2024 chegou em altas ondas - Burrão, burrona - Osamu Dazai - Pom-Pom - Outros.
Do espírito criador do céu e da Terra eu recebi a alma pela qual eu sou o que sou.
Bem-vindo(a) a 2024.
Começamos o v(4) n(1) (primeiro número do quarto volume (anual) desta missiva). No dia em que faço a primeira revisão no rascunho, o Japão sofre com um terremoto em sua costa ocidental. A sorte é que não houve tsunami, mas alguns feridos e mortos foram contabilizados. O leitor verá que o evento me fez pensar um pouco sobre o tema.
O subtítulo veio do livro A Essência do Xintoísmo, do monge Motohisa Yamakage (lê-se Yamakague).
2024 chegou em altas ondas - Foi só o ano começar e a costa ocidental do Japão foi acordada com um terremoto que despertou o alerta de um tsunami.
Até o fim desta newsletter, acredito, o alerta terá passado e o problema terá sido apenas o terremoto (nota: ainda contabilizam por lá os vitimados). Os alertas de emergência, no Japão, contrastam com os do Brasil. As autoridades não se furtam a prestar informações no canal oficial, NHK e as notícias são constantes.
Quando há um deslizamento de terra, digamos, em Petrópolis, o canal de TV pública transmite alertas? Ou entrevistas com autoridades informando sobre tudo? Canais públicos de TV custam caro ao bolso do contribuinte. A NHK, na minha opinião, paga este custo.
Burrão, burrona - Reparei como o noticiário japonês faz uso de gráficos - e nem sempre são gráficos simples - rotineiramente. Também noto como, em contraste, no Brasil, o número de sessões de filmes legendados tem perdido para os dublados. Como assim, contraste?
É que estou contrastando a qualidade do capital humano de duas sociedades: uma que insiste em manter o nível e outra que, como pais preguiçosos que não impõem limites aos filhos, não acompanham o progresso de seu ensino, usa de tudo que é pseudo-ciência para baixar o nível.
“- Ah, mas a demanda é esta. O povo sai da escola sem saber inglês (ou gráficos")…melhor se adaptar”.
É, você pode seguir a demanda e até comer alfafa se for o caso. Não está errado. Só que você pode tomar outro rumo, ter iniciativa e agir. Assistiu o Godzilla Minus One? Pois eis um spoiler: quando do ataque do monstro, o povo de Tokyo resolve se unir para enfrentá-lo. O governo do pós-guerra está paralisado com a geopolítica e a ocupação, o exército perdeu a credibilidade e, bem, há um monstro destruindo tudo. Sobrou para cada um trabalhar em um plano para salvar a capital da fúria do monstro.
Sim, você pode parar de tentar e dizer: “- É a demanda! Não posso fazer nada!” e esperar a morte com tranquilidade. Ou pode tentar vencer a ameaça. A escolha é única e exclusivamente sua e ninguém pode julgá-lo por isto, exceto sua consciência. É simples e tão comum quanto aqueles pais que não colocam limites nos filhos(as) porque, “- veja, ele(a) é assim mesmo”. Conheço um que, inclusive, já saiu por aí dizendo que não poderia qualquer um ser pai. Acho que nunca parou para pensar no abandono de seus deveres de pai.
Sociedades têm indivíduos que empreendem (de verdade, correndo riscos) buscando melhorar este ou aquele aspecto da vida e também há aqueles que preferem se acomodar, deixando que alguém decida por eles. Só Deus te julgará (ou deuses, enfim, cada um com sua crença).
Só que não precisa de muita filosofia para saber o que fazer, precisa?
Osamu Dazai - Primeira tentativa (aos 20 anos): engoliu uns comprimidos e ficou em coma. Safou-se. Segunda tentativa (21 anos): tomou uns soníferos, mas não morreu. Terceira tentativa (26 anos): enforcou-se em uma árvore, mas a corda se rompeu. Última tentativa (39 anos): saiu para beber com sua namorada e vaguearam até um rio. Foram encontrados afogados.
O resumo veio do A morte voluntária no Japão, de Maurice Pinguet e mostra que Dazai era muito desastrado, azarado, displicente ou, o que acho mais provável, uma combinação das três…
p.s. No início dos anos 2000, um ex-aluno, Rafael, trouxe seu entusiasmo ao tema da economia do suicídio. Terminou em um artigo.
Pom-Pom - Pom-Pom era um gato feliz. Adotado ainda pequeno pela pequena e, talvez por isto, calorosa família Kishida, morava em uma província da costa ocidental japonesa de onde se podia ver o belo Mar do Japão e imaginar o quão belo poderia ser o continente.
Seus pelos vistosos, sempre escovados com cuidado pela Sra. Kishida, formavam um misto de cinza das nuvens da época da chuva e do laranja vistoso que se vê nas melhores larajnas mandarim. Para que não se perdesse, deram-lhe um guizo que vinha acompanhado de uma pequena placa com o endereço da família.
Não tinha, na família um melhor amigo. Todos o tratavam muito bem com rações variadas, muito carinho e passeios semanais com a pequena alegre e carinhosa Nana, que, quando do ocorrido, tinha seis anos. A despeito da idade, cuidava muito bem de seu gato. A caixa de areia era limpa pelo menos duas vezes por dia e a tigela de Pom-Pom sempre tinha alguma ração regular e alguma surpresa.
Ocorrido? Naquela bela manhã de Ano Novo, Pom-Pom estava no quintal, distraído com um brinquedo velho deixado ali - não se sabe se propositalmente ou não - pela Sra. Kishida após a limpeza de final de ano. Tratava-se de uma velha bola de plástico envolta com algumas camadas de corda que Pom-Pom tentava destruir quando ouviu um barulho forte. O sol ainda se firmava sob as bençãos do novo ano…
Alerta - como são todos os gatos - Pom-Pom parou de brincar e se posicionou com as quatro patas apoiando seu corpo. Bem, quase apoiando, pois sentiu que o chão tremia. Instintivamente pensou em correr para a cama de Nana, mas o terremoto foi mais rápido e a casa desabou bem à sua frente. Pom-Pom, assustado, corria para um lado e para o outro e acabou por se esconder próximo ao que, até então, havia sido o pequeno muro de pedra da entrada de seu lar.
O tremor intenso durou pouco e ele resolveu se arriscar em busca de alguém. Não ouviu vozes vindas do que agora era um amontoado pedra, madeira, eletrodomésticos e mais uma infinidade de objetos e roupas. Miou por alguns minutos, na esperança de obter alguma resposta, sem retorno. Pom-Pom percebeu que estava só.
Viu alguns vizinhos se aproximarem dos destroços gritando com a mesma intenção de obter alguma resposta, por mais fraca que fosse, mas a triste nova realidade que atingiu Pom-Pom não mudou naqueles poucos minutos. Pom-Pom se escondeu em um canto do quintal, temeroso das maldades humanas que bem conheceu em seus difíceis tempos de filhote nas ruas da cidade. O esforço dos vizinhos foi em vão.
Alguns dias se passaram e a fome incomodava o pequeno Pom-Pom que ainda se recusava a sair daquilo que havia sido seu lar por tanto tempo. Alguns vizinhos passaram a lhe trazer água e alguns restos de comida. Triste, ele se alimentava, mas com certa má vontade. Perdeu algum peso e passava os dias deitado olhando para os destroços que aos poucos eram empilhados e levados embora pela equipe da defesa civil. Seus pelos vistosos, aos poucos, tornavam-se opacos como a pele dos mortos.
Sayaka Yamada, colega de Nana no colégio, morava a algumas casas de distância, na mesma rua. Foi ela que conseguiu se aproximar do triste e enfraquecido Pom-Pom, com uma gaiola e o levou para o que seria seu novo lar pelos próximos anos. O moribundo felino sequer teve forças para resistir.
Tratado com bons remédios, alimentos e amor, Pom-Pom foi feliz com os Yamada, é verdade. Os terremotos não mais lhe causaram dor em seu pequeno, mas forte coração. Todos os anos, até sua morte, por causas naturais, no dia primeiro de janeiro, o sempre alegre Pom-Pom podia ser visto pensativo, no quintal, olhando em direção à sua antiga casa. Durava este pequeno ritual cerca de quinze minutos, não mais.
Empreendedor - Uma simples explicação sobre o que é ser um empreendedor.
The problem of transaction costs provides the key reason why entrepreneurship is so important: all over the world, ‘stuff’ is in the wrong place. That is why people exchange: I want something you have more than you want it, and you want something I have more than I want it. If we exchange, we will both be better off, with the same amount of stuff. Why is stuff in the wrong place? The answer is transaction costs.
Tirei do ótimo The Sharing Economy, do não menos ótimo Michael Munger.
Pé frio - Só falta ela dizer que jogou e não ganhou na mega da virada.
Harvard finalmente fez o certo - Plágio é crime e a reitoria, em uma universidade séria, não pode ser ocupada por plagiadores. Harvard tenta se redimir. Não sei se será um recomeço.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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