A cachaça dos políticos e o imposto - Inteligência Artificial? 42! - Outros assuntos.
Cadê minha xícara verde, Cecília?
Bem-vindo ao v(3), n(32) da newsletter. Ah sim, A Xícara Verde é um ensaio de Cecília Meireles que, creio, você encontra por aí, na internet (ou no livro Ilusões do Mundo, da mesma autora).
A cachaça dos políticos e o imposto - A diferença entre incidência legal e econômica de um imposto é simples: não é porque uma lei qualquer diz que o imposto deve ser recolhido pelo vendedor que isto significa que seu montante será integralmente financiado pelo mesmo. Como assim?
Ninguém paga impostos se não comercializar o produto taxado. Óbvio, não? Qualquer um que já tenha sentido na pele a vida do comércio sabe disto. Nem precisa ir para a faculdade aprender sobre o tema.
Suponha que você venda cachaça (políticos adoram cachaça!) a R$ 100.00 a garrafa. Com este preço, sem interferência do governo, você vende, digamos, 100 garrafas desta cachaça por mês. Com você há mais uns tantos outros que também vendem esta mesmíssima marca de cachaça.
Subitamente, o governo resolve cobrar um imposto em sua forma mais simples (e didática): a qualquer preço, agora há um imposto de R$ 10.00. O imposto, aliás, será recolhido pelo vendedor (as receitas estaduais fazem isto muito bem, com sua fiscalização eletrônica no ato da compra/venda).
Digamos que os políticos sejam viciados nesta marca de cachaça. Isto quer dizer que estão dispostos a pagar (quase) qualquer preço para ter uma garrafa destas em sua mesa (ou na gaveta, porque senão pega mal para a imprensa, caso ela não tenha recebido seu dízimo do mês…).
Assim, os vendedores podem repassar boa parte do imposto para os políticos-consumidores. O mercado encolhe um pouco (com alguma diminuição na quantidade comercializada) e o aumento do preço (os R$ 10.00 adicionais de imposto) são recolhidos pelos vendedores. Contudo, como os políticos-consumidores são viciados nesta cachaça, pode ser que paguem um bom percentual destes R$ 10.00.
Pode ocorrer, por exemplo, dos vendedores receberem, ao final, R$ 98.00 por garrafa vendida, em um mercado no qual, agora, apenas 95 delas são vendidas. O preço pago pelo consumidor, digamos, é, agora, de R$ 108.00. Neste caso, os R$ 10.00 de impostos terão sido divididos da seguinte forma: R$ 8.00 pagos pelos consumidores e R$ 2.00 pelos vendedores.
Simples, não? Ainda assim, há quem insista no erro e diga que se o imposto é, legalmente, recolhido pelo vendedor, apenas ele é afetado. Errado, desinformativo (ou, se quiser, fake news). Claro, meu exemplo seria mais engraçado se os mesmos políticos-consumidores fossem os responsáveis, no início, pela criação do imposto…
Não custa nada relembrar este exemplo clássico dos primeiros capítulos dos livros-texto de Economia, destes que se usam no primeiro ano dos bons cursos de Ciência Econômica.
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Inteligência Artificial? 42! - o Diogo Costa, CEO do Instituto Millenium, escreveu um artigo interessante sobre os defeitos do modelo regulatório que alguns têm defendido para lidar com a inteligência artificial (IA). Imagino que seja aberto apenas para assinantes (ou não).
O tema tem sido alvo de conversas entre alguns professores universitários e eu mesmo usei a IA para obter respostas para uma pergunta simples: como a IA pode ajudar em cursos nos quais o aluno deve fazer uma monografia ao final do curso? A IA me deu ótimas dicas (que já repassei a meus colegas localizados em diversas faculdades de Economia).
Não é uma pergunta original, eu sei. Contudo, é uma pergunta importante para quem se preocupa com o ensino. O valor adicionado de um diploma de alguém que não consegue fazer a pergunta certa e, muito menos, interpretar sua resposta, será, em um futuro não muito distante, bem menor.
Mais do que nunca é bom lembrar do clássico de Douglas Adams, o famoso O Mochileiro das Galáxias. Acha que é coisa de nerd e não vai ler? Pior para você. Como não sou de contar como termina o livro, eis minha pista: 42. Pergunte ao Google ou ao ChatGPT ou a alguém que tenha lido o livro e descubra o porquê da importância do 42.
Dica: se você não sabe o que perguntar, não saberá interpretar a resposta.
O ofício - Comprei (indicação da Cibele Bastos. Valeu, Cibele!) o livro de Serguei Dovlátov. Agora é começar a ler.
Drummond espertão? - Ou somente humano? Quando um aluno me perguntar o que eu achei do projeto de pesquisa dele e eu disser surpreendente, você já sabe…
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Estou tentando me lembrar se em nossas conversas você já disse que eu falei algo “surpreendente”… risos!