A doença do custo. Mais Dr. Palhinha (mas não de minha autoria). Liberdade de Expressão. Discriminação. Fitas, Bolachas e Catataus... e Eu. Morlocks.
Quanto tempo nos resta? Não sei. Mas nunca é o suficiente, Jack. Nunca.
Bem-vindo ao v(2), n(69) desta newsletter. Espero que você esteja bem. Eu estou sendo assediado por diversos políticos porque minha participação no FiBoCa (mais sobre isso em instantes) despertou a atenção da mocidade brasileira e já saltei de zero para uns trinta por cento no último levantamento do datashiki. Até Juó Bananére me procurou!
Vamos, então, aos impropérios de hoje. Espero que se divirta.
A doença do custo - A doença do custo ou cost disease é um termo trazido à atenção dos pesquisadores com o trabalho do falecido William J. Baumol em coautoria com eu xará, William G. Bowen.
E o que seria esta ‘doença’? É que alguns setores da economia apresentariam uma característica de aumento da remuneração dos insumos (fatores de produção) sem o correspondente aumento na produtividade.
Tyler Cowen e Robin Grier explicam-na, no contexto das artes.
“O argumento da doença do custo estabelece que as forças de mercado causarão um encolhimento dos setores trabalho-intensivos como percentual do produto interno bruto, com o crescimento econômico. Salários reais crescentes aumentam o custo de oportunidade da produção artística. Salários não crescem proporcionalmente no setor de performance artística porque o progresso tecnológico, supostamente, favorece os setores capital-intensivos”. [COWEN, T.; GRIER, R. Do Artists Suffer from a Cost-Disease? Rationality and Society, v. 8, n. 1, p. 5–24, 1996. (tradução de trecho na p.6 do artigo)]
O leitor talvez já tenha ouvido falar da tendência dos gastos em saúde de crescerem mais que o PIB. Provavelmente, é resultado da doença do custo de Baumol e a solução passaria por rediscutir a eficiência dos gastos (veja, por exemplo, esta apresentação).
Percebe-se que uma discussão derivada da consideração da doença do custo é a da sustentabilidade do formato atual do Estado de Bem-Estar Social dos países. Discussão difícil, mas inevitável pois os dados não apontam para uma realidade fácil.
Doutor Palhinha - A Anny Manrich escreveu um mini-conto do Dr. Palhinha. O divertido investigador que resolve casos usando estereótipos e preconceitos é, para mim, uma das melhores criações do Alexandre Soares Silva.
Ah, seu Miura…
O doutor Palhinha merecia uma série só dele, para a televisão. Mas, olha, falar livremente na telinha é algo que o meio artístico achava importante nos anos 60-70. Não está muito na moda mais, infelizmente. Será que, hoje, o doutor Palhinha conseguiria uma série fiel à premissa do modus operandi do personagem?
Liberdade de Expressão - Aliás, sobre este tema, concordo com o que diz o Gustavo Maultasch em seu recente livro (minha resenha do livro está aqui). O autor gostou do termo que usei, no texto, para me referir aos intolerantes de hoje: 'neocensores' (em correspondência privada, nunca poderão vocês saberem se inventei isto ou não. <inserir risada sarcástica>
Discriminação, mas do Bem - Incrível como certas discriminações sejam toleradas, enquanto outras são até incentivadas.
Já imaginou se, digamos, Shakeaspeare ou Sylvia Plath tivessem obras jogadas para o final da fila por conta de ‘marcadores’ genéticos?
A propósito, a Alemanha, de 1933, também não era um bom mercado para a publicação de um livro de um judeu. ‘Só avisando’, diria a agente literária, fraulein Schwarzkopf, provavelmente com um sorriso maroto.
Orlando Tosetto - Eis um trecho maravilhoso do último número da news do Orlando (https://orlandotosetto.substack.com/).
Na França, o pão francês se chama apenas “pão”.
Em Milão, o bife à milanesa se chama apenas “bife, cazzo, bife!”.
Em Portugal, a pizza portuguesa se chama “pizza cá da terra”.
Em Bolonha, o molho à bolonhesa se chama “molho, cazzo, molho!”.
Em Cuba, o filé à cubana se chama “Temos aqui este excelente sucedâneo, 36% carne”. É o mesmo nome na Venezuela e, a partir do ano que vem, também na Argentina.
Em Parma, o bife à parmigiana se chama “ma já num falei que é bife, Dio santo?!”.
Em São Paulo, o virado à paulista se chama “virado à paulista”, porque dificilmente quem pede e quem faz são paulistas.
Em Tóquio, o sushi com goiabada, cream cheese ou geléia de pimenta se chama “Kono bakana burajiro no hito ô koroshimashô” (“Vamos matar esse brasileirwo idiota”).
E em Nápoles, o sorvete napolitano se chama “Mannaggia, eu falo grego, por acaso?!?”.
Sensacional, não? Quem não assinou, aproveite. Ele continua a cobrar R$ 0.00 por esta divertida pílula de humor semanal.
FiBoCa - Pois é. Na última quinta-feira eu conheci pessoalmente três pessoas que acompanho há algum tempo. É que, após um bom tempo participando como espectador, agora, lá estive eu como convidado no Fitas, Bolachas e Catataus.
Vale mencionar que graças a este programa, voltei a comprar (e, mais importante, ler) ficção. As dicas do trio Luigi, Carlos e Filipe me levaram a novas leituras. Juó Bananére? Conheci pelo Luigi. Campos de Carvalho? Culpa do Carlos. Isso para mencionar uma ínfima parte da renovação que tenho experimentado. Daí que ser convidado foi uma surpresa e já não tenho idade para deixar passar oportunidades como esta.
Conversando com eles senti aquela paz cristã que não vejo há anos entre os…cristãos. Uma sensação boa e, penso, necessária. O melhor é que tudo terminou em pizza. Mais especificamente, em duas pizzas divididas em quatro sabores (espertamente, peguei a última fatia da de calabresa…mal educado…).
A conversa rendeu, como poderá o leitor testemunhar no vídeo a seguir.
Ah sim, da ‘cola’ que levei, faltaram mencionar alguns tópicos. Então, aproveito para complementar.
Primeiro, a minha comédia romântica favorita (já mencionei aqui, creio), É triste ser homem (melhor tradução seria: “é difícil ser homem”) com Kiyoshi Atsumi, Chieko Baisho e demais (o elenco foi o mesmo por toda a longa série de filmes).
Também não mencionei Lafcadio Hearn, o grego que se naturalizou japonês e escreveu Kwaidan (pronúncia: Kaidan). Este vale ser lembrado porque mencionamos o filme - que é uma fiel adaptação do livro.
Sobre música, não falamos muito porque ninguém conheceria, mas, seguindo o método do Filipe de sempre deixar uma lista de nomes, recomendo ao leitor que procure pelos cantores Itsuki Hiroshi, Sen Masao, Miya Shiro, Atsumi Jiro (Jirou); e pelas cantoras: Sakamoto Fuyumi, Fuji Ayako, Miyako Harumi, Misora Hibari. Isto para se iniciar no universo Enka.
Há outros bons cantores do Kayou (que engloba o Enka, mas é mais amplo, algo como uma “MPJ”). Por exemplo, Kyu (Kyuu) Sakamoto, da música que ficou conhecida no ocidente como ‘sukiyaki’, embora este não seja, de forma alguma, o nome (nem o tema) da canção. Kawashima Eigo é outro bom cantor dos anos 70-80. Nakajima Miyuki é uma ótima cantora e compositora. Finalmente, Ishihara Yuujiro e Kayama Yuuzo fizeram a alegria dos mais velhos em filmes e canções românticas.
Tem muita mais por aí e esta seleção é bem viesada. Tome-a como sugestão (e nem falei da música folclórica…).
Ah, e fontes fidedignas afirmam que a audiência foi maior que a dos telejornais. Obrigado, Filipe, Carlos e Luigi. Foi sensacional.
p.s. Ah sim, o carro do motorista que me levou até lá tinha nas letras da placa um belo FBC. Eu não poderia ter inventado esta, nem que quisesse. Por outro lado, perdi a chance de fazer um meta-super-chat com uma pergunta para mim mesmo. Tomara que outros convidados aproveitem a idéia (eu já falei que não ligo para o novo acordo ortográfico?)…
Morlocks (Mas o que é isso, Yvette??) - Ah, os filmes da ‘sessão da tarde’…
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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