro (que melhorava, segundo ele, sua terrível caligrafia), dirigiu-se para a derradeira. Dadas as instruções, fez anotações de um modo que, provavelmente, apenas ele entendia.
Ao final da reunião, tendo sido dispensado, dirigiu-se à sua sala e se sentou, concentrado no que anotara. Ocorreu-lhe que perdera a chance de perguntar à diretora sobre como poderia melhorar neste ou naquele aspecto. Aliás, teria feito um bom trabalho naquele tempo todo? Ou teria errado mais que acertado? Rabiscou algumas palavras ilegíveis em seu caderno e retomou suas tarefas, frustrado com sua notável perda de oportunidade.
Ao final do dia, seguindo a força do hábito, dirigiu-se à diretoria, para trocar algumas idéias sobre um projeto. Foi então que percebeu que as luzes estavam apagadas. A secretária, lembrou-se, já havia dele se despedido em algum momento. E também havia partido a diretora, privando-o da oportunidade de lhe fazer suas derradeiras questões.
Embora sempre se possa enviar uma mensagem pelo celular, o fato é que não cumprira sua função de se despedir apropriadamente das pessoas e isto, ah isto incomodava-o profundamente.
Através da janela teve a mais estupenda visão de um pôr do sol que jamais imaginou presenciar. Extasiado, não pensou em mais nada. Apenas se manteve imóvel, admirando o lento esconder do grande astro naquele belo horizonte.
Que felicidade única! Sem que percebesse, estava mais calmo. Também percebeu que já se havia sentado. Tentou relembrar do momento exato em que se cansou de ficar de pé, sem sucesso. Simplesmente não sabia o momento exato, nem aproximado. Só sabia que o sol, que acabara de partir, amanhã estaria de volta.
Fechando as persianas, apagou as luzes e também partiu.
Japão - Marco Pólo está no Internet Archive, em bela digitalização. Você talvez não saiba, mas o legal deste livro é que lá há uma das primeiras menções ao Japão pelo seu nome original (ou pelo menos como o viajante ouviu). Chipang, Zipang, Chipangu, enfim, este era o nome do Japão (Nippon) para os leitores ocidentais.
A nota de rodapé que reproduzo a seguir é muito interessante.
Pois é. Japão, meus caros. Agora, imagine se prevalecesse o toyo-ashi-wara-no-chi-aki-no-nagai-ho-aki-no-mizu-ho-no-kuni como nome do país?
p.s. Alguém sabe se a animação Zipang, aquela em que um navio das SDF japonesas é transportado para o passado e faz uma zoeira na Segunda Guerra Mundial, foi comercializado e/ou está em algum streaming de fácil acesso?
Reflexões Irresponsáveis - Penso que não é, necessariamente, uma piada.
Deus tá vendo - Vamos chamá-la de Marina. Preservo, assim, o anonimato da minha colega. Foi assim: eu acabava de pagar meu almoço na cantina quando ela chegou dizendo que…iria pagar meu almoço.
Depois caiu na risada e me disse que, obviamente, já tinha me visto transferir meu suado dinheirinho para o dono da cantina por meio da eficiente máquina de cartão com pagamento por aproximação.
Rimos um bocado com a história, mas, sabemos, quem ri por último… ri melhor. Assim, ao pedir uma água de côco, qual não foi nossa surpresa quando o atendente lhe disse que o produto estava em falta...
Desnecessário dizer que eu, rindo muito, lembrei à Marina que a justiça divina tarda, mas não falha. Ainda mais agora, que temos o 5g(od).
Quem ri por último, ri melhor!
Cecília Meireles - O Adalberto, quase sem voz, deu um depoimento incrível, digamos, 'ceciliano’, nesta sensacional live com uma das netas da inesquecível Cecília Meireles. Não só se emocionou, mas também a mim. Por um bom motivo (e não, não dou mais spoiler).
Dicas de Higiene da Newsletter - Não esfregue muito seu rosto na tolha porque…
Arroz à piamontese - Eu sei que é importante discutir os vencimentos da elite do funcionalismo público. Mas, que tal, assim, por acaso, a gente deixar isso de lado e ocupar nosso tempo discutindo o arroz à piamontese (ou à piemontese)?
Em Piemonte, não existe ‘arroz à piamontese? Assim me disse, taxativamene, um italiano. Quem sou eu para dizer não? Eu, que jamais fui à Itália e que não gosto de macarrão (massa) com molho de tomate, o que posso dizer?
Mas foi um italiano - e um bem chato - quem me disse. Levo isso a sério. Respeito a opinião do italiano, claro. Ainda mais se o sujeito é ranzinza (é este o caso). Neste momento, então, ocorre-me que nossa justiça anda muito leniente. Por que não processam os restaurantes?
Esta é fácil. Porque é mais fácil perseguir poucos e famosos, ora…
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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