O v(4), n(16) chega um pouco mais tarde, hoje. Mais tarde e um pouco menor porque o tempo andou bem apertado nos últimos dias. Prometo trabalhar para corrigir isto no próximo número. Boa leitura!
A otimista - Ela era uma otimista incorrigível. Parece que isto surgiu como um efeito colateral dos remédios que tomava desde a queda do Muro de Berlin que deu início à sua depressão. Eu a conheci em uma destas viagens que a gente faz nas férias, sem grandes pretensões. Quando a vi, ela conversava com um mendigo que lhe pedia esmola (e ela, claro, não queria tirar o escorpião do bolso).
“- Pô, Míriam, a inflação está que o bauru tá os olhos da cara.
- Ora, o preço do bauru e isso pode ser bom para você.
- Como, Míriam?
- Ué, você come menos.
- Míriam, eu não tenho dinheiro para comer mais que um bauru.”
Fiquei encantado com o comportamento “Poliana” da Míriam. Tanto otimismo! Aproximei-me dela e não demorou muito a nos tornarmos amigos. Passamos a sair por aí, despretensiosamente, conversando…e seu comportamento era sempre o mesmo.
“- Míriam, acho que teremos que aguardar o reboque. Puxa, carro novo…
- Ué, Claudio, sem problema. Um carro novo estraga mesmo e isso pode ser bom para você.
- Como?
- Você vai andar mais a pé.
- Então vamos, Míriam, que o restaurante não fica a mais de 1 quilômetro.
- Você pode ir, mas eu vou de Uber.
- Você não disse que Uber era ruim porque o governo não tinha dado poder aos sindicalistas, Míriam?
- Disse, mas eu não faço uso do sindicato, sou PJ. Agora, no seu caso, é diferente e ter um sindicato te cobrando anuidade pode ser bom para você.
- Sei não, Míriam.
- Vai por mim, mas vai a pé que eu vou de Uber.
- E como isso vai ser bom para mim?
- Ué, Claudio, fácil. Você vai emagrecer.
- E você?
- Não tira do contexto, Claudio.”
Sim, Míriam tinha um padrão bem peculiar de “contextualização”. Sempre que favorecia sua religião, valia a análise isenta, científica. Caso contrário, prevalecia esse seu “lado Poliana”. Ah, Míriam…que mulher peculiar!
Houve, então, aquele dia em que fomos almoçar - havia um clima entre nós, confesso - no restaurante japonês. Ali foi a gota d’água que nos levou ao fim da amizade em que só ela sabia o que era bom para mim.
“- Vou pedir um tirashizushi, Míriam.
- Um o quê?
- É um prato que tem arroz de sushi e uns sashimis.
- Ah, entendi…mas acho que vou pedir outra coisa.
- Pensou em algo?
- Sabe, Claudio, eu não gosto deste negócio de peixe cru…
- Olha, peixe tem ômega 3 e saiba como isso pode ser bom para você…
- Que brincadeira sem graça! Virou fascista agora? Misoginia não!
- Como assim, Míriam? Você fala isso o tempo todo para mim. Você consegue viver com isso, não consegue?
- Isto é algum tipo de piada? Porque, se for, é uma das piores que já vi. Acho que você se esqueceu da luta histórica das mulheres…
- Dar um tempo e curtir a vida: saiba como isso pode ser bom para você.
- Chega! Não vou aguentar tanto desrespeito!!”
Sob os olhares espantados do pessoal que estava no restaurante, Míriam se levantou bufando - quase babava de tanto ódio - jogou o guardanapo sobre a mesa e saiu gritando que, se pudesse, iria me jogar em um tacho de óleo quente (e eu não sei, mas acho que isso poderia ser bom para mim).
American Fiction - É um filme que começa bem, é relevante, desmistifica muito da paranóia da extrema-esquerda moderna, tem ótimas atuações, mas tem um final fraco. A sensação que dá é que os roteiristas não souberam como terminar o filme. Geralmente sou averso a novas versões, mas esta, pelo potencial desperdiçado no final, merecia uma nova versão.
Livro novo - Alexandre Soares Silva é, agora, oficialmente, autor de livro novo. Feérico Luar no Copacabana Palace pode ser o início de uma nova fase do autor. Também pode não ser. Digamos que é 50% para cada e que nada disso importa. Sim, meu livro virá, mas pelos Correios que o ministro do “des-trabalho” acha mais eficiente do que a Uber (acha da boca para fora, claro, hipocrisia não falta em Brasília…).
Música, maestro! - Eu me diverti bastante com esta IA.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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